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8. Microscopia eletrônica |
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Masc. 19 a. Clique para história clínica, RM, lâminas escaneadas, destaques da microscopia, HE, Masson, reticulina, destaques da imunohistoquímica, para glia (GFAP, VIM, S-100), para neurônios (SNF, NF, cromogranina, NeuN, tubulina, MAP2, CD56), para antígenos musculares (1A4, HHF-35), para CD34, Ki-67, p53 e microscopia eletrônica. Comentário. |
Fragmentos do material de reserva em formol foram processados para microscopia eletrônica segundo o protocolo usual 10 dias após a fixação inicial. Os resultados justificaram a tentativa, pois há preservação aceitável (embora não perfeita) de membranas e organelas. Permitem avaliar a ultraestrutura das células neoplásicas e suas relações com o interstício hidratado, rico em fibrilas conjuntivas. Estruturas lembrando sarcômeros no citoplasma ajudam a situar o tumor entre os raros sarcomas do sistema nervoso central. |
Destaques da microscopia eletrônica. | ||
Aspecto geral. Células de contorno irregular, com prolongamentos, em meio a matriz hidratada e fibrilar | Células neoplásicas - núcleo grande, nucléolo proeminente, citoplasma escasso com poucas organelas | Filamentos citoplasmáticos com estriações transversais lembrando miofibrilas |
Junções intercelulares do tipo 'adherens' | Membrana nuclear. Dobras criando pseudoinclusões; pinçamentos criando 'satélites' de cromatina | Matriz intersticial. Filamentos entrelaçados semelhantes a proteoglicanas e fibrilas colágenas |
Axônios pré-existentes, isolados pela infiltração neoplásica | Sinapse. Idem | Astrócitos reacionais, com prolongamentos ricos em filamentos intermediários. |
Destaques da HE, colorações especiais e imunohistoquímica | ||
Aspecto geral. Em aumento fraco, as células neoplásicas mostram desproporção núcleo-citoplasmática (núcleos grandes, não raro com nucléolos, e citoplasma escasso), têm contorno altamente irregular e situam-se em meio a abundante matriz intersticial frouxa e fibrilar. |
Células
neoplásicas.
A célula neoplásica prototípica possui um ou dois núcleos volumosos, com cromatina bem distribuída e nucléolo proeminente, como notado em HE e tricrômico de Masson. Há flagrante desproporção núcleo-citoplasma. O contorno da membrana nuclear é geralmente regular, mas em certas áreas é lançado em profundas dobras que contornam lingüetas citoplasmáticas, criando pseudoinclusões intranucleares. |
Núcleo
grande, nucléolo proeminente.
Muitas células neoplásicas, tanto em microscopia óptica como eletrônica, exibiam nucléolos volumosos. O nucléolo é a organela onde são organizados componentes dos ribossomos, depois transportados ao citoplasma para realizar a síntese proteica. A proeminência do nucléolo é compatível com alta produção de proteínas pelas células tumorais. |
Citoplasma.
O citoplasma era relativamente escasso em setores da periferia da célula, mas às vezes formava acúmulos em indentações do núcleo. Era relativamente pobre em organelas, especialmente mitocôndrias. Destacava-se o retículo endoplasmático rugoso e ribossomos livres ou em rosetas. Áreas claras ou vacúolos irregulares eram de natureza incerta, mas poderiam representar dilatações do retículo endoplasmático liso ou organelas tumefeitas. Várias células continham filamentos lembrando miofibrilas, discutidas a seguir. Não se notava membrana basal em torno das células. |
Nesta
célula,
o citoplasma era mais abundante e continha numerosos elementos do retículo endoplasmático rugoso. Na face citosólica das cisternas observava-se material proteico amorfo. |
Agregados filamentosos lembrando miofibrilas. Talvez o achado mais notável em microscopia eletrônica foram formações filamentosas com estriações transversais eletrodensas, situadas na periferia do citoplasma, paralelas à membrana plasmática. O arranjo lembrava miofibrilas do músculo estriado, mas naquelas há também filamentos mais espessos e eletrodensos de miosina, ausentes no presente espécime. As estruturas foram encontradas em várias células (cerca de 6 ao todo nos campos examinados, restritos a pequena parte da amostra), indicando não se tratar de fenômeno isolado. |
Agregados
filamentosos em dobra da membrana nuclear.
Nesta célula, uma dobra da membrana nuclear aprisionou um conjunto de filamentos lembrando miofibrilas, que se mostram distorcidos e seccionados em vários ângulos. |
Os
filamentos com estriações
não são exatamente superponíveis às miofibrilas de músculo esquelético, nem ao músculo liso, onde não há estriações. A suposição de que se trate de filamentos de actina inseridos em linhas Z contendo alfa-actinina é apoiada pela imunohistoquímica, através da positividade para 1A4 (actina de músculo liso) e HHF-35 (actina muscular específica). |
Correlação
entre microscopia eletrônica e imunohistoquímica mostrando filamentos imitando estruturas musculares e positividade citoplasmática para actina (anticorpos 1A4 e HHF-35). Clique para mais detalhes. Os filamentos foram seccionados em múltiplos ângulos, e é de se supor que sejam mais abundantes do que os demonstrados aqui em corte longitudinal. Os cortados transversalmente seriam de identificação mais difícil. |
Junções
intercelulares.
Neste sarcoma observamos vários exemplos de junções intercelulares. A morfologia é sugestiva de junções aderentes (adherens junctions), que conectam feixes de actina de células vizinhas. As proteínas de adesão transmembrana pertencem à família das caderinas, e aparecem como duas faixas eletrodensas, uma em cada das membranas justapostas. As proteínas transmembrana têm dois componentes: uma cauda citoplasmática que se liga às proteínas intracelulares de ancoragem (no caso, actina); e um domínio extracelular, que interage com proteínas semelhantes das células vizinhas. Para breve texto sobre junções celulares, clique. |
Pseudoinclusões
intranucleares.
Estas resultam de dobras da membrana nuclear que são preenchidas por lingüetas citoplasmáticas, contendo organelas como ribossomos, retículo endoplasmático rugoso e, no presente caso, filamentos do tipo muscular. Curiosamente, ficam restritas só a uma área de membrana nuclear, sendo o restante da mesma lisa. São também vistas em microscopia óptica com HE e imunohistoquímica para componentes citoplasmáticos, como vimentina e MAP2. |
Irregularidades
da membrana nuclear,
que criam as pseudoinclusões (acima), são extremamente caprichosas e elaboradas em alguns núcleos. Chegam a causar pinçamento de ilhotas de cromatina ('satélites'), sem comunicação com o restante do núcleo naquele plano de corte (possivelmente haveria comunicação em outros planos). |
Matriz
intersticial.
O encontro de abundante substância amorfa entre as células neoplásicas, corada em azul no tricrômico de Masson, foi o primeiro achado que sugeriu o diagnóstico de sarcoma no presente caso. Em microscopia eletrônica, o material entre as células é hidratado (rico em água), e composto por um emaranhado de filamentos de diferentes espessuras e texturas. |
Filamentos
do interstício.
Apesar da coloração azul no Masson, não foram encontradas fibrilas colágenas com as características estriações transversais com periodicidade de 67 nm. |
Filamentos do interstício. Observam-se basicamente duas variedades. A mais facilmente notada é de filamentos mais espessos e recurvados, dispostos casualmente sem formar feixes. O aspecto ultraestrutural sugere o das proteoglicanas (ou agregados de proteoglicanas), que são constituídas por glicosaminoglicanas ligadas por uma extremidade a um eixo central de cadeia proteica ('core'). Lembram lagartas, taturanas ou centopéias. Entre estes filamentos espessos e frouxos há outros mais finos, tendendo a retilíneos, que lembram fibrilas colágenas. Porém, não conseguimos identificar estriações transversais. Para sites tratando da estrutura das glicosaminoglicanas e proteoglicanas, clique (1) (2). |
Axônios.
Entre as células neoplásicas foram observados aqui e acolá axônios mielínicos relativamente bem preservados, o que se correlaciona com a imunohistoquímica para neurofilamento. Para mais imagens desta, clique. Os aspectos demonstram a natureza altamente infiltrativa do tumor, que disseca entre os elementos autóctones do tecido nervoso, divulsionando-os. |
Sinapse.
Uma única sinapse foi observada em meio aos elementos tumorais. O terminal axonal é reconhecível à esquerda pela abundância de vesículas claras de neurotransmissor. Há duas membranas eletrodensas que correspondem ao contato do terminal axonal com a espinha dendrítica à direita (desta, só uma pequena parte é visível). As densidades correspondem às proteínas envolvidas na liberação de neurotransmissor (do lado axonal) e aos receptores de acetilcolina (do lado dendrítico). A existência de sinapses em meio ao tumor já fora sugerida pela imunohistoquímica para sinaptofisina. Para exemplos de sinapses em córtex cerebral humano em microscopia eletrônica, clique. |
Astrócitos
reacionais.
Destacavam-se em meio aos elementos tumorais pelo citoplasma abundante, rico em filamentos intermediários do citoesqueleto. São células pré-existentes do córtex cerebral, que reagem à infiltração tumoral com produção de fibrilas gliais, correspondendo às proteínas GFAP (glial fibrillary acidic protein) e vimentina. Para mais imagens, clique. Em HE, foram visualizados como astrócitos gemistocíticos. |
Agradecimentos. Preparações de microscopia eletrônica pelas técnicas Mayara Rodrigues Linares Silva e Marilúcia Ruggiero Martins. Departamento de Anatomia Patológica, FCM-UNICAMP, Campinas, SP. |
Textos complementares: | Sarcomas cerebrais | Fibrossarcoma | Mixofibrossarcoma | Diferencial: gliossarcoma |
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