Córtex  cerebral  normal  em microscopia eletrônica
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Fem. 8 a.   Material obtido de córtex cerebral temporal (giro parahipocampal esquerdo) nas proximidades de um ganglioglioma, durante exérese cirúrgica. A intenção era amostrar o tumor, mas, como o fragmento revelou-se normal nesta área, foi utilizado para estudo da ultraestrutura do córtex cerebral. A fixação foi imediata em líquido de Karnovsky, como recomendado para preservação ótima.  Processamento segundo protocolo habitual. A boa qualidade do tecido é denotada pelas organelas, especialmente as mitocôndrias, que não mostram tumefação por entrada de líquido, uma feição altamente sugestiva de anóxia. Os astrócitos mostram só discreta alteração hidrópica do citoplasma, e de alguns prolongamentos perivasculares. Oligodendrócitos bem preservados. 

Esta página complementa a antiga de microscopia eletrônica do córtex cerebral (ainda disponível). 

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Destaques  da  microscopia eletrônica. 
Neurônio.     Nucléolo Citoplasma, dendrito apical Retículo endoplasmático rugoso, mitocôndrias
Complexo de Golgi  Lisossomos, lipofuscina   Axônios mielínicos. 
Baínha de mielina
Neurópilo Sinapses 
Astrócito Capilar Oligodendrócito
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Neurônio. 

Um neurônio piramidal do córtex cerebral, com seu dendrito apical para cima na foto, circundado em toda volta por neurópilo.  O núcleo é claro, com cromatina bem distribuída e finas condensações junto à membrana nuclear. O nucléolo não está neste plano de corte, mas pode ser visto em outra célula.  O citoplasma tem limite nítido e é riquíssimo em organelas, detalhadas em outros campos.  O neurópilo é constituído por prolongamentos intimamente imbricados das células do tecido nervoso, inclusive dos próprios neurônios (dendritos e axônios), e dos astrócitos, oligodendrócitos e micróglia. 

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Citoplasma do neurônio.  O neurônio é limitado externamente pela membrana plasmática, que faz contato com prolongamentos de várias células vizinhas, participantes do neurópilo.  O citoplasma é amplo e rico em organelas, destacando-se mitocôndrias, abundantes ribossomos livres, em rosetas (polirribossomos), ou aderidos a cisternas do retículo endoplasmático rugoso. Há também lisossomos (perfis eletrodensos limitados por membrana única) , complexo de Golgi  e microtúbulos
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Dendrito apical,   aqui rodado 90º para enquadramento, tem mesmos elementos que o citoplasma do pericário ou corpo celular do neurônio. 
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Ribossomos e corpúsculos de Nissl.  A riqueza em ribossomos está ligada à intensa síntese proteica, necessária para manter os múltiplos e longos prolongamentos citoplasmáticos (dendritos e axônio). Como os ribossomos contêm ácido ribonucleico, têm afinidade por corantes básicos, como hematoxilina e cresil violeta. Em microscopia óptica, correspondem a pequenas manchas arroxeadas no citoplasma dos neurônios maiores, conhecidas como substância de Nissl ou tigróide.  Quanto mais longos os prolongamentos celulares, maior será o corpo celular do neurônio e mais evidentes os corpúsculos de Nissl. Os melhores exemplos são as células piramidais gigantes de Betz do córtex motor e os motoneurônios do corno anterior da medula espinal e dos núcleos de nervos cranianos. Nos dois casos, os axônios podem chegar a medir um metro ou mais. No caso das células de Betz, os axônios vão até os motoneurônios espinais, e no dos motoneurônios, até músculos das mãos e pés.
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Outro neurônio, 

este pequeno, com nucléolo proeminente e fortemente eletrodenso, destaca-se do neurópilo em volta pelo contorno nítido de seu citoplasma claro e rico em ribossomos. 

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Neurônio.  Complexo de Golgi.  Em vários neurônios é possível observar um elaborado complexo ou aparelho de Golgi, na forma de cisternas empilhadas à maneira de panquecas, associadas a vesículas que parecem brotar das margens laterais das cisternas. A morfologia depende do plano de corte.  O Golgi é a estrutura responsável pelo processamento e modificações finais de proteínas produzidas no retículo endoplasmático rugoso. Como os neurônios são ativos sintetizadores de proteína, entende-se a proeminência do Golgi nos mesmos.  No presente exemplo, o plano de corte foi paralelo ao maior plano do complexo. Ver outras imagens abaixo, onde o corte foi perpendicular. 
Lisossomos, lipofuscina.   Lisossomos são organelas responsáveis pela degradação de componentes degenerados, ou não mais utilizados, pela célula. São eletrodensos, limitados por membrana simples e ricos em enzimas hidrolíticas. Como algumas substâncias são de digestão difícil, podem ficar armazenadas em lisossomos por longos períodos. Estes assumem então aspecto heterogêneo, com áreas eletrodensas e vacúolos eletrolucentes. Constituem os grânulos de lipofuscina, que se acumulam em células que não se dividem mais no período pós natal, como neurônios e miocardiócitos. Em microscopia óptica são vistos como finos grânulos pardacentos ou amarelados e segregados em uma parte do citoplasma. Aumentam gradualmente com o avançar da vida e são mais abundantes em idosos.  Como a paciente em questão é jovem, grânulos de lipofuscina são raros. 
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Outro neurônio com  complexo de Golgi. 

Neste exemplo, as cisternas estão seccionadas perpendicularmente (transversalmente) ao plano do complexo, ou seja, cerca de 90º em relação ao neurônio anterior, em que foram cortadas paralelamente ao plano das membranas. 

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Axônios mielínicos. 

Axônios circundados por baínhas de mielina são comuns no neurópilo do córtex cerebral.  O axoplasma (citoplasma do axônio) contém microtúbulos, neurofilamentos e poucas organelas - na maioria mitocôndrias e escassos perfis do retículo endoplasmático liso.  Em axônios (tanto centrais como periféricos), não há ribossomos nem retículo endoplasmático rugoso (restritos ao corpo celular e aos dendritos).

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Baínha de mielina. 

Tem aspecto virtualmente idêntico ao da mielina dos axônios periféricos (para exemplos, clique (1) (2) (3). É formada por superposição e compactação da membrana celular dos oligodendrócitos, as células responsáveis pela síntese e manutenção da mielina no sistema nervoso central (no periférico, esta função pertence à célula de Schwann).  É excepcional que o prolongamento citoplasmático do oligodendrócito esteja no mesmo plano de corte da baínha, ou que se observe continuidade entre eles. 

A espessura da baínha de mielina, ou seja, o número de camadas, é diretamente proporcional ao calibre do axônio, tanto no SNC como no SNP. 
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Axônio mielínico com 4 mitocôndrias. 

Este pequeno axônio chama a atenção pelas mitocôndrias proeminentes, e neurofilamentos no axoplasma. Em volta dele, a baínha de mielina com cerca de 12 camadas, e no entorno, abundantes prolongamentos citoplasmáticos de células vizinhas, constituindo o neurópilo

Neurofilamentos são proteínas do citoesqueleto, do grupo dos filamentos intermediários (para breve texto, clique), cuja constituição química é específica dos neurônios.  
Por isso, imunohistoquímica para neurofilamento é útil na identificação de células de linhagem neuronal, em tumores, por exemplo. 

Filamentos 'intermediários'. Os neurofilamentos, como outros filamentos intermediários, têm diâmetro de 10 nm. O termo 'intermediário' se refere a que este diâmetro é intermediário entre os filamentos de actina (cerca de 5 a 9 nm) e os microtúbulos (cerca de 25 nm de diâmetro externo). 
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Axônio mielínico em corte oblíquo, com microtúbulos. 

Este axônio contém microtúbulos no axoplasma. Os microtúbulos são formados por polimerização da proteína tubulina, e atuam no transporte axonal servindo de 'trilhos' para as proteínas motoras cinesina e dineína. Estas 'caminham' ao longo dos microtúbulos, transportando macromoléculas, e até organelas, entre o corpo celular do neurônio e as extremidades de seus prolongamentos. 

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Neurópilo. 

É o tecido entre os corpos celulares de neurônios que, em microscopia óptica, tem aspecto róseo e homogêneo, podendo parecer finamente granuloso ou espumoso.  Sua real complexidade só é percebida em microscopia eletrônica, onde se observam inúmeros prolongamentos citoplasmáticos entrelaçados e imbricados. Estes são constituídos por dendritos, axônios mielínicos e amielínicos, sinapses, e prolongamentos de astrócitos, oligodendrócitos e micróglia.  Há marcada variação do diâmetro das estruturas, que se encaixam como peças de um quebra-cabeça. É notável a virtual ausência de espaço extracelular, pois os elementos fazem íntimo contato entre si. 

A que célula pertence cada prolongamento ?  Alguns elementos são identificáveis pela morfologia, como os axônios mielínicos; terminais axonais com vesículas de neurotransmissor; espinhas dendríticas (componentes de sinapses) através da densidade sináptica e das vesículas no terminal axonal; prolongamentos astrocitários através de seus filamentos intermediários. Na grande maioria, porém, é difícil determinar com segurança a célula a que pertence um determinado perfil em meio ao neurópilo. 
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Sinapses. Contatos entre prolongamentos dendríticos e terminais axonais são extremamente comuns no neurópilo. Chamam a atenção já em aumento médio pela densidade sináptica, uma linha mais escura (eletrodensa) observada nos dois elementos acoplados, mas geralmente mais nítida no lado dendrítico. O terminal axonal é identificado pelas vesículas de neurotransmissor (provavelmente acetilcolina), que são pequenas, uniformes e de centro claro. O terminal dendrítico, chamado de espinha dendrítica, tem baixa eletrodensidade e poucas organelas, geralmente mitocôndrias. O mesmo dendrito pode ser contatado por mais de um axônio e vice versa. Adiante exemplos.  Contudo, é comum que apenas um par (dendrito/axônio) esteja visível naquele plano de corte. 
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Sinapses. 

Ao lado, em uma área de neurópilo, destacamos uma espinha dendrítica e vários terminais axonais. Para clareza, só uma espinha foi marcada (em verde). Os terminais axonais (em laranja), são reconhecíveis pelas vesículas sinápticas.  O campo dá idéia da multidão de sinapses no neurópilo do córtex cerebral. 

Esta espinha dendrítica é contatada por três terminais axonais neste plano. Em dois deles, há densidade sináptica do lado dendrítico. 

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Uma sinapse axo-dendrítica clássica. 

Ao lado, uma sinapse química típica reúne uma espinha dendrítica à esquerda e um terminal axonal à direita. A densidade sináptica (linha escura ao centro) marca o contato. O dendrito tem citoplasma claro e pobre em organelas, alguns microtúbulos e uma mitocôndria. O axônio tem abundantes vesículas sinápticas de centro claro.  Outro terminal axonal faz contato com a espinha dendrítica à esquerda e embaixo, mas não se observa densidade sináptica.

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Espinhas dendríticas e terminais axonais. 

Aqui visualizamos três espinhas dendríticas (verde) e três terminais axonais.  A espinha ao centro, de forma irregular (triangular) é contatada por três terminais axonais, todos contendo vesículas sinápticas. Contudo, densidades sinápticas são vistas só nas duas espinhas menores.

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Duas sinapses

em uma mesma espinha dendrítica, contatada por terminais axonais um de cada lado, e com densidades sinápticas na face dendrítica em ambos contatos. 

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Sinapse dupla 

No centro da imagem, uma espinha dendrítica à esquerda e um terminal axonal à direita. Na face de contato, há duas densidades sinápticas no terminal dendrítico, e as vesículas sinápticas do lado axonal parecem concentrar-se abaixo das densidades. Pode ser interpretado como uma sinapse dupla (duas sinapses lado a lado entre as mesmas células). 

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Astrócito, capilar.   Um astrócito com citoplasma claro faz contato com um capilar. Outro astrócito é parcialmente visível embaixo e à esquerda. Os núcleos dos astrócitos têm cromatina frouxa (eucromatina) com pequenos agrupamentos de cromatina densa (heterocromatina) decorando a face interna da membrana nuclear (carioteca) e esparsos no interior do núcleo. Não se observa nucléolo. O caráter hidratado (eletrolucente) do citoplasma pode dever-se a entrada de água por anóxia durante o intervalo entre a retirada cirúrgica e o início da fixação. Isto ocorre por falência das bombas iônicas, especialmente da bomba de sódio / potássio, por falta de ATP. 
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Capilar. 

Este capilar do córtex cerebral é composto por várias células endoteliais ajustadas entre si como peças de um quebra-cabeça. São muito delgadas, com vesículas pinocitóticas e poucas organelas.  Nenhuma delas mostra o núcleo neste plano de corte. As células endoteliais estão apoiadas sobre uma camada contínua de membrana basal, que dá suporte físico ao capilar. Perfis claros e dilatados em contato com a face externa do capilar são prolongamentos astrocitários. 

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Um oligodendrócito 

é visto em contato  com o dendrito apical de um neurônio. Caracteriza-se por seu núcleo de cromatina irregularmente condensada, mais concentrada na periferia, e citoplasma também denso. Prolongamentos citoplasmáticos são muito curtos e difíceis de identificar. 

Este é um oligodendrócito satélite ao neurônio. Embora o contato entre as duas células seja extenso, não há feições especiais nas membranas celulares apostas. 

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Citoplasma do  oligodendrócito 

é compacto (bem mais que o do neurônio ao lado), com finos grânulos eletrodensos, filamentos, material amorfo, mitocôndrias e retículo endoplasmático rugoso. Os prolongamentos citoplasmáticos são dificilmente visualizáveis, pois são curtos e finos, e logo saem do plano de corte. São estes prolongamentos que se enrolam em torno de axônios para estabelecer a baínha de mielina.

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Agradecimentos. Preparações de microscopia eletrônica pelas técnicas Marilúcia Ruggiero Martins e Mayara Rodrigues Linares Silva.  Depto de Anatomia Patológica da FCM-UNICAMP, Campinas, SP.
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Para mais imagens de córtex cerebral normal :
Córtex motor, HE  Córtex sensitivo, HE LFB - Nissl IH para neurônios: MAP2
IH para neurônios: NeuN IH para glia : GFAP  IH para glia : VIM Microscopia eletrônica
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