Tumor  neuroectodérmico  primitivo (PNET) fronto-temporal.   2. Colorações especiais
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Nesta página, tricrômico de Masson, reticulina, Verhoeff e Weigert - van Gieson e breves textos sobre fibras elásticas em geral e em tumores cerebrais.
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Tricrômico de Masson. 

Esta técnica tradicional para tecido conjuntivo cora fibras colágenas em azul, destacando-as dos outros elementos do tecido.  O tumor tem ampla rede de septos conjuntivos associados ou não a vasos. Os septos o recortam em finos lóbulos. 

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As áreas paucicelulares, também notadas em HE,  visíveis já na superficie de corte do tumor, são constituídas principalmente por fibras colágenas. Por isso, salientam-se como áreas azuis de contornos geográficos, coradas pelo azul de anilina.  As células coram-se com o citoplasma em vermelho (pela fucsina)  e núcleos em roxo (pela hematoxilina). Para o método do tricrômico de Masson, clique
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Tricrômico de Masson.  Áreas mais sólidas.  Septos conjuntivos, alguns associados a vasos, recortam o tumor em lóbulos, dando uma arquitetura alveolar que lembra as Zellballen dos paragangliomas. A cor azul dos septos indica fibras colágenas. Porém, os mesmos septos se impregnam em negro pela prata, sugerindo participação de fibras reticulínicas (abaixo). 
Ilhotas mais frouxas. Chamam a atenção pelo tom azulado mais claro, denunciando fibrilas colágenas entre as células. O achado é confirmado pelo encontro de finas fibras reticulínicas nestas regiões (abaixo). 
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Ambos padrões são freqüentemente vistos lado a lado. 
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Reticulina. 

Os septos conjuntivos na parte mais sólida, que delimitam lóbulos, já notados no tricrômico de Masson, são também ricos em fibras reticulínicas, que se coram em negro na impregnação argêntica de Gomori. 

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Há pouca reticulina entre as células do interior dos lóbulos. 

Para a técnica de Gomori para reticulina, clique

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Ilhotas mais frouxas. 

Nestas, há abundantes fibras reticulínicas entre as células, como antecipado pelo tricrômico de Masson, acima. 

Estas técnicas mostram uma arquitetura complexa, em que tecidos de textura e composição celular diferentes se imbricam, como que na tentativa de constituir um órgão. O aspecto guarda semelhanças com o meduloblastoma desmoplásico, um outro tumor imaturo (PNET), este exclusivo do cerebelo. 
 

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Fibras  elásticas  no  PNET  -  Verhoeff,  Weigert - van Gieson
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Verhoeff.

Esta técnica para elástico e colágeno proporciona resultados semelhantes ao método de Weigert - van Gieson, no quadro abaixo, corando elastina em preto e colágeno em vermelho.  Pequenos grumos de elastina se destacam em negro do tecido em volta, com tendência a concentrar-se na periferia de vasos. À primeira vista parecem precipitados de corante. Porém, um exame mais cuidadoso demonstra sua autenticidade, por estarem no mesmo plano das estruturas vizinhas, inclusive na objetiva de imersão. São também confirmados pelo WvG e microscopia eletrônica.  Para a técnica de coloração de Verhoeff, clique.

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Elástico em tumores do sistema nervoso.

O encontro de fibras elásticas em tumores neuroectodérmicos é raro. Mierau et al. observaram elastina em alta percentagem de ependimomas, o que não se repetiu em outras neoplasias. Estes autores consideram o achado importante a favor do diagnóstico de ependimoma.  No presente caso, em face da diferenciação divergente das células em várias linhagens, demonstrada na imunohistoquímica, julgamos mais adequado o diagnóstico de PNET.  À luz dos trabalhos acima, a presença de elástico seria evidência adicional para diferenciação ependimária, que já havia sido notada pelas rosetas de Flexner em HE e positividade para EMA

  • Mierau GW, Scheithauer BW, Hukee MJ, Orsini EN. Mixed ependymoma-neuroendocrine tumor of the lateral ventricle.  Ultrastructural Pathology 20: 47-53, 1996. 
  • Mierau GW, Goin L. Perivascular elastic fibers: a diagnostic feature of ependymoma. Ultrastructural Pathology 31: 251-5, 2007.
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Weigert - van Gieson.

Esta tradicional coloração para tecido conjuntivo demonstra fibras colágenas em vermelho e elástico em preto. Os resultados são superponíveis aos do Verhoeff, acima. Contudo, na nossa experiência, uma delas geralmente funciona melhor e ambas devem ser tentadas. Aqui, o WvG ficou pálido, mas o efeito foi positivo ao destacar os grumos de elástico em roxo. A disposição perivascular do elástico, como descrito nos trabalhos de Mierau et al., foi confirmada.  Para técnica do Weigert - van Gieson, clique

WvG.  Elástico  entre  as  células  neoplásicas. Pequenos grumos de elástico são vistos entre as células neoplásicas, esparsamente e não associados a vasos. Parece muito provável que tenham sido produzidos pelas próprias células do tumor. Seria mais uma evidência da multipotencialidade das mesmas, que demonstram positividade imunohistoquímica para GFAP e VIM (linhagem glial), neurofilamento e sinaptofisina (linhagem neuronal) e antígeno epitelial de membrana (linhagem ependimária) (ver quadro de resumo da imunohistoquímica). 
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Fibras elásticas, elastina e fibrilina. 

Fibras elásticas, cujos principais componentes são as proteínas elastina e fibrilina, são encontradas na matriz extracelular de tecidos que devem esticar-se sob forças tenseis e recolher-se às dimensões originais após a solicitação. Exemplos são a pele, pulmões e artérias. As fibras elásticas têm extensibilidade pelo menos 5 vezes maior que a de um elástico de borracha. Fibras colágenas inelásticas são entretecidas às elásticas para prevenir ruptura do tecido, se a tensão se tornar excessiva. A elastina é a molécula dominante da matriz extracelular em artérias, correspondendo a 50% da massa seca da aorta.

As fibras elásticas têm como principal componente a elastina, uma proteína altamente hidrofóbica de cerca de 750 aminoácidos, que, como o colágeno, é muito rica em prolina e glicina, mas, ao contrário do colágeno, não é glicosilada, contém alguma hidroxiprolina e não contém hidroxilisina.  A tropoelastina, o precursor solúvel da elastina, é produzida por fibroblastos e fibras musculares lisas. É secretada no espaço extracelular e integrada em fibras elásticas junto à membrana plasmática, geralmente em dobras da superfície celular. Após a secreção, as moléculas de tropoelastina sofrem numerosas ligações covalentes cruzadas entre elas, estabelecendo uma extensa rede de fibrilas e lamelas elásticas. 

As moléculas de elastina são compostas de dois tipos de segmentos curtos que se alternam ao longo da molécula. Os segmentos hidrofóbicos são responsáveis pela elasticidade, e permitem à molécula enrolar-se sobre si mesma e desenrolar-se quando solicitada, à maneira de uma mola. Porém, ao contrário de uma mola, que sempre volta à configuração original, o enrolamento da elastina é ao acaso, e quando liberada das forças de tensão, adquire uma conformação espacial diferente da original  (= random coil, em inglês).  Esses segmentos hidrofóbicos são alternados com outros hidrofílicos, em alfa-hélice, ricos em alanina e lisina, que formam ligações cruzadas com segmentos semelhantes de moléculas adjacentes.  Estas ligações agrupam as moléculas de elastina em fibras elásticas. 

Além da elastina, as fibras elásticas são compostas por uma bainha de microfibrilas, que revestem externamente o núcleo de elastina. Cada microfibrila tem diâmetro de 10 nm. As microfibrilas aparecem antes da elastina e parecem formar um arcabouço para a deposição desta. Assim, são mais abundantes em tecido elástico recém formado e decrescem proporcionalmente com a idade. Espacialmente, as microfibrilas se dispõem em torno do núcleo central de elastina, mas também estão embutidas nele por várias distâncias. 

As microfibrilas também têm propriedades elásticas. São compostas de várias glicoproteínas, a principal das quais é a fibrilina, de 350 kD, que se liga à elastina e é essencial à integridade das fibras elásticas.  Entre as importantes funções da fibrilina está a fixação do cristalino do globo ocular.  Mutações no gene da fibrilina causam a síndrome de Marfan, um defeito genético comum, associado a aneurismas dissecantes da aorta, a subluxação (deslocamento) do cristalino e anormalidades esqueléticas e articulares, incluindo estatura excessiva. 

Para as outras fibras intersticiais do tecido conjuntivo (fibras colágenas e reticulínicas), clique. 

Fontes : 

  • Alberts B et al. Molecular Biology of the Cell.  5th Ed. Garland Science, New York, 2008. pp. 1189-91. 
  • Stevens A, Lowe J.  Human Histology. 2nd Ed. Mosby, London, 1997. pp. 53-4.
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Preparados nesta página pelo técnico de colorações especiais do Depto de Anatomia Patológica da FCM-UNICAMP,  Sr. Sérgio Roberto Cardoso. A ele, nossos sinceros agradecimentos. 
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Para página de resumo deste caso, comentário e textos: PNETs supratentoriais, fibras elásticas, nestina
Mais imagens deste caso >> TC, RM Macro, HE IH : GFAP, VIM
IH : nestina, S-100, CD56 IH : SNF, cromogranina, NF, EMA IH : AE1AE3,  1A4,  CD34,  Ki-67,  p53 ME
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Textos sobre PNETs supratentoriais (1) (2) Ependimoblastomas Pineoblastomas (1) (2) Características de imagem dos PNETs
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