Glioblastoma  de  células  gigantes - 
6. Microscopia  Eletrônica. 
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Página de resumo do caso.
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Destaques  da  microscopia  eletrônica. 
Células gigantes multinucleadas  Infiltração tumoral entre axônios  Microvilos na membrana externa 
'Fagocitose' de axônios e debris de mielina pelas células neoplásicas  Alterações axonais regressivas  Gotículas lipídicas 
Vacúolos maiores  Filamentos intermediários  Mitoses 
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Considerações gerais.  Esta amostra de tumor, colhida do material enviado a fresco para esfregaço e congelação, e fixada imediatamente em líquido de Karnovsky, revela detalhes da intimidade do glioblastoma multiforme e suas relações com os tecidos invadidos, principalmente os axônios mielínicos. Chamam a atenção prolongamentos digitiformes da membrana externa, e restos de mielina no citoplasma das células neoplásicas, sugerindo  agressividade e até atividade fagocitária contra elementos do tecido nervoso. Havia vacúolos citoplasmáticos uniformes, pequenos, parecendo conter lípide, outros maiores e irregulares, que poderiam ser dilatações do retículo endoplasmático ou fagolisossomos. As células eram ricas em filamentos intermediários, retículo endoplasmático liso e rugoso, ribossomos livres e lisossomos, mas em proporções muito variáveis célula a célula, enfatizando a notável diversidade entre os elementos neoplásicos. Foram observadas duas figuras de mitose
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Aspecto panorâmico.  Nestas imagens panorâmicas observam-se células neoplásicas com citoplasma abundante, rico em organelas e vacúolos, núcleos grandes, irregulares e/ou múltiplos, introduzindo prolongamentos citoplasmáticos entre os axônios mielínicos da substância branca. Os contornos celulares freqüentemente são difíceis de definir, devido à finura da membrana plasmática e escassez de espaço extracelular, o que não permite melhor individualização das células.  Os axônios destacam-se pela eletrodensidade das baínhas de mielina. Muitos são anormais, pelos efeitos compressivos do tumor ou por artefatos de fixação ou manipulação. 
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As células tumorais variavam amplamente em forma, volume e quantidade de núcleos. Ao lado, célula multinucleada. 
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Comparação com células gigantes multinucleadas em HE e azul de toluidina (à direita, em cortes de 1 mm em Araldite). Notar, nesta última, a relação entre a célula neoplásica e os axônios mielínicos, que aparecem como pequenas argolas azuis. Clique para mais imagens de azul de toluidina, e para imunohistoquímica para neurofilamento, que também demonstra axônios no tecido infiltrado pelo tumor. 
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Esta célula tumoral 
é favorável à observação por estar em uma área frouxa (com edema extracelular), o que permite individualizá-la.  Notar contorno irregular com prolongamentos citoplasmáticos, riqueza de organelas e nucléolo proeminente. 
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Núcleos irregulares.
 

Muitos apresentam contorno caprichoso, com projeções ou subunidades periféricas ('satélites') presas apenas por um filete de cromatina. 

Notar também gotículas lipídicas

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Infiltração neoplásica entre axônios. As células neoplásicas insinuam-se entre os axônios mielínicos e se misturam com eles, havendo imagens sugestivas de englobamento de axônios e/ou debris de mielina pelas mesmas. 
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Células do glioblastoma  avançam entre os axônios mielínicos da substância branca. 

Os axônios destacam-se pelas baínhas de mielina eletrodensas. 

A célula ao lado é volumosa, com citoplasma abundante e pequenos vacúolos regulares que, presumivelmente, continham lípide. O núcleo é parcialmente visível à esquerda. 

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Correlação entre invasão da substância branca em imunohistoquímica para neurofilamento e em microscopia eletrônica.  Neurofilamento marca axônios e os mostra comprimidos e divulsionados pelas células neoplásicas. Os mesmos axônios destacam-se em microscopia eletrônica pela eletrodensidade das baínhas de mielina.  Para mais imagens da IH para neurofilamento, clique. 
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Microvilos na membrana plasmática. 

Uma feição proeminente, observada em muitas células, foram projeções digitiformes da membrana plasmática, lembrando microvilos ou pequenos pseudópodos. 

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Projeções digitiformes. 

Apesar das projeções citoplasmáticas lembrarem pseudópodos de macrófagos, a abundânica de filamentos intermediários, outras organelas e os núcleos demonstram a natureza glial e neoplásica destas células. 

Microvilos são observados em células ependimárias e em ependimomas. Contudo, a pesquisa de EMA e AE1AE3 resultou negativa no presente caso. 

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Infiltração entre axônios utiliza os microvilos. 

As células neoplásicas invadem entre os axônios da substância branca, aparentemente divulsionando-os pela introdução dos microvilos da membrana externa. Ao lado, há axônios na periferia de uma célula e capturados entre duas células neoplásicas vizinhas. 

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Comparação com uma imagem de azul de toluidina, mostrando axônios mielínicos (em azul escuro) divulsionados pelas células neoplásicas. Para mais imagens deste preparado, clique
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'Fagocitose' de axônios pelas células neoplásicas. 

Outra feição notável deste tumor foi o encontro de perfis de axônios ou restos de baínhas de mielina no citoplasma de células incontestavelmente neoplásicas, sugerindo que as células tumorais englobam axônios ou debris à medida que crescem. 

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Correlação 

entre corte de 1 mm corado por azul de toluidina e microscopia eletrônica de uma célula neoplásica contendo no citoplasma um axônio degenerado, restrito à baínha de mielina. 

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Neste campo, é possível comparar três axônios, um à esquerda, aparentemente envolto pelo citoplasma da célula tumoral, e dois à direita, livres no interstício. Os da direita têm aspecto normal, observando-se microtúbulos e neurofilamentos no axoplasma, bem como mitocôndrias, indicando estrutura viável. No da esquerda, o espaço delimitado pela baínha de mielina é opticamente vazio, sem filamentos ou organelas, sugerindo degeneração (morte) do axônio.  Abaixo, mais exemplos de axônios degenerados  ou debris de mielina no citoplasma de células neoplásicas. 
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Alterações axonais regressivas. 

Alguns axônios no interstício (não 'fagocitados' como os do grupo acima) mostravam alterações estruturais à custa de acúmulo de organelas, especialmente mitocôndrias, corpúsculos eletrodensos (lisossomos?) e material filamentoso  no axoplasma. 

É possível que a compressão dos axônios pelas células neoplásicas cause alterações do fluxo axonal, levando a tais anormalidades.  A mielina dos mesmos axônios estava intacta. 

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Gotículas lipídicas. 

Estes pequenos vacúolos eletrolucentes, de contorno quase sempre circular, diâmetro regular e não delimitados por membrana, foram interpretados como contendo lípides. Contudo, não foram realizadas colorações especiais para lípides para testar esta suposição. 

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Células com gotículas citoplasmáticas em HE e em azul de toluidina.  As gotículas são tão diminutas que sua visualização em microscopia óptica é precária. É mais fácil vê-las no preparado de Araldite com azul de Toluidina devido à menor espessura do corte (1 mm) em comparação com a parafina (5 mm). Para mais imagens de HE e azul de toluidina, clique. 
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Gotículas lipídicas. 

Aqui são vistas em  um prolongamento celular, em meio a feixes compactos de filamentos intermediários, que podem corresponder a GFAP, vimentina ou ambos. 

 

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Vacúolos maiores. 

Além das diminutas gotículas que parecem conter lípides, várias células apresentavam vacúolos grandes e de variados tamanhos no citoplasma, redondos ou ovalados, limitados por membrana única, cuja natureza ficou obscura. Alguns parecem cisternas dilatadas do retículo endoplasmático liso

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Esta célula multinucleada apresenta um prolongamento com vários compartimentos eletrolucentes (opticamente vazios) que não parecem conter lípide, lembrando cisternas do retículo endoplasmático liso. 
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Comparação com células  vacuoladas em HE e em cortes de Araldite de 1 mm corados por azul de toluidina.  Em microscopia óptica fica evidente a grande variação de tamanho dos vacúolos, os maiores chegando a superar o diâmetro de um núcleo. Para mais imagens de HE e AT, clique. 
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Vacúolos grandes têm freqüentemente conteúdo floculento ou  granuloso, sugerindo natureza proteica, ou com vesículas. (Comparar com os de lípide, que são menores e opticamente vazios, pois o lípide dissolve-se durante a desidratação em acetona para ME). 

A organela fortemente eletrodensa e limitada por membrana na margem superior deste vacúolo pode ser um lisossomo.

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Dilatações do  retículo  endoplasmático. 

Nesta célula, o citoplasma com grande quantidade de filamentos intermediários mostra dilatações do retículo endoplasmático liso na forma de canais tortuosos e de diâmetro irregular.  Alguns parecem estar em relação com os vacúolos eletrolucentes, sugerindo que alguns vacúolos pudessem representar dependências do RE. 

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Filamentos intermediários. 

Como as células tumorais têm natureza astrocitária, é compreensível a riqueza em filamentos do citoesqueleto, não raro densamente arranjados em feixes que se entrecruzam.  Com imunohistoquímica para GFAP e vimentina, praticamente todas as células são positivas, exceto raras. 

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Filamentos intermediários têm espessura de cerca de 11 nm e aparecem  delicados e eletrodensos, arranjados em feixes que cruzam o citoplasma em todas direções. 
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Diferenças na expressão  de  filamentos  intermediários.

Ao lado temos parte do citoplasma de duas células vizinhas em contato.  O prolongamento ao centro é riquíssimo em filamentos intermediários, mas estes são escassos na célula que o envolve.  Células do mesmo tumor podem expressar ou não proteínas, com ampla variação célula a célula. Este aspecto já havia sido mostrado em GFAP e vimentina, onde a maioria das células é fortemente positiva, mas há outras pobres ou negativas para estas proteínas. 

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Para mais imagens com GFAP e vimentina, clique . 
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Mitoses.

Como a atividade mitótica do tumor era alta, foi possível identificar em microscopia eletrônica duas células em divisão. 

Ao lado, correlação entre mitoses em azul de toluidina e em ME (não necessariamente a mesma célula). O citoplasma é amplo e de limites bem definidos (em ME notam-se microvilos). Os cromossomos estão a caminho dos polos celulares (portanto, em anáfase). 

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Na mitose, a membrana nuclear (carioteca) dissolve-se e os cromossomos condensados viajam através do citoplasma  guiados por microtúbulos. Estes são melhor vistos na outra mitose abaixo, em que os cromossomos ainda se encontram em metáfase (no equador da célula). 
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Outra mitose (metáfase).

Esta célula mostra no citoplasma, além dos cromossomos condensados (estruturas eletrodensas no meio), extenso complemento de organelas citoplasmáticas, como canais do retículo endoplasmático, mitocôndrias e vacúolos. A superfície celular está decorada por numerosos microvilos

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Microtúbulos.

São estruturas rígidas com cerca de 20 nm de diâmetro e comprimento indefinido, formados por polimerização da proteína tubulina. Como são os elementos fundamentais do fuso mitótico, inserem-se nos cromossomos condensados e os arrastam para os polos da célula.

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A abundância de citoplasma, riqueza de organelas e microvilos na superfície dão idéia da intensa atividade metabólica destas células tumorais. 
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Preparações de microscopia eletrônica pelas técnicas, Sras. Marilúcia Ruggiero Martins e Geralda Domiciana de Pádua. A elas, nossos agradecimentos. 
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Para mais imagens deste caso:
Página de resumo do caso

e texto: 
glioblastoma de células gigantes.

TC e RM Esfregaço e cortes de congelação Parafina - HE
IH :  GFAP, VIM, S-100, NF IH : 
CD34, Ki67, p53
Araldite - azul de toluidina Microscopia eletrônica
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Este assunto na graduação Características de imagem dos glioblastomas
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