Leucemias  (texto de apoio) 
Prof.  Dr.  José  Vassallo

 
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ÍNDICE  ALFABÉTICO

 
 

LEUCEMIAS

    Definição: proliferação neoplásica (autônoma, descontrolada) de uma linhagem (= clone) de células anormais do sistema hemopoético, que resulta em maior ou menor derramamento destas células neoplásicas no sangue. Sinônimo: leucose.

    Caracterizam-se por:
    - não responder aos mecanismos de regulação da hemopoese;
    - substituir a hemopoese normal da MO

    Critérios de classificação baseiam-se:
    - no tipo celular = linfóide e mielóide
    - no grau de diferenciação e evolução clínica = 

      - agudas = proliferação de células imaturas, evolução rápida
      - crônicas = existe maturação dos elementos neoplásicos, evolução mais arrastada


    Leucemia aleucêmica = existe escasso derramamento de células neoplásicas para o sangue periférico, por vezes não detectáveis no hemograma rotineiro

    Etiologia: não conhecida; descrevem-se fatores etiológicos associados às leucemias.
     

    • - raios ionizantes – acidentes nucleares,  sobreviventes da bomba atômica apresentam maior incidência de leucemia mielóide crônica;
    • - drogas mielotóxicas – quimioterápicos, benzeno;
    • - vírus – HTLV-1 (retrovírus) relacionado à leucemia/linfoma de células T, endêmica no Caribe, sul do Japão e China; neste tipo de leucemia há evolução subaguda, infiltração da pele, hepatoesplenomegalia e hipercalcemia; as células neoplásicas têm núcleos irregulares (flower cells); 
    • - fatores genéticos = no japonês praticamente não há leucemia linfóide crônica, que é uma das mais freqüentes no ocidente; indivíduos mongóis (trissomia do cr 21) apresentam cerca de 20 vezes mais leucemia que a população normal


    Clínica: depende do tipo de leucemia (aguda ou crônica). Há sinais e sintomas decorrentes das linhagens hemopoéticas normais: 

    • anemia, infecções, sangramentos (petéquias, hematomas); 
    • dor óssea (se houver infiltração subperiostal); 
    • hepatoesplenomegalia; 
    • cefaléia, vômitos e 
    • paresias ou paralisias (infiltração do sistema nervoso central).

 
LEUCEMIAS MIELÓIDES AGUDAS

Lâmina A 357, Peça OH-39

Também chamadas de leucemias não linfóides agudas, pois incluem não só as séries mielomonocíticas, mas também as eritroblástica e megacariocítica.

Cerca de ¼ pode ser precedida por síndrome mielodisplásica (SMD). Pode corresponder à fase final de uma leucemia mielóide crônica (LMC) = nestes casos, de transformação para LMA, fala-se em crise blástica. Limite da porcentagem de blastos entre LMA e SMD ou LMC > 30%.

Em alguns casos pode haver formação de massa, simulando neoplasia sólida, infiltrando órgãos ou tecidos moles, no decorrer da LMA ou precedendo-a = sarcoma granulocítico ou cloroma.

LMAs ocorrem mais freqüentemente na idade adulta; apenas 5-10% das LA de criança são não linfóides.

A adequada classificação do tipo de LMA é feita pela citologia da medula óssea (mielograma ou “imprint” de biópsia medular). A classificação FAB (Franco-americana-britânica) é baseada na citologia em sete subtipos:
 

• M1: LMA sem maturação (mais de 90% de blastos mielóides, com menos de 10% de elementos mielóides maturando);

• M2: LMA com maturação (mais de 30% de blastos, até 89%, com mais de 10% das células anormais sendo de pró-mielócitos a células mais maduras);

• M3: Leucemia pró-mielocítica aguda;

• M4: Leucemia mielomonocítica aguda (os blastos mielóides devem exceder a 30% das células medulares nucleadas não eritróides, sendo 20 a 80% de monoblastos);

• M5: Leucemia monocítica aguda (mais de 30% das células medulares nucleadas não eritróides são blastos, sendo mais de 80% precursores de monócitos);

• M6: Eritroleucemia aguda ou síndrome de Di Guglielmo (mais de 50% dos elementos nucleados da medula devem ser eritroblastos e mais de 30% dos elementos não eritróides devem ser blastos mielóides);

• M7: Leucemia megacariocítica aguda.

 Em um estudo realizado em nosso Serviço, de um total de 62 casos, houve 21 M1, 23 M2, 2 M3, 2 M4, 6 M5, 6 M6 e 2 M7.

Obs.  Em 2001 a Organização Mundial da Saúde publicou uma nova classificação das Neoplasias Linfo-hematopoéticas, incluindo dados morfológicos, imunoistoquímicos, citogenéticos e de biologia molecular, os quais apresentam relevância no reconhecimento de grupos distintos para fins de tratamento e prognóstico. Porém, por ser mais simples e amplamente difundida, podemos continuar, por hora, a utilizar a FAB.

Quando a classificação por esfregaço citológico não for possível, utilizam-se reações citoquímicas:
 


 
 
REAÇÕES  CITOQUÍMICAS  PARA  CLASSIFICAÇÃO  DAS  LEUCEMIAS
 
M1
M2/M3
M4
M5
M6
M7
LLA
Peroxidase ou Sudan Negro (Black)
+
+++
++
+/-
-
-
-
Alfa-naftil-(ASD)-
cloro-acetato-esterase (CAE)
+
+++
+
-
-
-
-/raramente +
Ácido periódico / reativo de Schiff (PAS)
+/-
++ difuso
++/+
+/-
+difuso ou em blocos
- ou + em blocos
+++ em blocos
Esterase inespecífica (alfa-naftil-acetato-esterase)
-
-
+/++
+++
-
-
++ difuso

 
 
Quando ainda assim a tipagem da leucemia for impossível, utilizam-se métodos imunocitoquímicos (marcadores de diferenciação celular ou Cluster Differentiation, CD):
  • mieloperoxidase, CD13, CD33 = positivos na maioria das LMA;
  • CD14, CD68, CD4 = associados à linhagem monocítica, porem podem ocorrer na série granulocítica;
  • CD61 e CD41 = linhagem megacariocítica;
  • Glicoforina A = linhagem eritróide. 

 
            O esforço para classificar as leucemias agudas adequadamente não representa apenas interesse acadêmico, mas tem implicações na prática clínica. 

            Há muito tempo é conhecida a diferença biológica entre as leucemias agudas mielóides e linfóides. Por exemplo, as LLA envolvem mais freqüentemente o sistema nervoso central, devendo ser feita profilaxia da infiltração. Em crianças, as LLA, mais freqüentes, têm prognóstico melhor que as LMA. Além disto, há diferentes esquemas terapêuticos para LMA e LLA. Dentre as LMA, embora não haja diferentes esquemas terapêuticos para os vários subtipos, algumas particularidades se associam a alguns deles:

 
• distúrbios hemorrágicos ocorrem mais freqüentemente na leucemia pró-mielocítica (M3), necessitando-se de profilaxia adicional;

• na LMA-M4 ocorre mais freqüentemente infiltração gengival, clinicamente caracterizada como “hiperplasia gengival”;

• na LMA-M5 é particularmente freqüente a infiltração cutânea;

• a LMA-M7 cursa mais freqüentemente com fibrose medular, fase aleucêmica (ou oligoleucêmica), necessitando estudo histológico da medula óssea para o diagnóstico; acredita-se que represente pior prognóstico em relação a outros subtipos.


PROGNÓSTICO DAS LEUCEMIAS AGUDAS NOS DIAS ATUAIS. 

            Apesar de todo o conhecimento acumulado no decorrer das três últimas décadas, no presente espera-se que cerca de 65-75% das leucemias agudas do adulto entrem em remissão completa após o tratamento (quimioterapia intensa sozinha ou seguida de transplante de medula óssea). Destes, cerca de 40% continuarão em remissão prolongada após 3 anos de seguimento, o que vale dizer que, ainda hoje, a probabilidade de cura de um caso de leucemia aguda do adulto é de 25-30% apenas.


 
 
LEUCEMIAS LINFÓIDES AGUDAS

Lâmina A 157, Peça OH-31

Predomina na idade infantil e em adultos jovens. 

A classificação morfológica FAB reconhece 3 tipos de LLA
  • - L1: células regulares, homogêneas;
  • - L2: células mais heterogêneas;
  • - L3: células de citoplasma basófilo, vacuolado, correspondendo à morfologia do Linfoma de Burkitt (ver Linfomas)


Imunofenotipicamente, a maioria das LLA são de células B, em vários graus de maturação; uma minoria é de células T.


 
 
CLASSIFICAÇÃO  IMUNOFENOTÍPICA  DAS  LEUCEMIAS  LINFÓIDES  AGUDAS
Subtipo de LLA Morfologia Freqüência Prognóstico
Pré-B precoce ou pré-pré-B
CALLA* (CD10) +
L1 ou L2
(L1 é mais freqüente)
Cerca de 60-70% Muito bom
Pré-B L1 ou L2 20% Intermediário
B madura Sempre L3 2% Ruim
T imatura L1 ou L2 15%
Intermediário
*CALLA: common acute lymphoid leukemia antigen (corresponde ao CD10)
Ocorre freqüente infiltração de SNC e de testículos.

LLA-T costuma cursar com massas mediastinais e pode haver derrame pleural.

LLA-B (L3) costuma cursar com massas abdominais e pode haver ascite.

            As células da LLA são indistinguíveis dos linfomas de células precursoras, linfoblástico (ver aula de Linfomas). 

  • No caso da linhagem B, é mais comum a neoplasia apresentar-se clinicamente como LLA que como linfoma linfoblástico B. 
  • No caso da linhagem T, é mais comum a neoplasia apresentar-se clinicamente como linfoma linfoblástico que como LLA-T. 
            Por isto, estas neoplasias são classificadas de acordo com o grau predominante de acometimento:
  • leucemia linfóide aguda (ou linfoblástica), se predominar quadro leucêmico e acometimento de MO;
  • linfoma linfoblástico (ou de células precursoras), se predominar o quadro de acometimento linfonodal;
  • se o patologista desconhecer a forma de acometimento predominante ele indicará os 2 diagnósticos: “linfoma/leucemia linfoblástica”.

 
QUADRO COMPARATIVO
DAS LÂMINAS DE MEDULA ÓSSEA
 

QUADRO COMPARATIVO
DAS LÂMINAS DE LINFONODO


 
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