Neurofibromatose do tipo 2. 
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NEUROFIBROMATOSE  DO  TIPO 2.  (NF2) 

É uma doença totalmente separada da NF1, associada com anormalidades em um gene no braço longo do cromossomo 22 (NF1 é no cromossomo 17). O termo ‘de von Recklinghausen’ não é empregado para NF2. 

Definição. NF2 é uma doença autossômica dominante caracterizada por neoplasias e lesões displásicas das células de Schwann (schwannomas e schwannose), de células meníngeas (meningiomas  e meningoangiomatose) e de células gliais (ependimomas, outros gliomas e microhamartomas gliais). Na NF2 predominam schwannomas, meningiomas e ependimomas, sendo que schwannomas bilaterais do VIII são diagnósticos. Já neurofibromas estão associados à NF1

Incidência.   1:40000 nascidos (portanto, 10 x menos que a NF1). Cerca de metade dos casos são por mutações novas (= NF1). 

Critérios diagnósticos: 

1. Schwannomas vestibulares bilaterais.

2. Um parente de primeiro grau com NF2, mais

a) um schwannoma vestibular ou
b) dois dos seguintes:
 meningioma, 
 schwannoma
 glioma
 opacidade juvenil subcapsular posterior do cristalino
 calcificações cerebrais (especialmente nos plexos coróides, 
                        no córtex cerebelar e na superfície do córtex cerebral).
3. Dois dos seguintes:
a) um schwannoma vestibular
b) meningiomas múltiplos
c) outro schwannoma, glioma, neurofibroma, opacidade subcapsular 
                                posterior do cristalino ou calcificações cerebrais. 


Neoplasias do SNC na NF2. 

Schwannomas.  Aparecem em idade mais precoce que os esporádicos. Muitos pacientes desenvolvem schwannomas vestibulares bilaterais na terceira década. Pode haver acometimento de nervos motores. Não há tendência a malignização. Pode haver schwannomas cutâneos, inclusive plexiformes e vários pequenos schwannomas ao longo de nervos, particularmente em raízes espinais. 

Meningiomas.  Ocorrem mais precocemente que os não relacionados à NF2, mas não têm tendência a serem malignos. 

Gliomas.  A maioria (65-75%) são ependimomas. Cerca de 80% ocorrem na medula espinal e 10% no bulbo. Astrocitomas pilocíticos e difusos ocorrem menos comumente. 
 
 

Schwannomas bilaterais do N. vestibular. Os tumores crescem dentro do conduto auditivo interno, que fica dilatado, e expandem-se na cisterna ponto-cerebelar, causando compressão variável da ponte e cerebelo. Schwannomas bilaterais do N. vestibular são suficientes para o diagnóstico de NF2. 
Meningiomas na NF2.   À E, meningiomas múltiplos (meningiomatose).   Múltiplos nódulos impregnados, dois baseados na foice do cérebro, e um infiltrando o osso frontal à D.  Corte axial, T1 com contraste.  À D, meningioma na topografia do foramen de Luschka E, e ependimoma cístico do bulbo. Corte coronal, T1 com contraste.
Ependimomas na NF2.   À E, grande tumor multicístico, já parcialmente removido, ocupando a medula cervical. Corte sagital em T2.  À D. pequeno ependimoma da transição bulbo-cervical, com impregnação periférica de contraste. Corte sagital em T1 com contraste. 

Neurofibromas não são habitualmente associados à NF2, mas podem ocorrer (ver caso). 
Schwannose é uma proliferação de células de Schwann sem formação de tumor. São mais freqüentes na zona de entrada das raízes dorsais. 

Hamartias gliais ou microhamartomas do córtex cerebral. São clusters de células com aspecto de astrócitos fibrilares ou gemistocíticos, que se marcam fortemente por S-100 mas só focalmente por GFAP. Não são associadas com retardo mental ou astrocitoma. 

Manifestações cutâneas são muito menos comuns na NF2  que na NF1. Mesmo assim, cerca de 25% dos pacientes têm manchas café com leite, que são geralmente pálidas e em pequeno número (< 5).  Schwannomas de nervos cutâneos são encontrados em cerca de 65% dos pacientes, mas também são pequenos e em pequeno número. Quando presentes, tendem a aparecer na 1a. década, antes dos schwannomas vestibulares, que aparecem depois dos 10-15 anos. 

Catarata subcapsular ocorre em mais da metade dos pacientes, e pode ocorrer na infância.  Portando, índices valiosos para o diagnóstico precoce são tumores cutâneos e catarata. Menos de 20% dos pacientes com NF2 são diagnosticados na infância. 

Manifestações espinais.  Mais comuns são tumores paraespinais de baínha nervosa (50-80% dos casos, mais freqüentes após idade de 15 anos).  Geralmente são schwannomas, mas também há neurofibromas.  Há ainda meningiomas, e tumores intramedulares, mais comumente ependimomas, mas também astrocitomas. 
É mais comum haver compressão medular sintomática em pacientes de NF2 que de NF1. Schwannomas são isointensos em T1, hiperintensos em T2 e impregnam-se uniformemente por contraste.
Ependimomas espinais impregnam-se e em exames sem contraste podem ser difíceis de diferenciar de hidrosiringomielia multiloculada. O diagnóstico diferencial entre ependimomas e astrocitomas é difícil por imagem.  Um tumor de localização central, captante, e com bordas bem definidas sugere ependimoma. 
Meningiomas espinais são comuns na NF2. Como fora da NF2, são mais comuns na região torácica. 

Hidrosiringomielia é comum na NF2. Quase sempre é secundária a tumores primários da medula ou tumores extramedulares (meningiomas, schwannomas, neurofibromas) que alteram a dinâmica do líquor no espaço subaracnóideo espinal. A siringe também pode resultar de fluido secretado para dentro da medula por um tumor intramedular.   Remoção do tumor leva à regressão da hidrosiringomielia. 

Genética.  O gene NF2 está situado no braço longo do cromossomo 22  (22q12). Tem 110 kb e 17 exons e é expressado na maioria dos tecidos, inclusive cérebro. A proteína é chamada merlina ou schwannomina, e parece controlar interações de células entre si e com a matriz extracelular. Assemelha-se a proteínas que ligam a membrana celular ao citoesqueleto (actina). Admite-se que NF2 funcione como gene supressor tumoral.  A merlina mutante inibe adesão celular, que é importante para regulação do crescimento celular. Há correlação entre a severidade da mutação e a gravidade da doença. 

Clínica e prognóstico: variam amplamente. Há famílias com início precoce e múltiplos tumores (tipo Wishart) e outras com início tardio e limitadas a schwannomas vestibulares (tipo Gardner). 

Outras formas de Neurofibromatose. 

Não há dúvida de que NF1 e NF2 são doenças distintas. Contudo, há pacientes que apresentam superposição dos sintomas e sinais de ambas (chamada de NF3 ou formas intermediárias de Riccardi).  Isto ocorre quando o paciente preenche os critérios para NF2 e mostra clinicamente também lesões da NF1 (como neurofibromas e manchas café com leite).  A genética destes pacientes não está clara. 

  • Riccardi VM. Neurofibromatosis: clinical heterogeneity. Curr  Probl. Cancer 7: 1-34; 1982. 
  • Riccardi VM. Neurofibromatosis. Neurol. Clin.  5: 337-49, 1987. 
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Fontes:

Atlas SW. Magnetic Resonance Imaging of the Brain and Spine. 3rd Ed. Lippincott Williams & Wilkins, Philadelphia, 2002.

Barkovich AJ. Pediatric Neuroimaging.  4th Ed. Lippincott Williams & Wilkins, Philadelphia, 2005. 

Burger PC, Scheithauer BW, Vogel FS. Surgical Pathology of the Nervous System and its Coverings.  4th Ed. 2002. Churchill Livingstone, New York. 

Kleihues P, Cavenee WK (eds). Tumours of the Nervous System. Pathology and Genetics. World Health Organization Classification of Tumours. IARC Press, Lyon, 2000. 

Osborn AG. Diagnostic Neuroradiology. Mosby, St Louis, 1994. 

DiPaolo DP et al.  Neurofibromatosis type 1: pathologic substrate of high-signal-intensity foci in the brain.  Radiology 195: 721-724, 1995. 

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