HISTOPLASMOSE
Histórico.
Descoberta por S. Darling em 1906 ao necropsiar 3 pacientes na região
do Canal do Panamá. O agente etiológico foi considerado um
fungo em brotamento por Rocha Lima em 1912. De Monbreun (1933-34)
confirmou a natureza fúngica obtendo culturas a partir de material
clínico. Demonstrou que o Histoplasma capsulatum é
um fungo difásico, que cresce na forma de micélio filamentoso
a 28ºC, em cultura em materiais comuns. Em agar sangue a 37ºC,
apresenta-se na forma de micélio unicelular em brotamento (ou gemulante,
a mesma encontrada nos tecidos parasitados). Primeira observação
na América do Sul – Baliña et al (1941) em Buenos Aires.
Em 1949, Emmons conseguiu o isolamento do fungo a partir do solo, demonstrando
ser esta a fonte de infecção para homem e animais.
Etiologia.
No continente americano a histoplasmose tem um único agente, o Histoplasma
capsulatum. É encontrado nos tecidos parasitados na forma de
células esféricas ou ovóides (leveduras), de 3 a 4
mm
de diâmetro, às vezes com um único brotamento em um
dos polos. Na maioria, são encontrados no citoplasma de macrófagos.
Em preparações por HE ou Giemsa, mostram a parede celular
descorada, que aparece como um halo claro. No interior, observa-se uma
única massa cromática, de forma semilunar, corada em violeta
ou azul escuro. Com PAS, tomam cor vermelha ou magenta. O melhor método
de coloração é a metenamina-prata de Grocott, que
cora a parede celular do fungo em marrom a negro. Uma breve contracoloração
por HE revela as células do tecido em tons suaves, permitindo estudar
a localização predominantemente intracelular dos parasitas.
Epidemiologia.
Infecção por Histoplasma capsulatum é adquirida
por inalação de partículas de poeira a partir de solo
contaminado por fezes de pássaros ou morcegos. Estas contêm
os esporos (microconidia) que são a forma infecciosa do fungo.
A doença não é transmissível homem a homem,
nem de animais para o homem. O fungo vive saprofiticamente no solo, em
sua fase filamentosa, e seus esporos são inalados ou ingeridos pelo
homem ou animais. É freqüentemente isolado de terras ricas
em dejetos de aves, que não se infectam. O fungo foi também
encontrado em porões ou grutas habitadas por morcegos frugívoros
e de hábitos noturnos.
A infecção
pelo fungo é comum (estimada em 25% da população nos
Estados Unidos), mas a doença é rara. Inquéritos epidemiológicos
com a reação de hipersensibilidade cutânea à
histoplasmina (análoga ao teste de Mantoux com tuberculina) revelaram
que os casos de histoplasmose diagnosticados clinica- ou micologicamente
correspondem de 1:1000 a 1:2000 do total de infectados (que tiveram contato
com o parasita). A grande maioria das pessoas que habitam zonas endêmicas
apresenta infecções assintomáticas ou subclínicas
que
se curam espontaneamente, deixando calcificações pulmonares
em 1/3 dos casos. Ambos sexos, e todas idades e raças podem ser
afetadas. Há dois picos de incidência, um na infância,
com maior envolvimento do sistema linfo-reticular, e outro na 5a. – 6a.
décadas.
Formas clínicas.
Como o Mycobacterium tuberculosis, o Histoplasma capsulatum
é um parasita intracelular de macrófagos. As apresentações
clínicas e lesões patológicas da histoplasmose são
notavelmente semelhantes às da tuberculose. As principais
formas da doença incluem :
1) doença
pulmonar primária, latente e autolimitada, que pode resultar em
lesões numulares em radiografias de tórax;
2) doença
pulmonar secundária, crônica e progressiva, localizada aos
ápices pulmonares, e que pode causar tosse, febre, e sudorese noturna;
3) lesões
em sítios extrapulmonares, como mediastino, adrenais e meninges;
4) doença
sistêmica disseminada, particularmente em imunodeprimidos.
Patogênese.
O macrófago é o principal alvo do fungo, que é internalizado
(fagocitado) após opsonização por anticorpos. Além
disso, o fungo expressa a proteína de choque térmico 60 (heat
shock protein 60 ou HSP60) na superfície celular, que se liga
a beta-2 integrinas na superfície dos macrófagos. Os histoplasmas
que são fagocitados por macrófagos não previamente
estimulados multiplicam-se nos fagolisossomos, levando à lise dos
macrófagos. Após o primeiro contato, linfócitos T
helper CD4+ passam a reconhecer os antígenos e as HSP na superfície
do fungo e secretam intérferon gama que ativa os macrófagos
a matar os parasitas intracelulares. Os macrófagos também
secretam TNF (tumor necrosis factor), que recruta mais macrófagos
e também os estimula a lisar os fungos. Pacientes com AIDS,
deficientes em imunidade celular, são presas freqüentes da
infecção.
Anatomia Patológica.
Em pulmões de adultos sadios, infecção por Histoplasma
produz granulomas de células epitelióides, que sofrem necrose
caseosa e podem confluir, formando grandes áreas de consolidação.
Liquefação da necrose e eliminação por brônquios
resulta em cavernas como as da tuberculose, mas menos freqüentemente
que naquela. Quando a doença é controlada espontaneamente
ou por drogas, as lesões evoluem a fibrose. As lesões
são muito parecidas às da tuberculose, sarcoidose e outras
micoses. A diferenciação requer a demonstração
dos fungos, que se apresentam como leveduras pequenas de 3-5 mm,
com paredes finas, que se coram fortemente pelo método de Grocott
da metenamina prata. Reproduzem-se por brotamento simples. Com HE
aparecem bem menores, lembrando leishmânias, pois só a parte
central do fungo se cora. Os parasitas podem persistir no tecido por anos.
Na forma disseminada em imunosuprimidos não há formação
de granulomas. Os macrófagos estão ingurgitados por incontáveis
parasitas que preenchem todo o citoplasma das células, e são
encontrados em todos órgãos e tecidos. Outros métodos
de diagnóstico incluem a cultura do fungo e testes sorológicos.
Anticorpos são formados já entre 2 a 6 semanas da infecção.
Neurohistoplasmose.
Envolvimento do sistema nervoso central é raro na histoplasmose
(cerca de 7% dos casos) e secundário a doença pulmonar.
De 26 pacientes em uma série, 15 tinham meningite, geralmente limitada
à base do cérebro.
Principais fontes.
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