Tumores
do plexo coróide.
Papiloma
do plexo coróide.
Definição.
Tumor ventricular benigno, derivado do epitélio do plexo coróide,
com atividade mitótica muito baixa ou ausente. Há geralmente
cura total após ressecção completa. Correspondem
ao grau I da OMS.
Microscopia.
As células assemelham-se às normais do plexo coróide,
com atividade mitótica mínima ou ausente (<2 / 10 campos
de grande aumento), mas tendem a ser colunares mais altas e superfície
mais retilínea, que contrasta com o padrão em pedras de calçamento
(cobblestone pattern) do plexo normal. Praticamente todos
tumores do plexo expressam vimentina e citoqueratinas. A maioria são
positivos para Ck7, Ck20 menos comum. EMA freqüentemente negativo
ou só focal e fracamente positivo. Positividade forte para EMA favorece
outros tumores. Transtiretina (pré-albumina) é positiva
no plexo coróide normal e na maioria dos tumores, tendendo a ser
fraca ou negativa nos tumores mais malignos. Por outro lado, alguns carcinomas
metastáticos também podem expressar, limitando sua utilidade.
A maioria dos tumores do plexo são positivos para S-100, o que pode
estar relacionado a idade mais adiantada e melhor prognóstico.
Prognóstico.
Papilomas do plexo são curados em até 100% dos casos por
cirurgia apenas. A extensão da ressecção foi
o determinante mais importante para a cura local (100% para ressecção
completa, 68% para parcial). Crianças < 3 anos têm
prognóstico excelente após cirurgia apenas. Malignização
de papilomas do plexo é descrita, mas muito rara.
Papiloma
atípico do plexo coróide.
Definição.
Tumor com aumento da atividade mitótica, mas que não preenche
os critérios para carcinoma do plexo coróide. Papilomas atípicos
do plexo coróide em crianças maiores que 3 anos e em adultos
têm maior probabilidade de recidiva que papilomas clássicos.
Correspondem ao grau II da OMS.
Epidemiologia.
Tumores do plexo coróide representam 0,77% (0,3 a 0,8%) dos tumores
cerebrais, correspondendo a 2 a 4% dos que ocorrem em crianças abaixo
dos 15 anos e 14% (10 a 20%) dos que ocorrem no primeiro ano de vida.
Papilomas típicos correspondem a 58,2 % dos tumores do plexo coróide.
Os papilomas atípicos (grau II) respondem por 7,4% dos tumores do
plexo coróide e ocorrem em idade mais tenra (mediana 0,7 anos).
Pacientes com papiloma comum e carcinoma têm idade média de
2,3 anos.
Localização.
Papilomas típicos do plexo coróide ocorrem em topografia
supra- e infratentorial com igual freqüência. Já
os papilomas atípicos são mais comuns nos ventrículos
laterais, com 83%, no III ventrículo com 13% e IV ventrículo
com 3%. Os tumores do IV ventrículo estão distribuídos
de forma mais ou menos uniforme em todas as faixas etárias. Já
tumores dos ventrículos laterais predominam fortemente em crianças.
A idade mediana de pacientes com tumores dos ventrículos laterais
ou III ventrículo foi 1,5 anos, comparada com 22,5 anos para tumores
do IV ventrículo e 35,5 para tumores do ângulo ponto-cerebelar.
Disseminação.
Papilomas atípicos do plexo coróide já mostram metástases
quando do diagnóstico em 17% dos casos.
Clínica, imagem
e macroscopia. Não
há diferenças significativas entre papilomas típicos
e atípicos do plexo coróide.
Microscopia.
O papiloma atípico do plexo coróide é definido pelo
aumento da atividade mitótica. Em um estudo, estabeleceu-se
número igual ou superior a 2 mitoses por 10 campos de grande aumento
(0,23 mm2) selecionados aleatoriamente como limite de corte. Além
disso, pode haver uma ou duas das seguintes 4 feições : aumento
de celularidade, pleomorfismo nuclear, perda da arquitetura papilífera
(crescimento sólido) e áreas de necrose. Porém, esses
critérios não são necessários para o diagnóstico
de papiloma atípico.
Imunohistoquímica.
Na reação para proteína S-100, negatividade
em mais de 50% das células associou-se a um curso clínico
mais agressivo.
Prognóstico.
Em uma série de 124 papilomas do plexo coróide o aumento
da atividade mitótica foi a única feição histológica
independentemente associada com recidivas. Tumores com duas ou mais mitoses
por 10 campos tiveram probabilidade de recidiva aos 5 anos 4,9 vezes maior
que os com menos de 2 mitoses. A sobrevida total e sobrevida livre de doença
aos 5 anos para papilomas atípicos foi 89 e 83 %. Há
evidência de que o diagnóstico de papiloma atípico
é mais prognosticamente relevante em crianças maiores que
3 anos e adultos que nas menores de 3 anos. Estas parecem ter bom
prognóstico mesmo com papilomas de alta proliferação.
Carcinoma
do plexo coróide.
Definição.
Tumor francamente maligno que ocorre mais comumente no ventrículo
lateral de crianças. Mostra pelo menos 4 das 5 feições
a seguir : alto índice mitótico (> 5 por 10 campos),
aumento de celularidade, pleomorfismo nuclear, perda da arquitetura papilífera
(crescimento sólido) e áreas de necrose. Há tendência
a invasão de estruturas cerebrais vizinhas e disseminação
liquórica. Correspondem ao grau III da OMS.
Epidemiologia.
Carcinomas do plexo coróide representam cerca de 34,4 % dos tumores
desta estrutura e cerca de 80% ocorrem em crianças. A localização
típica é nos ventrículos laterais.
Imagem.
São grandes massas intraventriculares heterogêneas em T1 e
T2, com impregnação periférica irregular, edema do
cérebro adjacente, hidrocefalia e disseminação liquórica,
presente em 21% dos casos quando do diagnóstico. O risco de
recidiva local ou metástases liquóricas é 20 vezes
maior que com papilomas.
Microscopicamente,
são tumores francamente malignos que mostram as feições
já mencionadas. Expressam citoqueratinas, mas são menos
positivos para S-100 e transtiretina que os papilomas. EMA é geralmente
negativo. Há freqüente positividade para p53. Há mutação
do gene p53 em cerca de 50% dos casos. Outros trabalhos sugerem disfunção
de p53 em praticamente todos os carcinomas do plexo, o que é associado
a maior instabilidade do genoma. O índice Ki67 foi descrito como
<0,1% para plexo coróide normal, 1,9% (0,2 a 6%) para papilomas
e 13,8% (7,3 a 60%) para carcinomas. Não há menção
de índices para papiloma atípico.
Genética.
Cerca de 40% dos carcinomas do plexo coróide estão associados
a mutação na linha germinativa para o gene p53 e com a síndrome
de Li Fraumeni. Contudo, no espectro dos tumores associados à
síndrome, os carcinomas do plexo estão entre os menos freqüentes.
Mesmo assim, a associação é tão forte que se
recomenda que qualquer paciente com carcinoma do plexo coróide seja
testado para mutação germinativa para p53.
Prognóstico.
A sobrevida total de 3 e 5 anos é de 83 e 62 %; e a sobrevida livre
de progressão como 58 e 38%. O único fator de impacto
é a qualidade da ressecção cirúrgica. Radioterapia
adjuvante parece não ter melhorado o prognóstico. Pacientes
com ausência de mutação em p53 parecem ter evolução
melhor. Perda do braço longo do cromossomo 12 leva a sobrevida significantemente
menor.
Fonte.
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Paulus W, Brandner
S, Hawkins C, Tihan T. Choroid Plexus Papilloma; Atypical Choroid
Plexus Papilloma; Choroid Plexus Carcinoma. In WHO Classification
of Tumours of the Central Nervous System. 4th Revised Ed. Louis
DN, et al, editors. International Agency for Research on Cancer,
Lyon, 2016. pp 124-9.
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