Encefaloceles.
São
menos freqüentes (1 a 3 casos por 10.000 nascidos vivos) que a anencefalia
ou a spina bífida cística. Há preferência pelo
sexo feminino. As encefaloceles contêm tecido cerebral, ausente nas
meningoceles cranianas, estas mais raras.
Localização.
O local mais comum das encefaloceles é occipital. Podem afetar a
escama do osso occipital, deixando a fossa posterior intacta, ou o base
do occipital, com aumento do foramen magno e, ocasionalmente, agenesia
do arco posterior do atlas. Encefaloceles frontais são menos
comuns, sendo mais freqüentes no sudeste asiático que nos países
ocidentais. Ocorrem principalmente na junção fronto-etmoidal,
com protrusão do cérebro
no nariz, ou na órbita
(clique para casos). Encefaloceles são raras em outros pontos
da linha média, como as fontanelas anterior e posterior ou entre
os ossos parietais. Excepcionalmente afetam a base do crânio,
manifestando-se como massa faríngea. O defeito ósseo nestes
casos pode ser transetmoidal, esfenoetmoidal ou transesfenoidal.
Anatomia Patológica.
Encefaloceles são massas de tecido cerebral, pedunculadas ou com
base de implantação larga, cobertas por pele e dura-máter.
A pele pode ser pilificada, dependendo do sítio, e pode ulcerar-se
secundariamente. As grandes encefaloceles contêm partes herniadas
dos hemisférios cerebrais, com padrão giral preservado. A
herniação pode incluir o ventrículo
lateral e plexo coróide. Outras encefaloceles podem ser desorganizadas
e consistir de ilhotas de tecido glioneuronal, inclusive contendo epêndima.
Tecido
cerebelar (malformado ou não) é freqüentemente encontrado
nas encefaloceles occipitais. Ilhotas de tecido neuroectodérmico
anômalo (nódulos gliais heterotópicos)
são envolvidas por leptomeninges com abundantes capilares sinusoidais,
por persistência da vascularização
meníngea fetal.
Encefaloceles
causam deformidades importantes de outras partes do cérebro. A maioria
se liga a um dos hemisférios apenas, o qual fica menor que o contralateral.
Os hemisférios ficam deslocados em relação aos compartimentos
intracranianos onde habitualmente se situam. O hemisfério contralateral
tende a estender-se para o outro lado da linha média. O lobo frontal
contralateral, p. ex., pode ocupar ambas fossas anteriores. Esses deslocamentos
causam estiramentos e dobramentos dos nervos cranianos, especialmente dos
nervos ópticos, que sofrem atrofia. O mesmo ocorre com o hipotálamo
e com as artérias cerebrais. A arquitetura dos giros herniados
geralmente é preservada, e polimicrogiria
não é uma feição característica (contudo,
foi observada no presente caso). Pode coexistir com agenesia do corpo caloso
e deformidades ou fusão dos ventrículos. A persistência
da vascularização fetal das meninges não se restringe
à encefalocele, mas é vista também nas proximidades,
inclusive no tronco cerebral e medula espinal.
Encefaloceles
tipicamente associam-se a outras deformidades dos ossos do crânio.
As fossas cranianas são menores que o normal e há hipoplasia
dos ossos escamosos da calota (ver craniofenestria na TC
do presente caso). A foice do cérebro e a tenda do cerebelo
podem estar ausentes ou hipoplásicas. Os ossos da face são
menos afetados.
Complicações
das encefaloceles incluem infecção, com leptomeningite purulenta
e abscessos, e distúrbios circulatórios por compressão
vascular, com infartos recentes ou antigos.
Fonte. Friede
RL. Developmental Neuropathology. 2nd Ed. Springer Verlag, Berlin,
1989. pp. 282-5. |