Hialinose  arteriolar  e  hialinização glomerular  na  hipertensão  arterial
Lam. A. 98

 

 
            O propósito deste corte de rim é demonstrar duas alterações hialinas conjuntivas muito comuns na prática diária. Ambas ocorrem na hipertensão arterial sistêmica benigna e são designadas como  hialinose arteriolar e hialinização glomerular. São observadas  de maneira focal e esparsa na camada cortical dos rins e a segunda é conseqüência da primeira. 
            A hialinose arteriolar causa espessamento da parede e redução da luz de arteríolas aferentes glomerulares, levando a isquemia e destruição de vários glomérulos.  Esses glomérulos apresentam fibrose (hialinização), tornando-se atróficos e não funcionantes.  Contudo, como as alterações são focais, grande parte do parênquima renal ainda permanece ativa e os pacientes com hipertensão arterial benigna não apresentam insuficiência renal crônica

 

 
 
A HIALINOSE  ARTERIOLAR  (também conhecida por arteriolosclerose hialina) é a deposição de material proteico de aspecto hialino em posição subendotelial em arteríolas, isto é, entre o endotélio e a camada média. 
 
  • Hialino quer dizer semelhante a vidro (em grego, hyalos = vidro). Em Anatomia Patológica o termo é usado para substâncias cujo aspecto microscópico é homogêneo e eosinófilo (que se cora pela eosina, portanto em róseo). 
  • Eosinófilo é o mesmo que acidófilo, por ser a eosina um corante ácido. 
  • Já o termo basófilo é usado para substâncias que na HE se coram em roxo pela hematoxilina, um corante básico. De modo geral, os núcleos são basófilos e o citoplasma é eosinófilo. 
  • Arteríolas são as últimas ramificações da árvore arterial antes dos capilares. Têm uma ou duas camadas de células musculares lisas apenas e não têm membrana elástica interna. 

            A hialinose arteriolar ocorre  por filtração de proteínas do plasma através do endotélio. Não é patognomônica (exclusiva) de nenhuma doença, sendo observada em arteríolas de indivíduos normais com o avançar da idade, especialmente nas arteríolas do baço. Contudo, ocorre de forma mais precoce e intensa na hipertensão arterial e no diabetes mellitus.   No rim, afeta especialmente as arteríolas aferentes glomerulares.  Admite-se que a pressão arterial elevada (mínima > 90 mmHg) gradualmente lesa as células endoteliais, alterando sua permeabilidade. 

COMPARAÇÃO
HIALINOSE   ARTERIOLAR
ARTERÍOLAS  NORMAIS

 
 
 
ARTERIOSCLEROSE.   Outra alteração vascular comum no envelhecimento, na hipertensão e no diabetes é a arteriosclerose de pequenas artérias renais e de outros órgãos. Ocorre em  artérias um pouco mais calibrosas que as arteríolas (definição destas acima). Caracteriza-se por espessamento da camada íntima por fibras musculares lisas ou fibroblastos, fibras colágenas e substância fundamental do tecido conjuntivo. Não tem o aspecto homogêneo característico da hialinose arteriolar ou arteriolosclerose hialina, com a qual não deve ser confundida. 

Na realidade, o termo arteriosclerose é muito mais amplo e não se restringe às alterações demonstradas nesta lâmina. Arteriosclerose quer dizer endurecimento arterial (esclero = duro) e engloba várias alterações caracterizadas por espessamento da camada íntima de artérias de qualquer calibre. Aí estão incluídas a aterosclerose, que é a principal forma da arteriosclerose (arteriosclerose de grandes artérias), a arteriosclerose calcificada da camada média ou de Mönckeberg (artéria em traquéia de passarinho), e a arteriolosclerose, que tem dois tipos básicos: a arteriolosclerose hialina (= hialinose arteriolar, acima) e a arteriolosclerose hiperplásica com lesões em casca de cebola, característica da hipertensão arterial maligna.  Esses vários subtipos serão estudados em Patologia Cardiovascular e em Uronefropatologia


 
 
GLOMÉRULOS  HIALINIZADOS.   São glomérulos que sofreram isquemia (falta de irrigação) em conseqüência das lesões vasculares descritas acima, artériosclerose e arteríolosclerose, levando a degeneração das células constituintes dos mesmos, particularmente dos podócitos, que são as células epiteliais integrantes do aparelho de filtração.  A morte dos podócitos e das células endoteliais leva ao colapso da membrana basal dos capilares glomerulares, que se condensa, transformando o glomérulo em uma bola hialina.  Paralelamente, há espessamento fibroso do folheto parietal da cápsula de Bowman, que se funde aos tufos capilares atrofiados.  Funcionalmente, isto resulta na parada de produção de urina por aquele glomérulo. 
EXEMPLOS  DE  GLOMÉRULOS  HIALINIZADOS
COMPARAÇÃO PARA VER DIFERENÇAS DE ESTRUTURA   (não no mesmo aumento)
HIALINIZAÇÃO  GLOMERULAR
GLOMÉRULOS  NORMAIS

 
COMPARAÇÃO ENTRE GLOMÉRULOS  FOTOGRAFADOS NO MESMO AUMENTO 
HIALINIZADOS
NORMAIS
Notar a grande redução de volume que sofre o glomérulo durante o processo de hialinização. Isto se deve à perda de células (podócitos, células endoteliais e mesangiais) e fechamento da luz dos capilares. O diâmetro do glomérulo hialinizado fica entre metade e um terço do normal. 

 
 
CILINDROS HIALINOS são um achado comum em várias doenças renais e nesta lâmina são freqüentes.  Correspondem a proteínas do plasma filtradas no glomérulo e condensadas na luz tubular. Sua presença indica que o glomérulo está mais permeável que o habitual.  A importância de reconhecer os cilindros hialinos é não confundi-los com glomérulos hialinizados.  A diferenciação é fácil: em volta do cilindro há células tubulares e um espaço vazio decorrente da retração do cilindro durante a fixação.  O cilindro em si é totalmente acelular, diferente  dos glomérulos hialinizados onde se notam pelo menos alguns núcleos. 

 
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