Xantoastrocitoma  pleomórfico temporal com acúmulo citoplasmático de glicogênio 2.  Macro, HE, colorações

 
Espécime. Grande massa neoplásica enviada em peça única, com cerca de 8 cm. no maior diâmetro, aderida por um istmo ao polo temporal.  Na foto à D, peça vista pelo verso. 
O tecido neoplásico era macio, esponjoso e de cor pardacenta. Ao corte, a parte central era esbranquiçada e mais compacta. 
O lobo temporal que acompanhava o tumor aos cortes mostrava córtex cerebral e substância branca normais. O limite com o tumor era preciso, aparentemente sem infiltração da margem. 

 
HISTOLOGIA - HE
Aspecto geral  do tumor.  .
Tecido neoplásico de linhagem
astrocitária, com células volumosas, em geral acentuadamente atípicas, dispostas em torno de eixos conjuntivo- vasculares tomando aspecto pseudopapilífero. 
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Pleomorfismo  acentuado. Era certamente a feição mais chamativa deste exemplar.  Havia grande variação de tamanho e forma das células, núcleos enormes, pseudoinclusões bizarras, multinucleação.  Contudo, apesar de todas aberrações, não foram observadas figuras de mitose.  É esta desproporção entre o pleomorfismo do tumor e a quantidade de mitoses que deve levantar, na mente do patologista, a hipótese de xantoastrocitoma pleomórfico, e evitar o diagnóstico errôneo de glioblastoma multiforme. 
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Atipias nucleares, pseudoinclusões.  Pseudoinclusões são lingüetas de citoplasma que se insinuam em dobras da membrana nuclear, criando a ilusão de material intranuclear.  Quanto mais irregular o núcleo, maior a chance de aparecerem pseudoinclusões. Em si, não têm maior significado.  Ver seu aspecto na imunohistoquímica para GFAP, VIM e em microscopia eletrônica
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Depósitos citoplasmáticos.  Outra curiosa feição deste espécime foi o grande número de células com material acumulado em certa área do citoplasma, de aspecto mais claro e finamente granuloso, contorno arredondado e limites nítidos. Geralmente, havia apenas uma destas inclusões por célula, que deslocava o núcleo. Só poucas células tinham aspecto realmente xantomatoso. 
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Vasos. 

O tumor era ricamente vascularizado, com muitos vasos anômalos. Havia vasos de parede hialinizada, espessada, com várias luzes, inclusive formações glomerulóides, e trombose. 

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Necrose coagulativa. 

Uma pequena quantidade de focos de necrose coagulativa era observada no tumor, em descompasso com a intensidade do pleomorfismo celular. 

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Aspecto gemistocítico.   Em áreas, o tumor tinha o aspecto clássico de um astrocitoma gemistocítico e lembrava o chamado astrocitoma subependimário de células gigantes da esclerose tuberosa.  Contudo, este diagnóstico está afastado em vista dos exames de imagem, que não mostravam relação do tumor com o sistema ventricular.  Além disso, a paciente não apresentava estigmas daquela doença. 
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Delimitação entre o tumor e o cérebro. 

Como já notado na macroscopia, havia um limite nítido entre o tumor e o tecido nervoso vizinho. Não foi observada a infiltração em gradiente  característica dos astrocitomas difusos.  Isto é compatível com o bom prognóstico associado ao xantoastrocitoma. 


 
COLORAÇÕES  ESPECIAIS
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Tricrômico de Masson. 

Cora colágeno em azul e as células tumorais num tom arroxeado a róseo.  Aqui, mostra áreas com feixes densos de colágeno, mas, na maior parte, o tumor era pobre em tecido fibroso, que estava restrito aos vasos e a poucas fibras delicadas entre as células. 

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Reticulina. Como colágeno, era restrita aos vasos e seu entorno. Ocasionais áreas com fibras entre as células neoplásicas, mas de modo geral escassas. 
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ORO. Coloração para gorduras neutras em cortes de congelação (aqui executada no material já fixado em formol, pois não dispúnhamos de material a fresco). Foi negativa nas células neoplásicas, positiva apenas em macrófagos (achado inespecífico, pois pode aparecer em qualquer tumor ou tecido lesado não neoplásico). Mostra que as células neoplásicas não armazenam lípide, o que confirmamos também por microscopia eletrônica.  Portanto, o termo xantoastrocitoma a rigor não é adequado para este espécime em particular, embora, do ponto de vista de entidade nosológica, enquadre-se bem dentro do conceito - tumor astrocitário em pessoa jovem, associado a epilepsia, superficial, sólido-cistico, captante, e com boa delimitação em relação ao cérebro, esperando-se bom prognóstico. 
PAS. 

Reação histoquímica para grupos açúcar, é utilizada para demonstração de glicogênio. Para este fim, usam-se como controles cortes pré-incubados com diastase (amilase salivar).  Se o material reativo desaparecer nos cortes pré-incubados, considera-se positivo para glicogênio. 

No presente caso, os depósitos intracitoplasmático foram fortemente positivos no PAS, indicando sua natureza glicídica.  A digestão do corte com saliva removeu o material, indicando tratar-se de glicogênio. Este é o primeiro caso de nossa experiência em que isso ocorre e não encontramos precedente na literatura.  O material acumulado lembra um pouco os assim chamados corpos amiláceos, substância acumulada em prolongamentos astrocitários e constituído por poliglucosan.  Contudo, corpos amiláceos não são digeridos por diastase. 
PAS sem diastase. Coloração de fundo por hematoxilina. 
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PAS com diastase + hematoxilina.  Os depósitos citoplasmáticos não reagem mais após digestão pela amilase salivar. Raras células ainda estão positivas (ou a digestão não foi suficiente ou se trata de outro tipo de polímero). 
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Caso do Hospital da Santa Casa de Limeira, gentilmente contribuído pelos Drs. Antonio Augusto Roth Vargas, Marcelo Senna Xavier de Lima e Paulo Roland Kaleff.
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 Para mais imagens deste caso: TC IH ME
Características de imagem dos xantoastrocitomas Sobre o xantoastrocitoma pleomórfico
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