Encefalopatia
pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV).
Incidência.
Afecções neurológicas são as manifestações
iniciais da AIDS em 7 a 20% dos pacientes. As alterações
neuropatológicas podem ser causadas pelo próprio HIV ou outros
agentes infecciosos oportunistas, como a toxoplasmose, citomegalovirose,
o vírus JC, causador da leucoencefalopatia multifocal progressiva
(LEMP), fungos, e outros.
Clínica.
A encefalopatia do HIV, também conhecida como complexo AIDS-demência,
é uma doença demencial progressiva. O HIV infecta o cérebro
e o líquor já na fase inicial da AIDS. A quantidade
de vírus no líquor é preditora do risco de demência.
Tipicamente, a encefalopatia do HIV ocorre em pacientes com imunodeficiência
severa e coexistência de doenças sistêmicas. É
incomum que seja a manifestação inicial da AIDS. O início
é insidioso, com distúrbios do intelecto e memória,
e lentificação psicomotora progressiva. Em comparação
com a leucoencefalopatia multifocal progressiva (LEMP), a encefalopatia
do HIV mostra clinicamente retardamento mental e comprometimento da memória
ao longo de vários meses, enquanto que a LEMP se caracteriza por
sinais neurológicos focais cursando por semanas a meses. Na
RM, as lesões da LEMP são
mais subcorticais e focais, enquanto que na encefalopatia do HIV são
mais difusas e profundas.
Patologia.
Na maioria dos casos de encefalopatia do HIV não complicada por
outras doenças, como toxoplasmose, o grau de atrofia cerebral é
pequeno. Há afecção preferencial da substância
branca dos hemisférios cerebrais e da substância cinzenta
profunda, como os núcleos da base e tálamos. O córtex
é relativamente poupado. Histologicamente, a mielina mostra palidez
difusa, tanto nos hemisférios cerebrais como no cerebelo. Há
vacuolização, perda da mielina e axônios, podendo chegar
a necrose. Pode haver um baixo grau de inflamação crônica,
associada à infiltração por macrófagos, aumento
no número de células microgliais e astrócitos reativos.
O infiltrado microglial pode formam nódulos gliais bem definidos.
A feição mais distintiva da encefalopatia do HIV são
as células gigantes multinucleadas, encontradas em espaços
perivasculares e no parênquima cerebral. As localizações
mais comuns são a substância branca, núcleos da base
e tálamos.
Ressonância magnética.
O achado mais comum é a atrofia cerebral. Nas fases iniciais da
doença há pequenos focos de hipersinal na substância
branca periventricular nas seqüências com TR longo, que não
apresentam edema ou efeito de massa. Com a progressão, há
confluência das lesões pequenas, e/ou hipersinal difuso e
simétrico na substância branca profunda e periventricular,
que pode envolver os núcleos da base, tálamos e tronco cerebral.
Estudos de acompanhamento após instituição de terapia
antiretroviral de alta atividade (highly active antiretroviral therapy
ou HAART) mostraram estabilização ou regressão das
alterações de sinal.
Fonte:
Nusbaum AO, Fung K-M, Atlas SW. Chapter 13. White matter diseases
and inherited metabolic disorders. In Atlas SW (editor) Magnetic
Resonance Imaging of the Brain and Spine, 3rd. Ed, Lippincott, Williams
& Wilkins, Philadelphia, 2002, p. 501. |