Leucoencefalopatia
progressiva multifocal (LEMP)
Primeira
descrição – Åström et al., 1958.
Clínica.
Início insidioso com demência, perda visual, às vezes
ataxia, com curso progressivo e fatal em cerca de 6 meses. Pacientes geralmente
na meia idade e imunocomprometidos. A multiplicidade dos sintomas reflete
a desmielinização disseminada e multifocal da substância
branca.
Etiologia.
Em 1965 foram observadas partículas virais em corpúsculos
de inclusão em oligodendrócitos. O isolamento do vírus
foi conseguido por cultura em células gliais fetais humanas a partir
de amostras do cérebro do paciente JC obtidas em autópsia.
O vírus
JC pertence ao gênero Polyomavirus (assim chamado porque
todos produzem tumores em cérebro de hamster), do grupo Papova (papiloma,
polioma, agente vacuolizante).
Diagnóstico
é feito por métodos de imagem, pesquisa de anticorpos contra
vírus JC no líquor ou do DNA do vírus no líquor
ou tecido cerebral.
Epidemiologia.
Infecções pelo vírus JC e outro semelhante chamado
BK são comuns nas populações humanas. Há anticorpos
contra JCV em 27% das crianças com 9 anos, 65% aos 14 anos, e 80%
mais tarde. Anticorpos contra o vírus BK são encontrados
em 73% das crianças entre 4 e 6 anos. Polyomavirus são encontrados
na urina de 13% dos pacientes transplantados renais. Aparentemente, infecção
por estes vírus é precoce, e o vírus é reativado
por interferências com o sistema imune, como gravidez e doenças
que causem imunodepressão. Em indivíduos normais, ou
imunodeprimidos sem LEMP, o vírus não é detectável
no cérebro.
Patogênese.
O vírus provavelmente atinge o cérebro por via hematogênica,
talvez através de linfócitos B. Os vírions são
encontrados abundantemente em oligodendrócitos, raramente em astrócitos
e nunca em neurônios. A doença parece decorrer de uma deficiência
dos oligodendrócitos infectados em sintetizar e manter as bainhas
de mielina. Os astrócitos em áreas desmielinizadas podem
mostrar núcleos aumentados de volume e forma irregular ou bizarra.
A morte de neurônios não deve ser efeito direto do vírus.
Macroscopicamente,
ao corte, o cérebro mostra focos de desmielinização
disseminados na substância branca dos hemisférios cerebrais,
que aparecem como áreas acinzentadas, confluentes, com consistência
amolecida, chegando à de papa.. Lesões semelhantes podem
ocorrer no cerebelo e tronco cerebral.
Microscopicamente,
a alteração que mais chama atenção nas lesões
desmielinizantes são astrócitos aberrantes, volumosos, multinucleados
e com prolongamentos proeminentes. Os núcleos de oligodendrócitos
apresentam-se tumefeitos, e mostram inclusões basófilas ou
eosinófilas. São melhor observados na periferia dos focos
de desmielinização, pois no centro em geral não há
mais oligodendrócitos. Embora a lesão seja basicamente desmielinizante,
a preservação dos axônios é só relativa,
e eles também terminam por perecer. O centro das lesões é
tipicamente necrótico, com reação macrofágica,
como em infartos. Infiltrado linfocitário inespecífico também
pode estar associado às lesões. Em pacientes com AIDS
as lesões tendem a ser particularmente severas, sendo possível
que haja sinergismo entre o JCV e o HIV.
Fonte
– Esiri MM, Kennedy PGE. Viral diseases. in Greenfield’s
Neuropathology, 6th Ed. Graham DI, Lantos PL (Eds.). Arnold, London, 1997.
pp. 42-46.
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