Ganglioglioma anaplásico. 4. IH para marcadores neuronais 
(SNF, cromogranina, MAP2, NeuN), CD34, Ki-67
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Fem. 52 a.  Clique para : exames de imagem, macro, esfregaço, lâminas escaneadas, parafina HE, e imunohistoquímica para marcadores gliais e nestina
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SNF. 

Sinaptofisina (SNF) é uma proteína presente em vesículas sinápticas e marcadora de diferenciação neuronal (ver texto). A positividade para sinaptofisina no ganglioglioma era escassa em relação ao tecido nervoso limítrofe (à esquerda na foto ao lado), mas havia numerosas células indiscutivelmente marcadas (mais abaixo). O diagnóstico de ganglioglioma baseou-se nesta positividade, e para outros marcadores neuronais : cromogranina, MAP2 e NeuN. Para breve texto sobre estes, clique

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SNF. A marcação é citoplasmática e delimita o contorno da célula. Os núcleos são sempre negativos. Há variação no aspecto dos núcleos das células positivas. Alguns lembram núcleos de neurônios, com nucléolos evidentes. Em outras células, os núcleos são menores e sem nucléolos, parecendo núcleos de astrócitos. Há formas de transição. Portanto, não parece haver correlação nítida entre a morfologia nuclear e a positividade para sinaptofisina, aliás como já observado em antígenos gliais (GFAP, VIM e S-100). 
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Cromogranina.  Trata-se de outra proteína associada a vesículas sinápticas e marcadora de diferenciação neuronal ou neuroendócrina (ver texto). Os resultados praticamente se superpõem aos com SNF, acima. Há marcação citoplasmática de parte das células. Os núcleos das células positivas podem parecer-se com os de neurônios (maiores, com nucléolos) ou de astrócitos (menores, sem nucléolos). Células com núcleos de aparência semelhante podem ser positivas ou negativas e estarem lado a lado. 

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MAP2. 

Proteína associada a microtúbulos (Microtubule Associated Protein) é considerada um dos melhores marcadores de linhagem neuronal (ver texto). Aqui, a grande maioria das células  neoplásicas apresenta algum grau de marcação, sempre apenas citoplasmática. Os eixos conjuntivos e vasos são negativos e servem de controle interno. Para controle interno positivo, ver córtex limítrofe ao tumor

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MAP2. Há positividade para uma proporção muito maior de células com MAP2 do que o observado acima com SNF e cromogranina.  O resultado levanta a dúvida se seriam todas elas efetivamente de 'linhagem neuronal'. A marcação não parece destacar todas as células neoplásicas, há várias negativas. Lembrar que estes marcadores referem-se a proteínas celulares diferentes, que podem ser sintetizados em fases diferentes da evolução celular (tentando explicar as discrepâncias). 
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MAP2 -  Mitoses.  Muitas células marcadas por MAP2 encontram-se em diferentes fases do ciclo mitótico. Abaixo documentamos uma prófase (fase inicial, em que há individualização dos cromossomos no interior do núcleo antes da dissolução da membrana nuclear), e uma anáfase (em que os dois grupos de cromossomos se dirigem aos polos da célula). 
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MAP2 -  Córtex peritumoral.  Uma orla de córtex cerebral junto à neoplasia permite avaliar o comportamento dos neurônios 'normais' das proximidades. As células claramente reconhecíveis como neurônios pela morfologia são fortemente positivas no citoplasma. Células gliais (a julgar pela aparência do núcleo) não reagem. Pontos positivos no neurópilo devem corresponder a axônios. Os vasos servem de controle interno negativo. 

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NeuN. 

NeuN (Neuronal Nuclei) é uma proteína que se liga ao DNA e seria restrita aos núcleos de neurônios maduros. É considerada um dos melhores marcadores de neurônios da atualidade (ver texto). Contudo, neste ganglioglioma anaplásico,  onde não há neurônios maduros, muitas células estão marcadas, aparentemente restritas ao centro dos lóbulos tumorais. 

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NeuN - tumor.  A marcação é mais forte nos núcleos, ocorrendo também no citoplasma das células mais fortemente positivas. A positividade parece assaz aleatória, marcando células aparentemente ao acaso, positivas e negativas lado a lado, e com escassa correlação com a morfologia nuclear.  O aspecto recapitula achados com outros anticorpos testados neste caso. Mas, de modo geral, pode-se afirmar que nenhuma das células tumorais marcadas poderia ser chamada de neurônio maduro ou adulto. Para conferir achados no córtex peritumoral, clique. 
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NeuN.  Núcleos marcados que lembram astrócitos.   Estes dois campos abaixo são ilustrativos, pois as únicas células com marcação nuclear indiscutível assemelham-se mais a células da glia que a neurônios (núcleos menores, sem nucléolos). Por outro lado, núcleos que lembram fortemente os de neurônios são negativos (ao contrário do esperado). 
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NeuN.  Campos negativos.  Células em mitose aparentemente não marcam para NeuN. À direita, uma célula negativa com núcleo tipicamente neuronal. 
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NeuN.  Apoptose.  Células em apoptose não marcam para NeuN (setas nas fotos abaixo). 
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NeuN. Córtex peritumoral. 

Margem de córtex junto ao tumor, com marcação para NeuN restrita aos neurônios. A positividade é nuclear, ou também citoplasmática em algumas células. Nucléolos não se marcam. 

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Marcadores  neuronais  e  neuroendócrinos. 

MAP2.  O anticorpo anti-MAP2 reage com uma proteína do citoesqueleto de 300 kD, associada a microtúbulos (microtubule associated protein, isoformas MAP2A e MAP2B). É primariamente expressada na região somatodendrítica de neurônios, mas também encontrada na glia.  A proteína é localizada predominantemente em dendritos, onde acelera polimerização da tubulina, faz ligações cruzadas entre microtúbulos formando feixes estáveis, e liga microtúbulos a filamentos intermediários. As isoformas 2A e 2B são expressas em tecidos adultos, e há uma forma 2C em embriões. (Dados obtidos da bula do anticorpo, fabricante Invitrogen). 

NeuN.  (Neuronal Nuclei).  O anticorpo NeuN reconhece uma proteína que se liga ao DNA e é específica para neurônios. Está presente na maioria das células neuronais do tecido nervoso central e periférico, e na maioria das espécies de vertebrados. A distribuição é restrita a núcleos de neurônios, pericários e porções proximais de prolongamentos neuronais, tanto em cérebro fetal como adulto.  Alguns neurônios não são reconhecidos por NeuN, independente da idade – algumas células retinianas, células de Cajal-Retzius, células de Purkinje, neurônios do núcleo olivar inferior e núcleo denteado e células ganglionares simpáticas.  O aparecimento de proteína NeuN detectável por imunohistoquímica ocorre inicialmente quando o neuroblasto sai do ciclo celular e inicia diferenciação terminal para neurônio. Não há marcação em zonas proliferativas. A proteína aparece tanto no núcleo quanto no citoplasma. Não é claro se ela seria sintetizada no citoplasma e depois transportada ao núcleo. Como a reatividade é mais forte no núcleo, sugere-se que seja uma proteína reguladora nuclear, mas não se sabe se ela também teria função citoplasmática.  (Dados obtidos da bula do anticorpo, fabricante Millipore). 

Dados recentes de literatura sugerem que NeuN corresponderia ao produto do gene Fox-3, um novo membro da família Fox-1 de fatores de splicing (utilizados para remoção de íntrons transcritos do DNA, no processo de formação da molécula do RNA mensageiro). A expressão de Fox-3 é restrita a tecidos neurais. 

Ref.  Kim KK, Adelstein RS, Kawamoto S.  Identification of neuronal nuclei (NeuN) as Fox-3, a new member of the Fox-1 gene family of splicing factors. J Biol Chem. 2009 Nov 6;284(45):31052-61.
 

Cromogranina.   As cromograninas são uma família de proteínas ácidas solúveis com cerca de 68 kD. São as principais proteínas presentes no centro denso (dense core) de grânulos neurosecretores em células neuroendócrinas e neurônios simpáticos.  Análise ultraestrutural confirmou a localização das cromograninas à matriz dos grânulos neurosecretores (dense core vesicles).  As cromograninas ocorrem com máxima concentração na camada medular da adrenal, e em ordem decrescente, na adenohipófise, pars intermédia, neurohipófise, ilhotas de Langerhans do pâncreas, intestino delgado, células C da tiróide e hipotálamo.  O anticorpo marca a maioria das células neuroendócrinas normais e tumores delas derivados. Admite-se que cromograninas estabilizem a porção solúvel dos grânulos neurosecretores através de interação com ATP e catecolaminas, e são liberadas no soro após estimulação das células. São envolvidas no direcionamento dos hormônios peptídeos e neurotransmissores aos grânulos secretores e têm vários papéis no processo da secreção hormonal. 

A principal aplicação prática de anticorpos contra cromogranina é identificação de diferenciação neuroepitelial e neuroendócrina em tecidos normais ou tumorais. Cromogranina e sinaptofisina são considerados os marcadores neuroendócrinos mais específicos. 

Fonte: Leong AS-Y, Cooper K, Leong FJW-M.  Manual of Diagnostic Antibodies for Immunohistology. 1999, Greenwich Medical Media Ltd, London. p. 121-2. 
 

Sinaptofisina.  Sinaptofisina (38 kD) é uma glicoproteína integral da membrana de vesículas pré-sinápticas. Trata-se das vesículas sinápticas clássicas de centro ‘vazio’, recicladas localmente e presentes nos terminais axonais de praticamente todos os tipos de neurônios. Difere tanto química- quanto topograficamente das cromograninas (68 kD), que são as proteínas dos grânulos densos (dense core vesicles).  Anticorpos contra sinaptofisina reagem com vesículas pré-sinápticas neuronais no cérebro, medula espinal, retina, junções neuomusculares, pequenas vesículas da medular adrenal e ilhotas pancreáticas de tecidos humanos, bovinos, de ratos e camundongos. Em material normal, sinaptofisina marca células neuroendócrinas da camada medular da adrenal humana, corpo carotídeo, pele, hipófise, tiróide, pulmão, pâncreas e mucosa gastrointestinal. O anticorpo também marca tumores derivados destes tecidos, como feocromocitoma, paraganglioma, tumores de ilhotas de Langerhans, carcinoma medular da tiróide, tumores carcinóides de pulmão, mediastino e trato gastrointestinal, adenomas da hipófise e paratiróide, neuroblastomas, ganglioneuroblastomas, ganglioneuromas, neurocitoma central e gangliogliomas.  Sinaptofisina é um marcador sensível e específico para tumores neurais / neuroendócrinos de malignidade baixa ou alta, inclusive o carcinoma neuroendócrino de pequenas células (oat cell) do pulmão. O tecido recomendado como controle positivo é pâncreas (ilhotas). 

Fonte: Leong AS-Y, Cooper K, Leong FJW-M.  Manual of Diagnostic Antibodies for Immunohistology. 1999, Greenwich Medical Media Ltd, London. p. 307. 

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CD34. 

Marcador de endotélio, demonstra a vascularização caprichosa que divide o tumor em lóbulos.  Não raro, há proliferação de capilares nos septos conjuntivos. 

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CD34. 

Proliferação capilar no limite tumor - cérebro.

Na margem externa do tumor, na interface com o cérebro, notava-se proliferação capilar extensa, 'em guirlandas' como já mostrado em HE

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Ki-67. 

Positividade em cerca de 60% dos núcleos (estimativa visual, sem contagem). Indica tumor de rápido crescimento, corroborando o diagnóstico de ganglioglioma anaplásico (OMS grau III).
 

Ki-67.  Mitoses. Vistas na grande maioria como placas metafásicas típicas. 
Ki-67.  Apoptose.  Núcleos hipercromáticos em fragmentação (corpos apoptóticos). Ausência de marcação por Ki-67.
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Imunohistoquímica para MAP2 e NeuN em colaboração com o Dr. Fábio Rogério, 
médico contratado do Depto de Anatomia Patológica da FCM-UNICAMP. 
Preparações pela técnica Ana Cláudia Sparapani Piaza. 
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Para mais imagens deste caso:
RM Macro, esfregaço HE IH - GFAP, VIM, S-100, nestina
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Sobre  gangliogliomas : textos  (1) (2) Características de imagem Outros casos :  Neuroimagem e neuropatologia
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