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3. Microscopia eletrônica. |
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Este material foi coletado da amostra enviada para cortes de congelação, e fixada diretamente em líquido de Karnovsky poucos minutos após ter sido retirada do paciente. A conservação, portanto, aproxima-se da ideal, e ajuda compreender a fina estrutura e arquitetura da lesão. |
Destaques da microscopia eletrônica. | ||
Astrócitos. | Lipofuscina. | Neurônios. |
Neurópilo tumoral. | Axônios. | Vasos. Texto: células endoteliais. |
Clique para destaques da histologia em HE, tricrômico de Masson, reticulina, e da imunohistoquímica. | ||
Aspecto
geral.
A textura densamente fibrilar do tumor vista em HE e em imunohistoquímica para GFAP encontra paralelo na ultraestrutura. O tumor é formado em grande parte por uma concentrada trama de prolongamentos citoplasmáticos de astrócitos, em parte eletrolucentes. Muitos são ricos em filamentos intermediários, cujo grau de compactação e eletrodensidade são variáveis. Os corpos celulares (pericários) das células tumorais são relativamente escassos. |
Astrócitos.
Embora os astrócitos fibrilares constituam a grande parte da neoplasia, a quantidade de citoplasma em volta do núcleo é geralmente bem escassa, e a identificação segura destas células em microscopia eletrônica oferece dificuldade. Como critério, usamos o encontro de filamentos intermediários no citoplasma. Estes eram bem mais abundantes nos prolongamentos astrocitários que cruzam o tumor. |
Astrócito. Esta célula detalhada abaixo tem um feixe de filamentos intermediários margeando o núcleo, numerosas vesículas citoplasmáticas, e um corpo basal de cílio, com três esporões de ancoragem de cada lado. Os microtúbulos constituintes do cílio emergem de uma das extremidades e se perdem no citoplasma ao sair do plano de corte. É difícil definir os limites desta célula, que se confundem em vários trechos com os prolongamentos celulares em volta. |
Lipofuscina.
Consideramos esta outra célula também um astrócito tumoral, pelos filamentos intermediários no citoplasma justanuclear (ver esquema mais abaixo). A célula contém grânulos de lipofuscina, um pigmento de desgaste habitualmente visto em células de vida longa que não se dividem, como neurônios e miocardiócitos. |
A lipofuscina é originada em lisossomos, organelas responsáveis pela digestão intracelular. É constituída por restos indigestos de macromoléculas e organelas, cuja eliminação pela célula é difícil. Em microscopia óptica, tem cor amarela pardacenta (ver em HE em um subependimoma). Aqui, vemos a lipofuscina como estrutura complexa, circundada por membrana única, e contendo grânulos e vacúolos de diâmetro e eletrodensidade variáveis. Para lipofuscina em ME em outros tumores clique: (1) (2). |
Outros grânulos de lipofuscina são encontrados fora do pericário de células, envolvidos por membranas, parecendo estar nos prolongamentos astrocitários que constituem a grande parte do tumor. A observação de lipofuscina sugere que estes astrócitos tumorais tenham longa vida, dividam-se muito pouco, e que o tumor estivesse presente há muitos anos (paciente assintomático, ver história). |
Neurônios.
A identificação em ME do tipo de célula num tumor como este é arriscada, com chance de erro nada pequena. Contudo, sugerimos que a célula ao lado, e outras mais abaixo, sejam neurônios pelos seguintes critérios: nucléolo evidente, citoplasma bem delimitado, contendo ribossomos, retículo endoplasmático rugoso, aparelho de Golgi e, ocasionalmente, microtúbulos. Não foram observadas sinapses. A ausência de filamentos intermediários no citoplasma (GFAP, VIM) também reforça a impressão de natureza neuronal. |
Outro
neurônio.
Esta célula destaca-se dos prolongamentos astrocitários densamente entrelaçados a sua volta, pela membrana plasmática nítida, núcleo volumoso com cromatina frouxa e nucléolo, citoplasma relativamente abundante contendo aparelho de Golgi proeminente e retículo endoplasmático rugoso (RER). |
Neurônios
em
imunohistoquímica vs microscopia eletrônica.
Alguns neurônios no tumor são muito pequenos, com citoplasma escasso, mas destacam-se nas técnicas de imunohistoquímica, como NSE. |
Neurópilo
tumoral.
A maciça
maioria do tumor é constituída por prolongamentos celulares
individualizados por membrana única
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Neurópilo
tumoral.
O termo 'neurópilo' é usado em analogia ao tecido entre os corpos celulares de neurônios na substância cinzenta, formado por prolongamentos dos vários tipos de células, inclusive dos próprios neurônios e células da glia. Para neurópilo de córtex cerebral normal em ME, clique. |
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Neste tumor, um ganglioglioma, a grande maioria dos prolongamentos celulares vistos em vários planos de corte, muitos eletrolucentes (sem organelas), devem ser astrocitários, pois a quase totalidade das células tumorais são astrócitos (exceto os raros neurônios). Notar a exiguidade do espaço extracelular, semelhante ao do neurópilo da substância cinzenta normal. |
Axônios.
Raros axônios mielínicos foram encontrados transitando pelo neurópilo tumoral, a exemplo do que já havia sido notado em imunohistoquímica para NF e SNF. Admitimos que tais axônios pertençam aos neurônios componentes da lesão. Um achado interessante é que são envolvidos por baínha de mielina bem estruturada, com várias camadas compactas. |
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Fica a dúvida sobre que células seriam responsáveis pela produção e manutenção da mesma (já que no tumor não haveria oligodendrócitos). A alternativa é que seriam axônios da substância branca cerebelar englobados pelo tumor. Porém, a natureza bem delimitada do tumor, inclusive com fina cápsula fibrosa demonstrável pelo tricrômico de Masson, fala contra esta hipótese. |
Vasos
tumorais.
A maioria dos vasos do tumor são de pequeno calibre (capilares ou vênulas), envolvidos por adventícia desproporcionalmente espessa. Esta é composta por fibras colágenas e substância fundamental amorfa, e aparece especialmente bem em azul no tricrômico de Masson. |
Células
endoteliais.
Têm estrutura complexa apesar de sua delgadez. O citoplasma é relativamente pobre em organelas, filamentos intermediários e apresenta vesículas pinocitóticas, também conhecidas como cavéolas, especialmente na membrana plasmática externa. As células são unidas por junções, por vezes extensas, e apoiadas sobre membrana basal contínua. |
Junções,
microvilos, pericitos.
As células endoteliais estão unidas por junções de variável extensão, que podem ser de três tipos não mutuamente exclusivos: junções comunicantes (gap junctions), junções aderentes (adherens junctions) e junções firmes ou oclusivas (tight junctions). |
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As
junções são
definidas pelas proteínas que as formam, e diferentes tipos podem
coexistir na mesma junção.
Microvilos são projeções digitiformes de citoplasma a partir da superfície interna da célula endotelial, de função incerta. Os pericitos são células que englobam o capilar ou vênula por fora, e seus prolongamentos estão envolvidos pela membrana basal do vaso. Para mais sobre células endoteliais, clique. |
Esta
célula endotelial
mostra núcleo sanfonado, citoplasma contendo aparelho de golgi proeminente com várias vesículas associadas, e microvilos projetando-se para a luz. |
Estrutura
das células endoteliais.
Células endoteliais revestem internamente todo o sistema vascular e tendem a orientar-se segundo o maior eixo do vaso. Medem cerca de 15 mm de largura por 25 a 30 mm de comprimento. Como são muito delgadas, o núcleo pode fazer protrusão para o lúmen. Células endoteliais maduras têm muitas importantes funções sintéticas e metabólicas, mas, em comparação com outras células e tecidos, têm nível relativamente baixo de atividade bioquímica. Isto se reflete na pobreza de organelas como o retículo endoplasmático rugoso e aparelho de Golgi, e poucos ribossomos livres. Células endoteliais são conectadas por junções dos tipos oclusivo (tight), comunicante (gap) e aderente (adherens). A densidade e tipo das junções variam em diferentes regiões da árvore vascular, sendo mais numerosas em artérias que em arteríolas, capilares e veias. Os capilares cerebrais são particularmente impermeáveis. As junções oclusivas ou firmes (tight junctions, proteínas envolvidas: claudina e ocludina) efetivamente selam as células uma à outra deixando um espaço < que 5 nm. Junções comunicantes (proteínas – conexinas) facilitam sinalização elétrica e bioquímica entre as células endoteliais. As junções aderentes (proteínas – cadherinas) permitem espaço de cerca de 20 nm entre as células envolvidas. O chamado endotélio fenestrado, encontrado em sinusóides hepáticos, glomérulos e glândulas endócrinas, caracteriza-se por canais transendoteliais. As células endoteliais podem apresentar corpúsculos de inclusão eletrodensos e limitados por membrana única, com até 3 mm de maior diâmetro, chamados corpúsculos de Weibel-Palade. Contêm até 25 arranjos tubulares em paralelo. Estudos imunológicos demonstraram que são locais de armazenamento da proteína de von Willebrand, essencial na adesão e ativação de plaquetas após lesão endotelial. Podem ser raros e de encontro difícil. Pequenas projeções digitiformes medindo 200 a 400 nm, chamadas microvilos, podem ser vistas sobre a superfície interna das células endoteliais. Sua função é incerta, e seu número varia em diferentes locais e entre espécies. O glicocálice, também de função incerta, é uma fina camada de polissacarídeos que forra internamente o endotélio. Lisossomos são facilmente identificados em células endoteliais, e estão envolvidos em digestão intracitoplasmática de debris e produtos do metabolismo. As chamadas cavéolas, antigamente conhecidas como vesículas plasmalemais ou pinocitóticas, medem cerca de 80 a 90 nm e são mais proeminentes na superfície abluminal das células endoteliais. Sua função seria a seqüestração e concentração de pequenas moléculas. O endotélio de capilares é circundado por membrana basal, na qual estão embutidos os pericitos. Prolongamentos de pericitos podem estar em contato com a face externa das células endoteliais através de interrupções na membrana basal. Em linfáticos, a membrana basal é muito escassa. Fonte.
Gallagher PJ. Blood Vessels. Chapter 33 in Sternberg
SS, editor, Histology for Pathologists. 2nd Ed. 1997. Lippincott
– Raven Publishers, Philadelphia. pp. 776-8.
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Preparações de microscopia eletrônica pelas técnicas, Sras. Marilúcia Ruggiero Martins e Geralda Domiciana de Pádua. A elas, nossos agradecimentos. |
Para mais imagens deste caso | RM | Macro, HE, colorações | IH |
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