Cisticerco  cellulosae  necrótico
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Espécime. Recebida uma vesícula de cisticerco parcialmente aberta, deixando entrever o escólex, e parte do conteúdo floculento extravasado. A parede era espessada, de superfície externa rugosa, e mostrava resistência ao corte, sugerindo tecido fibroso. À manipulação, o escólex, de tonalidade pardacenta, destacou-se. O interior da vesícula continha material amarelado amorfo, de aspecto necrótico.  A impressão, junto com os achados de imagem, foi de um cisticerco cellulosae necrótico, que causava reação inflamatória crônica com fibrose e gliose no tecido nervoso vizinho. Esta reação inflamatória traduzia-se na impregnação por contraste em torno do parasita, devida à quebra da barreira hemoencefálica.  Para sumário dos achados histológicos, clique
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Vesícula enviada aberta e parte do conteúdo necrótico extravasado. 
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Escólex exteriorizando-se pela abertura da cápsula. À D, escólex pardacento, que se mostrou necrótico ao exame histológico
O conteúdo necrótico amarelado da vesícula após a saída do escólex era constituído por membranas necróticas do cisticerco,  outro material necrótico e amorfo de difícil caracterização, cristais de colesterol e concreções calcáreas.  Para histologia, clique.
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Lâminas escaneadas. 

Dão imagens intermediárias (mesoscópicas) que permitem correlacionar a peça com a microscopia.  Aqui vemos a capsula glio-fibrótica delimitando o cisticerco e os restos necróticos da larva no seu interior. 

A cápsula que envolve o cisticerco necrótico é constituída por duas camadas intimamente associadas: uma camada externa de gliose e uma interna de tecido fibroso denso. Ambas são reacionais ao parasita. A gliose é formada a partir da hiperplasia dos astrócitos, que depositam abundantes fibrilas gliais em seus prolongamentos. Estas são constituídas por GFAP (glial fibrillay acidic protein), uma proteína do citoesqueleto que, portanto, tem localização intracelular.  Já a fibrose é fruto da produção de fibras colágenas (que têm localização extracelular) por fibroblastos. 
Reação  inflamatória e impregnação por contraste. 

A cápsula é produzida pela reação inflamatória crônica causada pela larva. Normalmente é muito fina ou inexistente, enquanto o cisticerco está vivo, pois o cisticerco vivo produz pouca ou nenhuma reação. Ver lâmina de cisticercose do curso de graduação. 

Quando o cisticerco morre, que foi o caso aqui, seus restos necróticos são irritativos e induzem inflamação crônica, que leva a fibrose e gliose. Também altera a permeabilidade dos vasos em volta, com quebra da barreira hemoencefálica.  A perda da barreira expressa-se como impregnação por contraste, vista nos métodos de imagem (tanto TC como RM) (foto ao lado).

O material calcificado presente em parte da larva necrótica aparece hiperdenso (brilhante) em tomografia computadorizada e hipointenso (escuro) em ressonância magnética, pois o cálcio não dá sinal em nenhuma das seqüências. 

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HISTOLOGIA  -  HE
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Destaques  da  microscopia. 
HE.  Escólex Aparelho de fixação Membranas
Calcificações, cristais de colesterol Cápsula fibrosa e gliótica (reação do hospedeiro) Infiltrado inflamatório crônico
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Cisticerco necrótico - escólex.  As estruturas estavam degeneradas, dificultando reconhecimento.  Os núcleos haviam desaparecido na maior parte. Havia focos de calcificação. 
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Cisticerco necrótico - escólex - aparelho de fixação da larva.  Incidentalmente, encontramos em um dos cortes parte do aparelho de fixação da larva (e do futuro verme adulto) na parede intestinal, constituído pelos acúleos ou espinhos, e estruturas musculares compatíveis com as ventosas. 
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Esquemas do escólex ou cabeça da Taenia solium adulta à E, e do cisticerco cellulosae, sua larva.  Na extremidade superior de ambos, ou rostro,  observa-se a coroa de duas fileiras de acúleos. Mais abaixo, quatro ventosas salientes. 
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Cisticerco necrótico - membranas.  Também totalmente necróticas. Para estruturas viáveis equivalentes clique : cisticerco cellulosae (1) (2), cisticerco racemoso, microscopia eletrônica
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Cisticerco necrótico.  Calcificação, cristais de colesterol. Além dos componentes acima, havia no interior da cápsula material amorfo eosinófilo, com abundantes concreções calcáreas e fendas que, provavelmente, correspondiam a cristais de colesterol. Eram responsáveis pela cor amarela do conteúdo da vesícula. 
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Calcificação nos  métodos de imagem.  Em tomografia computadorizada (TC), o cálcio bloqueia os raios X, que não impressionam o filme. A imagem do material calcificado aparece, portanto, em branco (hiperdensa ou hiperatenuante).  Em ressonância magnética, o material calcificado não dá sinal, ou não permite a recuperação do sinal de rádio e, portanto, aparece com hipossinal ou ausência de sinal, em negro. Isto é melhor demonstrado em seqüências com TR (tempo de repetição) longo, como T2 e FLAIR. 
Nos exemplos abaixo, a área calcificada do cisticerco necrótico tinha localização na parede anterior do cisto. 
Este corte coronal em FLAIR passa pela extremidade anterior da vesícula, tangenciando a área calcificada, que aparece em negro.  O edema vasogênico decorrente da reação inflamatória (infiltração de água pela substância branca) dá hipersinal (aparece em branco bilhante). 
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Cápsula  fibrosa  e gliótica (reação  do  hospedeiro). A cápsula era constituída por dois componentes: tecido fibroso denso, que era mais interno e tecido glial mais externo. Ambas decorrem da reação inflamatória crônica produzida pelo parasita após sua morte.  O tecido fibroso é produzido por fibroblastos (células do tecido conjuntivo presentes normalmente nas meninges e vasos).  A gliose é uma reação do tecido nervoso propriamente dito, mais exatamente dos astrócitos, que produzem fibrilas gliais.  Durante o ato cirúrgico a vesícula destacou-se ao longo da camada de gliose (apresentava, portanto, um plano de clivagem).  A espessura da cápsula com seus dois componentes era variável em diferentes segmentos do espécime. 
Havia ainda focos de infiltrado inflamatório crônico linfoplasmocitário, e macrófagos de citoplasma espumoso, principalmente na parte interna, em contato com o parasita.

Nas fotos abaixo, a superfície de clivagem está sempre para cima, o parasita para baixo. O parasita não aparece em todas as fotos. 

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Vasos de paredes finas em meio a infiltrado inflamatório na cápsula fibrosa e suas proximidades presumivelmente têm alteração de barreira hemoencefálica, e seriam responsáveis pela impregnação por contraste. 
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Infiltrado  inflamatório.  O infiltrado é predominantemente linfocitário, com plasmócitos e macrófagos. Estes últimos têm citoplasma espumoso e fagocitam debris. Ocasionalmente, observam-se células gigantes de corpo estranho. 
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Alterações vasculares decorrentes da inflamação.  Há fibrose da adventícia de vasos maiores, notada principalmente no tecido gliótico que circunda o parasita. 
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Vasos.   Em vasos menores, observa-se infiltrado inflamatório crônico perivascular, hiperplasia das células endoteliais e edema da parede. Presumivelmente, estas alterações devem afetar a barreira hemoencefálica, permitindo a passagem de contraste, que impregna os tecidos perilesionais nos métodos de imagem. 
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Astrócitos. 

Este astrócito hiperplásico (gemistocítico) participa das alterações reacionais do tecido nervoso ao parasita (gliose). 

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Para TC, RM deste caso, clique  »
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