Cisto de bolsa de Rathke
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Cisto  de Bolsa  de  Rathke.   Slides escaneados mostram aspectos da parede de cistos localizados na hipófise (lâminas provêm de mais de um caso). A luz do cisto é revestida por epitélio simples de tipos variados, apoiado sobre tecido conjuntivo frouxo com células inflamatórias crônicas esparsas. Em certas áreas, há tecido adenohipofisário.  O epitélio pode ser do tipo respiratório (cilíndrico simples pseudoestratificado ciliado) com células mucosas. Em outras áreas é cúbico simples com células claras não ciliadas, e em ainda outras sofre metaplasia escamosa para epitélio plano.  Notar semelhanças com o cisto colóide de IIIº ventrículo. Para os mesmos slides escaneados com melhor resolução, clique.  Para mais casos de cisto de bolsa de Rathke clique:  neuroimagem, neuropatologia
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Lâminas coradas por HE. 
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Lâmina corada por PAS / Orange G.   Nesta área, o cisto é revestido por epitélio cúbico simples de células claras e não ciliadas. Na profundidade, observam-se células normais da adenohipófise, vizinhas ao cisto. Os acidófilos estão corados por orange G, os basófilos por PAS (técnica do PAS/orange G). 

Cisto  de  Bolsa  de  Rathke.

Embriologia da região.   Do assoalho do IIIº ventrículo vem uma invaginação mediana em direção anterior e inferior, que vai constituir o infundíbulo e a neurohipófise.  Do stomodeum (ectoderma da cavidade oral), sai outra invaginação em direção cranial, chamada bolsa de Rathke. A parte anterior desta vai constituir a adenohipófise. A parte posterior forma a pars intermedia, uma formação residual com cistos. O que resta da invaginação pode dar o cisto de bolsa de Rathke, ou um cisto epidérmico. Há regressão da ponte entre o stomodeum e a hipófise. Quando isto não ocorre, forma-se o craniofaringioma, cujo principal tipo (adamantinomatoso) lembra o epitélio do germe dentário. 

Definição.  Cisto de bolsa de Rathke é um cisto não neoplásico derivado de restos glandulares da bolsa de Rathke, a invaginação rostral do stomodeum primitivo, que origina a adenohipófise (lobo anterior da hipófise), bem como a pars intermedia e a pars tuberalis (projeção da adenohipófise que acompanha o talo hipofisário). A invaginação ocorre durante a 3ª a 4ª semanas da vida embrionária. A elongação anterior da bolsa de Rathke forma o duto crânio-faríngeo. A porção proximal deste fecha-se precocemente durante o desenvolvimento fetal, mas um remanescente distal pode permanecer na vida pós-natal. 

Cistos microscópicos deste tipo são achado comum incidental de autópsia e ocorrem em até 30% das hipófises normais. Cerca de 80% situam-se na região do lobo intermediário da hipófise (entre a adeno- e a neurohipófise) e os demais estão relacionados ao talo hipofisário.  Cistos sintomáticos são raros, na maioria encontrados em adultos. A idade média de apresentação é 38 anos, com predomínio no sexo feminino da ordem de 2-3:1. 

Clínica. Ocasionalmente, os cistos chegam a dimensões (1 cm ou maiores) suficientes para produzir sintomas visuais ou endócrinos por compressão do quiasma óptico, da própria hipófise e do hipotálamo. As repercussões endócrinas podem afetar gônadas, tiróide e adrenal, causar retardo de crescimento e diabetes insipidus. Hiperprolactinemia relacionada ao ‘efeito de secção do talo hipofisário’  é também comum.  Pode haver hidrocefalia. 

Imagem.  Em TC, a densidade do conteúdo do cisto é variável, geralmente baixa. Não há calcificações (o que ajuda no diagnóstico diferencial com os craniofaringiomas, que geralmente calcificam). Cerca de 50% apresentam impregnação da parede por contraste.  Em RM, os cistos mostram sinais variáveis de acordo com a composição (mais, ou menos, proteica) do seu conteúdo. A maioria (cerca de 2/3) apresenta hipersinal em T1, a exemplo dos cistos colóides de IIIº ventrículo, que lhe são aparentados. Os demais (1/3) têm hipossinal, semelhante ao do líquor. Em T2, metade são hiperintensos, ¼ isointensos, ¼ hipointensos. A maioria é totalmente intraselar ou com localização combinada intra- e supraselar. Casos puramente supraselares são raros. 

Macro.  O cisto tem paredes finas e lisas, e o conteúdo vai de aquoso e límpido a viscoso e opalescente. O tamanho varia de poucos milímetros a 1 a 2 cm. 

Micro.  Na maioria, os cistos consistem de uma monocamada de células ciliadas e/ou produtoras de muco. A freqüente presença de células caliciformes sugere derivação endodérmica, como é o caso nos cistos colóides de IIIº ventrículo.  Pode haver pseudoestraficação, atrofia das células por compressão pelo conteúdo do cisto, ou metaplasia escamosa das células de revestimento. Por vezes, há reação xantogranulomatosa secundária a ruptura da parede.  As feições imunohistoquímicas e ultraestruturais também apóiam a origem endodérmica, e assemelham-se às dos cistos enterógenos

Tratamento e prognóstico.  Na maioria basta esvaziamento do conteúdo do cisto com biópsia da parede. A taxa de recidiva é baixa. 

Fontes.

  • Burger, PC, Scheithauer BW, Vogel FS.  Surgical Pathology of the Nervous System and its Coverings.  4th Ed. Churchill Livingstone, New York, 2002.   pp 484-5. 
  • Osborn AG. Diagnostic Neuroradiology. Mosby, St Louis, 1994. pp. 645-6. 
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Prolactina e seu controle hipotalâmico. 

Prolactina, um hormônio proteico de peso molecular 23.000, é secretada pelos lactotrofos, células acidófilas da adenohipófise.  A maioria dos hormônios adenohipofisários é controlada por fatores estimulantes produzidos no hipotálamo e transportados à adenohipófise pelo sistema venoso porta hipotálamo-hipofisário situado na haste hipofisária. Os neurônios hipotalâmicos têm terminações na eminência mediana, de onde os hormônios controladores são liberados em pequenas veias hipotalâmicas. Estas se reúnem em veias maiores que descem pela haste hipofisária e se ramificam novamente na adenohipófise, constituindo praticamente todo seu suprimento vascular, já que não há ramos arteriais irrigando a adenohipófise (diferentemente da neurohipófise). 

A maior exceção à regra é a prolactina, cuja liberação pelos lactotrofos é normalmente inibida pela dopamina (ou PIF ou prolactin inhibiting factor), produzida no hipotálamo por neurônios dopaminérgicos. 
A outra exceção é o hormônio de crescimento, produzido pelos somatotrofos, que recebem tanto estímulos excitatórios (GHRH, ou growth hormone releasing factor) como inibitórios (GIH ou growth hormone inhibitory factor ou somatostatina). 

Os demais hormônios : 
TSH (thyroid stimulating hormone ou tireotropina) é liberado por ação do TRH (thyrotropin releasing factor); 
ACTH (adrenocorticotrophic hormone ou corticotropina) é liberado por ação do CRH (corticotropin releasing factor); 
os hormônios gonadotróficos  FSH (follicle-stimulating hormone) e LH (luteinizing hormone) são liberados por ação do GnRH (gonadotropin releasing factor). 

Hiperprolactinemia. 

Pode ter várias causas. 

a) Hiperprolactinemia fisiológica ocorre na gravidez. Os níveis aumentam ao longo da gravidez com pico na época do parto. Em mulheres em lactação, estimulação táctil do mamilo eleva os níveis, essenciais para manutenção desta durante o período de amamentação. 

b) Prolactinomas.  Estes são os adenomas de hipófise funcionantes mais freqüentes (cerca de 30% dos adenomas de hipófise clinicamente reconhecidos). As lesões variam de microadenomas (por definição, < 1 cm) a grandes macroadenomas com efeito de massa e compressão de estruturas cerebrais e vias ópticas. 

Microscopicamente, a grande maioria dos prolactinomas é composta por células levemente acidófilas ou cromófobas. Só raros prolactinomas são fortemente acidófilos. 

A secreção de prolactina por prolactinomas é caracterizada por sua eficiência (mesmo microadenomas pequenos podem causar hiperprolactinemia) e proporcionalidade (há correlação entre o tamanho do tumor e os níveis séricos de prolactina). 

A hiperprolactinemia causa amenorréia, galactorréia, perda de libido e infertilidade.  Essas alterações facilitam o diagnóstico de prolactinoma em mulheres, especialmente entre os 20 e 40 anos.  Cerca de ¼ dos casos de amenorréia são devidos a prolactinomas. Já em homens e mulheres idosas, as manifestações hormonais são sutis, e o tumor tende a ser notado pelo seu tamanho (como compressão de vias ópticas). 

Prolactinomas são tratados cirurgicamente, ou mais comumente, por bromocriptina (Parlodel®), um agonista do receptor de dopamina, que leva à redução de tamanho dos tumores. 

c) Interferência com a inibição normal dos lactotrofos por dopamina, resultando em hipertrofia dos lactotrofos. Isto pode ocorrer por dano aos neurônios dopaminérgicos do hipotálamo, ou lesão da haste hipofisária, como por traumas, tumores ou cistos, entre eles o cisto de bolsa de Rathke. Portanto, uma elevação leve da prolactina sérica numa paciente com adenoma de hipófise não indica necessariamente que o tumor é secretor de prolactina. 

d) Várias drogas que bloqueiam receptores dopaminérgicos nos lactotrofos podem causar hiperprolactinemia, como drogas neurolépticas (fenotiazinas, haloperidol), que são antagonistas do receptor da dopamina ou drogas antihipertensivas antigas, como a reserpina, que inibem o armazenamento da dopamina. 

Fonte: 

Maitra A, Abbas AK.  Chapter 24 – The Endocrine System.   in Robbins and Cotran, Pathologic Basis of Disease. Kumar V, Abbas AK, Fausto N (editors).  7th. Ed.  Elsevier, Saunders, 2005.  pp.1156-7; 1160-1. 

Outros textos sobre hipófise normal  e  adenomas

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Mesmos slides em resolução maior (1554 x 1056 pixels). 
Scans pelo fotógrafo do Depto de Anatomia Patológica da FCM-UNICAMP, Sr. Adilson Abílio Piaza
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Textos sobre hipófise normal e adenomas
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Cisto de bolsa de Rathke:
casos:  imagem; patologia
Cisto colóide de IIIº  ventrículo:
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Cistos neuroentéricos: texto
casos - imagem, patologia
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