Cisticerco cellulosae  gigante - 
Microscopia eletrônica

 
Ultraestrutura da parede vesicular do cisticerco. 

A estrutura do cisticerco cellulosae humano não parece diferir substancialmente da larva no porco (hospedeiro intermediário habitual).  A camada mais superficial do parasita é composta por um tegumento ou cutícula, que tem textura densa em cortes de parafina corados por HE ou em cortes semifinos de material incluído em Araldite e corados por azul de toluidina.  Deste tegumento partem os microvilos já claramente visíveis em microscopia óptica. 

Em microscopia eletrônica, o tegumento é formado por prolongamentos do citoplasma das células tegumentares, cujos corpos celulares estão nas camadas mais internas. Estes prolongamentos celulares se fundem formando um sincício anucleado, que constitui a camada mais superficial da larva. Por isso, esta parte externa é também chamada de citoplasma distal. O citoplasma distal é eletrodenso e contém grande quantidade de vesículas, corpos densos e organelas, como mitocôndrias. 

Na superfície externa do tegumento (ou seja, do citoplasma distal) há numerosas projeções constituindo os microvilos, mais comumente denominados microtriches (singular microthryx).  Os microtriches têm uma parte proximal mais larga, que contém citoplasma contínuo com o citoplasma distal. A membrana celular externa que limita o citoplasma distal se continua com a membrana plasmática dos microtriches.  Em cada microthryx, esta parte proximal grossa se continua com um prolongamento distal fino à maneira de um cílio, que não contém citoplasma. A transição entre as duas partes é abrupta.  Os microtriches têm morfologia distinta no escólex, no canal espiral e na vesícula. No escólex têm secção transversal triangular, sendo comparados a pequenas pirâmides (estrutura tetraédrica). No canal espiral e na superfície externa da vesícula têm secção transversal cilíndrica. 

Os microtriches têm função de aumentar grandemente a superfície de absorção da superfície tegumentar. Como a larva tem numerosas fibras musculares, admite-se que a contração destas movimenta os microtriches, movendo líquido em volta da vesícula e aumentando a oferta de nutrientes.  A absorção de nutrientes dá-se por vesículas pinocitóticas que se originam em criptas entre as bases dos microtriches.  A superfície tegumentar tem, portanto, importante papel na absorção, secreção e excreção, e na proteção do verme contra as enzimas digestivas do hospedeiro. Microtriches intactos atestam a vitalidade da larva.  Parasitas em degeneração após tratamento com Praziquantel perdem os microtriches. 

Logo abaixo do citoplasma distal há uma membrana basal, e uma camada fibrosa eletrolucente onde são facilmente observáveis fibras musculares que lembram o músculo estriado dos vertebrados. As fibras contêm filamentos finos e espessos orientados paralelamente (análogos à actina e miosina), mas não se observa arranjo em sarcômeros. No escólex e colo da larva descrevem-se duas camadas de fibras musculares: uma superficial, de fibras em arranjo circular, e uma mais profunda de fibras longitudinais. 

Entre as fibras musculares observam-se os corpos celulares das células tegumentais, que têm núcleo com nucléolo, e organelas: retículo endoplasmático rugoso, ribossomos livres e mitocôndrias. Prolongamentos do citoplasma destas células atravessam entre as fibras musculares e se continuam com o citoplasma distal, que é, como já dito, um sincício, formado por fusão do citoplasma de várias células. 

Mais internamente, na área subtegumental ou parenquimatosa, a estrutura da parede da vesícula é frouxa, composta por células ditas mesenquimais, cujos prolongamentos  se anastomosam entre si. Os espaços no meio desta malha parenquimatosa são preenchidos por fluido e reservas de glicogênio.  Na zona parenquimatosa são também freqüentes  os corpúsculos calcáreos, que são ricos em carbonatos inorgânicos, bem como em substâncias orgânicas.  Sua função seria de homeostase do pH da larva, especialmente durante sua passagem pelo meio ácido do estômago a caminho do intestino. São bem mais abundantes no escólex que na parede da vesícula. 

Outro importante componente do parênquima é o aparelho osmoregulador, composto por estruturas chamadas flame cells (não observadas no nosso espécime) e um elaborado sistema de túbulos interconectados, importante no controle do movimento de água através da larva. Os fluidos passam pelas flame cells, que são dotadas de cílios com estrutura 9 + 2 para os túbulos coletores que, por sua vez, se dirigem a poros no tegumento. No parênquima há também fibras musculares mais esparsas que nas camadas mais superficiais. 

Fontes

  • Friedman AH, Pokorny KS, Suhan J, Ritch R, Zinn KM.   Electron microscopic observations of intravitreal Cysticercus cellulosae (Taenia solium).  Ophthalmologica (Basel) 180: 267-73, 1980. 
  • Rabiela MT, Hornelas Y, García-Allan C, Rosal ER, Flisser A: Evagination of Taenia solium   cysticerci: a histologic and electron microscopic study.  Arch. Med. Res 31: 605-7, 2000.
  • Suk JS, Sim BS, Lee SH.  Fine structure of Cysticercus cellulosae from human brain.  Korean J. Parasitol 18: 1-14, 1980. 

 
Mesma figura em maior aumento e resolução abaixo. 

 
TEGUMENTO
Os microtriches têm uma base larga preenchida por citoplasma, que se continua com uma haste mais fina e sólida. Alguns são bifurcados. 
O citoplasma e a membrana externa dos microtriches se continuam com o citoplasma distal, rico em vesículas. O material de aspecto felpudo que reveste os microtriches corresponde ao glicocálice. 
A porção basal dos microtriches tem contorno circular em corte transversal.

 

 
MUSCULATURA

 
PARÊNQUIMA
A porção mais interna ou parênquima é a mais frouxa, com amplos espaços preenchidos por líquido e numerosos corpúsculos calcáreos
As células  tegumentares ficam na região superficial do parênquima, mescladas às fibras musculares. Prolongamentos do seu citoplasma dirigem-se à superfície da vesícula, onde formam o sincício conhecido como citoplasma distal, que regula todo o metabolismo de trocas da larva com seu meio ambiente. 

 
SISTEMA  EXCRETOR (OSMORREGULADOR)

 
Para mais imagens deste caso:  TC,  RM Macro, HE, azul de toluidina Reação inflamatória
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