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Caso antigo de arquivo. Tumor de cerebelo em paciente feminina de 72 anos. Ver texto. |
Liponeurocitoma. HE. Esta lâmina de arquivo de um caso externo foi documentada para divulgar aspectos deste raro tumor cerebelar, do qual não temos casos próprios. Em aumento fraco, o tumor é altamente celular, composto por pequenas células pouco diferenciadas de núcleo alongado, cromatina densa e citoplasma escasso com limites imprecisos, vagamente arranjadas em feixes multidirecionados. Vasos são finos e delicados, sem proliferação endotelial e não há necrose. Mitoses são escassas. Chamam a atenção duas feições arquiteturais. A mais importante e que caracteriza histologicamente o tumor são os agrupamentos de células semelhantes a adipócitos. A outra é o arranjo dos núcleos em paliçadas rítmicas, observação não mencionada na edição de 2016 da OMS (ver texto). |
Componente adiposo. É notável a ocorrência de grupamentos de células semelhantes a adipócitos maduros em um tumor de aspecto primitivo do sistema nervoso central. É interpretada como diferenciação aberrante de células neoplásicas neuroectodérmicas e não células conjuntivas. A exata natureza da transformação fica obscura. |
Paliçadas rítmicas de núcleos. Núcleos dispostos paralelamente lado a lado, intercalados por faixas anucleadas e fibrilares, chamam a atenção neste raro liponeurocitoma cerebelar. Esta arquitetura lembrando pele de zebra foi antigamente considerada característica do 'espongioblastoma polar', mas hoje é aceita apenas como padrão histológico inespecífico, que pode ocorrer em diferentes entidades. Ver texto. |
Mitoses. As poucas observadas eram típicas. | |
Liponeurocitoma
cerebelar.
Definição. Raro tumor cerebelar com diferenciação neuronal ou neurocítica avançada e alterações focais semelhantes a um lipoma. Ocorre em adultos, tem baixa atividade proliferativa e geralmente bom prognóstico, mas pode recidivar e malignizar. Na classificação atual dos tumores do sistema nervoso da OMS (2016), o liponeurocitoma cerebelar está incluído entre os tumores de linhagem neuronal ou tumores glio-neuronais mistos. Graduação. Considerado OMS grau II. Há recidiva em cerca de 50% dos casos, com aumento da atividade mitótica e do índice Ki67, proliferação vascular e necrose. O tempo para malignização é longo (média 6,5 anos) Epidemiologia. Mais de 40 casos estão relatados na literatura em inglês. Idade média dos pacientes é 50 anos (24 a 77 anos), sem predileção por gênero. Localização. Hemisférios cerebelares ou região paramediana do vermis. Pode estender-se ao ângulo ponto-cerebelar ou ao IV ventrículo. Clínica. Hipertensão intracraniana devida a hidrocefalia obstrutiva, ou sinais e sintomas cerebelares, como ataxia e distúrbios de marcha. Imagem. Na TC, o tumor é iso- ou hipodenso. Áreas de hipoatenuação corresponderiam às regiões mais lipidizadas. Na RM em T1, o tumor é iso- ou hipointenso, com áreas hiperintensas devidas aos adipócitos intratumorais. Seqüências com supressão de gordura ajudam no diagnóstico. Impregna-se heterogeneamente por contraste. Em T2 há hiperintensidade variável. Observa-se pouco ou nenhum edema peritumoral. Microscopia. Há uma população uniforme de pequenas células neurocíticas em arranjo homogêneo ou lobular. Os núcleos são redondos ou ovais, com citoplasma claro, escasso e de limites imprecisos. A principal característica histológica são agrupamentos focais de células que armazenam lípides, semelhantes a adipócitos maduros, mas que na realidade são neuroepiteliais. Imunohistoquímica. As células neoplásicas expressam marcadores neuronais, como NSE, SNF e MAP2. Expressão focal de GFAP indicando diferenciação astrocitária é vista na maioria dos casos. O índice Ki67 é cerca de 1-3%, mas pode ser de até 6%, com média de 2,5%. No componente adiposo o Ki67 é ainda menor. Feições agressivas, como atipias nucleares, proliferação vascular e necrose, são tipicamente ausentes quando do diagnóstico inicial, mas podem ocorrer nas recidivas. O componente adiposo é geralmente menor nos tumores reincidentes. Célula de origem. Estudos genéticos sugerem que a origem do tumor seria em células progenitoras cerebelares diferentes das que originam as células granulosas. Estas células diferenciam-se aberrantemente em células tumorais semelhantes a adipócitos. Outros estudos apontam que o liponeurocitoma não é uma variedade de meduloblastoma, e que seria mais próximo dos neurocitomas. Há mutações do gene p53 em 20% dos liponeurocitomas, mas estas estão ausentes nos neurocitomas centrais. Isto sugere desenvolvimento através de vias genéticas diferentes. Prognóstico. A atividade proliferativa baixa é acompanhada por bom prognóstico, com sobrevidas maiores que 5 anos independente de radioterapia. Relata-se sobrevida de 18 anos só com excisão cirúrgica. De 21 casos, 6 morreram entre 6 meses e 2 anos, 5 em 2 a 4 anos, e 10 sobreviveram 5-16 anos. A taxa de sobrevida de 5 anos é 48%, e a sobrevida média foi 5,8 anos. Houve recidiva em 62% entre 1 e 12 anos. Fonte. Kleihues P, Giangaspero F, Chimelli L, Ohgaki H. Cerebellar liponeurocytoma. In WHO Classification of Tumours of the Central Nervous System. Revised 4th Ed. Louis DN et al. (eds). International Agency for Research on Cancer, Lyon, 2016. pp, 161-3. |
Paliçadas
rítmicas de núcleos.
A disposição de núcleos alongados de células fusiformes lado a lado em faixas ritmicamente repetidas foi no passado considerada característica um tumor embrionário raro, o ‘espongioblastoma polar’. Textos dos anos 1970 como Russell & Rubinstein (1971) e Rubinstein (1972) dedicaram capítulos à entidade. Contudo, o passar dos anos desafiou o status da lesão, e o aspecto passou a ser considerado mais um padrão arquitetural que uma entidade individualizada. Isto, porque paliçadas rítmicas de núcleos podem ocorrer em tumores diversos, como oligodendroglioma, astrocitoma pilocítico, meduloblastoma e neuroblastoma. Deve-se também lembrar as ‘pseudopaliçadas’ dos glioblastomas em torno de áreas de necrose e, nos tumores do sistema nervoso periférico, as paliçadas dos schwannomas de padrão Antoni A. Na classificação atual dos tumores do sistema nervoso da OMS (2016), a entidade ‘espongioblastoma polar’ desapareceu. Fala-se apenas em ‘padrão de espongioblastoma’, mencionado em alguns astrocitomas pilocíticos. Fontes.
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