Comentário.
Este caso foi diagnosticado como astrocitoma difuso anaplásico (OMS
grau III), tanto com base nos exames de imagem como na anatomia patológica.
Em imagem, chamam a atenção
focos de impregnação por contraste na RM, que podem ser atribuídos
à quebra da barreira hemoencefálica, um dos sinais de anaplasia.
Anatomicamente,
contudo, não vimos proliferação vascular, mas havia
tumefação dos núcleos endoteliais. Não é
possível saber se os capilares examinados nesta amostra eram anormalmente
permeáveis. Talvez em outras áreas do tumor, não enviadas
para exame, houvesse proliferação endotelial. Mesmo assim,
foram notadas intensas atipias nucleares e figuras de mitose, que preenchem
dois critérios da OMS
na classificação dos astrocitomas difusos e põem este
caso como grau III.
É
interessante, neste aspecto, o comportamento dos marcadores Ki-67 e p53,
ambos com elevado índice de positividade. O alto Ki-67, da ordem
de 30-40% (sem contagem), indica que esta proporção das células
está no ciclo celular e irá a divisão em breve.
O p53 positivo indica acúmulo nos núcleos de uma variedade
mutante da proteína p53, considerada guardiã do genoma. A
mutação impede que a proteína seja degradada, como
é a proteína normal, que está continuamente em síntese
e degradação. Portanto, com a p53 inativada, as células
vão à mitose mesmo com alterações graves e
irreversíveis do genoma, e adquirem novas mutações
a cada divisão celular. Em condições normais,
células assim alteradas seriam impedidas de se dividir e sofreriam
apoptose.
Este caso,
portanto, ilustra a transformação maligna de um astrocitoma
difuso de baixo grau (grau II) a glioblastoma multiforme (grau IV), através
da via genética da perda do gene p53 (o assim chamado glioblastoma
secundário). Para discussão extensa do problema ver:
-
Kleihues P
et al. Glioblastoma. in Kleihues P, Cavenee WK (eds). Tumours
of the Nervous System. Pathology and Genetics. World Health Organization
Classification of Tumours. IARC Press, Lyon, 2000. p. 29-39.
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