Tumor  neuroectodérmico  primitivo (PNET) fronto-temporal.   Página de resumo do caso.
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Fem. 9 anos. História de crise convulsiva e cefaléia há 2 meses. 
Grande tumor ocupando parte dos lobos frontal e temporal direitos, lobulado, predominantemente sólido, com boa delimitação em relação ao cérebro.  Com contraste, havia forte impregnação heterogênea. Clique para página de neuroimagem, espécime macro, HE, colorações especiais, imunohistoquímica, microscopia eletrônica, comentário sobre o caso e textos sobre PNETs supratentoriais (1) (2), fibras elásticas e nestina
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TC COM CONTRASTE T1 SEM CONTRASTE T1 COM CONTRASTE T2
CORONAL  FLAIR T1 SEM CONTRASTE T1 COM CONTRASTE
Exames em detalhe.
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Espécime. Tumor sólido, multilobulado, bem delimitado, mediu 8 x 4 x 4 cm e pesou 75 g.   Detalhes.
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HE. Mais imagens.   Neoplasia sólida, pouco diferenciada, constituída por células pequenas, imaturas, formando ilhotas  frouxas em meio a tecido compacto. Em imunohistoquímica, as células exibem padrões diferentes de expressão de antígenos, sugerindo diferenciação divergente. Em uma área, foram encontradas rosetas de Flexner-Wintersteiner, de centro vazio, habitualmente associadas a ependimomas e retinoblastomas. Atividade mitótica moderada com formas típicas e atípicas, e numerosas figuras de apoptose. 
Células arredondadas em arranjo denso.  Células fusiformes em arranjo frouxo. 
Tecido conjuntivo intratumoral.  O tumor era recortado por ampla rede de septos colágenos, também ricos em fibras reticulínicas. Grumos de fibras elásticas eram observados com colorações especiais (abaixo) e foram confirmados por microscopia eletrônica
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Colorações  especiais. 
Tricrômico de Masson. Traves colagenas recortam o tumor em lóbulos.  Ilhotas frouxas com células fusiformes são ricas em finas fibrilas colágenas.  Reticulina.  Positiva nos septos conjuntivos e entre células.
Reticulina.  Ilhotas frouxas com células fusiformes são ricas em finas fibras reticulínicas Verhoeff. Grumos de fibras elásticas entre células neoplásicas e em posição perivascular.  Weigert - van Gieson. Aspecto semelhante ao Verhoeff : grumos de elástico em meio a fibras colágenas.
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Imunohistoquímica. 
GFAP. Positivo em grande parte das células neoplásicas, evidenciando diferenciação astrocitária.  VIM. Positiva em áreas fusocelulares, e pouco em áreas compactas - sugere populações celulares diferentes.  Nestina. Filamento intermediário de células imaturas e em rápida divisão. Positiva em células tumorais fusiformes e algumas células endoteliaisTexto sobre nestina
S-100.  Positividade nuclear e citoplasmática em ilhotas de células fusiformes. CD56.  Positiva em padrão membrana em células redondas e compactas. SNF.  Positividade citoplasmática focal : diferenciação neuroblástica. 
Cromogranina.  Positiva em menos células - evidencia diferenciação neuronal ou neuroendócrina EMA. Positivo em células redondas compactas. Segere diferenciação epitelial ou ependimária AE1AE3.  Positividade citoplasmática focal. Aponta para diferenciação epitelial ou ependimária
1A4.  Positivo em vasos e poucas células tumorais. Diferenciação muscular. CD34.  Positivo em vasos e poucas células tumorais. Antígeno expressado em células progenitoras. Ki-67. Positividade em cerca de 20% dos núcleos das células neoplásicas. Indica alta capacidade proliferativa da neoplasia. 
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Microscopia  eletrônica. 
Células neoplásicas primitivas, cromatina bem distribuída, nucléolos pequenos ou ausentes Citoplasma escasso, poucas organelas, células em contato por suas membranas, sem complexos juncionais Neurópilo tumoral - prolongamentos celulares justapostos multidirecionados
Mitose Fibras elásticas no interstício Fibras elásticas perivasculares
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Comentário.  Esta paciente apresentou um tumor de hemisfério cerebral envolvendo os lobos frontal e temporal, predominantemente sólido com pequenos cistos e boa delimitação do tecido nervoso em volta, tendo sido retirado em peça única.  A histologia era de um tumor neuroectodérmico pouco diferenciado, com células pequenas em arranjo compacto, e ilhotas mais claras de células alongadas, lembrando o, mas não se superpondo inteiramente ao, meduloblastoma desmoplásico. A distribuição de colágeno e reticulina no tumor era extensa, com predomínio da reticulina nas ilhotas, ao contrário do meduloblastoma desmoplásico. Curioso e inesperado foi o encontro de fibras elásticas em grumos entre as células neoplásicas e em meio às fibras colágenas perivasculares. Foram inicialmente visualizadas em microscopia eletrônica, depois confirmadas por colorações especiais próprias para elástico. Uma breve revisão da literatura mostrou um trabalho* que as descreve em ependimomas. No presente caso poderiam ser evidência de diferenciação ependimária, além da observação focal de rosetas de Flexner.

A imunohistoquímica demonstrou diferenciação divergente das células do tumor para linhagens glial (GFAP, VIM, S-100), neuronal (SNF, cromogranina), ependimária (EMA, AE1AE3) e muscular lisa (1A4). Esta pluralidade antigênica, a positividade para nestina (um filamento intermediário de células imaturas, em rápida divisão e migração), e as feições primitivas das células em microscopia eletrônica, evidenciaram o caráter embrionário da neoplasia, justificando o diagnóstico de tumor neuroectodérmico primitivo ou PNET.

* Mierau GW, Goin L. Perivascular elastic fibers: a diagnostic feature of ependymoma. Ultrastructural Pathology 31: 251-5, 2007.

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Tumor neuroectodérmico primitivo (PNET) supratentorial. 

Tumores embrionários do sistema nervoso central supratentorial são muito menos comuns que os meduloblastomas (estes, exclusivos do cerebelo). Ocorrem principalmente em crianças, e consistem de neoplasias altamente celulares, intensamente proliferativas, de células pequenas e ‘azuis’ (small blue cell neoplasms), que podem mostrar feições neuronais (mais comuns), gliais, inclusive ependimárias, e, mais raramente, características epiteliais ou mesenquimais, evidenciando amplas possibilidades de diferenciação divergente. Os tumores expressando apenas antígenos neuronais são chamados neuroblastomas ou ganglioneuroblastomas cerebrais (estes últimos com um componente de células ganglionares (neurônios) mais maduros). Clinicamente, os PNETs supratentoriais demonstram comportamento agressivo e tendência à disseminação liquórica. 

Incidência.  São raros.  Representariam 1 a 3% dos tumores neuroepiteliais na idade pediátrica. A incidência etária é de 4 semanas a 20 anos, com média de 5,5 anos e discreto predomínio masculino. Há casos raros em adultos mais velhos. 

Localização. A maioria dos PNETs supratentoriais origina-se nos hemisférios cerebrais. Sinais clínicos são atribuíveis ao efeito de massa e aumento da pressão intracraniana, como a disjunção de suturas.  Sinais de localização podem ocorrer e convulsões não são raras.  Nos exames de imagem, aparecem como grandes massas captantes, por vezes com calcificações. Podem simular boa delimitação com o cérebro, mas microscopicamente são infiltrativos. 

Microscopicamente, têm extensas áreas de células pequenas ou médias, com núcleo hipercromático, cromatina granulosa e pouco citoplasma. Mitoses são abundantes, e necrose / apoptose de células individuais é proeminente. Rosetas de Homer Wright são menos comuns que nos meduloblastomas. Áreas de diferenciação glial podem mostrar aspecto mais eosinófilo e fusocelular. Alguns casos mostram espectro de diferenciação divergente semelhante à observada no meduloblastoma desmoplásico. Pode haver focos de grandes células e transformação anaplásica. 

Imunohistoquímica.  Descreve-se que alguns PNETs supratentoriais expressam primeiramente antígenos neuronais quando de sua apresentação inicial, e passam a mostrar um fenótipo mais glial ou gliomatoso em recidivas. Nestes casos, detectaram-se mutações genéticas semelhantes nos elementos neuronais e astrocitários, sugerindo que ambos se originaram de um ancestral comum. Os antígenos mais pesquisados para definição de linhagem neuronal são sinaptofisina, proteínas de neurofilamento, enolase neurônio-específica e tubulina classe III-beta.  Elementos gliais são positivos para GFAP. 

Graduação.  Todos os PNETs supratentoriais são por definição OMS grau IV. 

Diagnóstico diferencial.  PNETs supratentoriais devem ser diferenciados das variedades de glioblastoma de pequenas células e do glioblastoma semelhante a PNET  (PNET-like).   O último é raro em crianças e não deve expressar antígenos neuronais. Podem ter proliferação vascular endotelial e necroses em pseudopaliçada, que são incomuns em PNETs. 

Genética.  Apesar da semelhança morfológica entre meduloblastomas e PNETs supratentoriais, estudos moleculares mostram que são entidades distintas.  A alteração citogenética mais comum dos meduloblastomas (isocromossomo 17q) não é observada nos PNETs. 

Prognóstico.  A sobrevida de 5 anos para meduloblastomas tem sido da ordem de 50 a 70%, contra 20 a 30% dos PNETs supratentoriais.

  • Fonte:  Yachnis AT, Perry A. Embryonal (primitive) neoplasms of the central nervous system.  In Perry A, Brat DJ, editors. Practical Surgical Neuropathology. Churchill Livingstone Elsevier, 2010.  pp 175-8.
  • Ver também outro texto sobre estes tumores. 
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    Para outras páginas deste caso,
    e textos sobre PNETs supratentoriais (1)(2), fibras elásticas e nestina
    TC, RM Macro, HE Colorações especiais IH : GFAP, VIM
    IH : nestina, S-100, CD56 IH : SNF, cromogranina, NF, EMA IH : AE1AE3,  1A4,  CD34,  Ki-67,  p53 ME
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    Textos sobre PNETs supratentoriais (1) (2) Tumor embrionário com rosetas em multicamadas Ependimoblastomas Pineoblastomas (1) (2) Características de imagem dos PNETs
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