Peça
C-11. Endocardite reumatismal pregressa das valvas mitral e aórtica
(exemplo de calcificação). Endocardite bacteriana da valva
aórtica com destruição parcial de uma das lacínias
(exemplo de necrose liqüefativa).
A febre reumática é
uma
doença autoimune em que anticorpos produzidos contra
um estreptococo reagem de forma cruzada com antígenos do
coração. A infecção original pode ser uma amigdalite,
faringite ou piodermite, e pode recidivar muitas vezes. A reação
antígeno-anticorpo a nível dos tecidos causa inflamação
crônica, com deposição de substância fibrinóide
e, depois, fibrose. Como o fenômeno se repete a cada nova infecção
pelo estreptococo, a fibrose pode causar intensas deformações
e disfunções nas valvas do coração esquerdo,
sendo mais comuns a estenose mitral e a insuficiência aórtica.
As valvas fibrosadas ficam espessas e endurecidas, perdem sua flexibilidade
normal e freqüentemente calcificam-se.
Neste coração, a valva aórtica mostra lacínias
espessas e rígidas, devido em parte à calcificação.
Além disso, a lacínia do meio está parcialmente destruída
por endocardite bacteriana. Isto acontece quando bactérias
que estejam circulando no sangue se assestam sobre a valva lesada, o que
é fácil, pois a lesão valvar propicia a formação
de trombos, que podem funcionar como abrigo das bactérias. As bactérias
proliferam sobre a valva e a destroem com suas enzimas, além de
atrair neutrófilos que também possuem enzimas líticas.
A lesão da valva na endocardite bacteriana é, portanto, um
exemplo de necrose liqüefativa. Os trombos sépticos
formados sobre a valva destruída podem despreender-se como êmbolos,
levando a infecção a outros órgãos (embolia
séptica).
A valva mitral neste caso mostra a estenose característica
da febre reumática. Houve fusão das lacínias e
retração fibrótica das cordoalhas tendíneas
transformando a mitral em uma estrutura em forma de funil, com grande redução
do orifício da valva (não demonstrado aqui). |