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CLASSIFICAÇÃO
SIMPLES DAS NEUROVIROSES
I) Leptomeningites agudas
assépticas:
II) Encefalites ou encefalomielites
agudas:
III) Encefalites subagudas
ou lentas:
A doença de Creutzfeldt-Jakob e outras encefalopatias espongiformes são causadas por proteínas chamadas príons. Embora transmissíveis não devem ser consideradas encefalites, pois não produzem reação inflamatória. As encefalites agudas pós-infecciosas, pós-vacinais ou perivenosas não são infecções virais, mas reações alérgicas desmielinizantes, ocorrendo raramente após certas doenças exantemáticas da infância ou vacinações. ALTERAÇÕES PATOLÓGICAS BÁSICAS NAS NEUROVIROSES As diversas viroses do SNC apresentam feições anátomo-patológicas comuns e, portanto, inespecíficas. Aspecto macroscópico O encéfalo nas encefalites apresenta alterações inespecíficas, como hiperemia, edema, diminuição da consistência e hérnias. Só em algumas doenças a macroscopia pode ser importante para o diagnóstico. P. ex., edema e necrose em um dos lobos temporais sugere encefalite herpética. 1) Infiltrado inflamatório é o achado mais característico das meningites e encefalites virais. Em geral é linfomonocitário, ocorrendo nas meninges e no parênquima, onde pode formar manguitos perivasculares. Na fase aguda pode haver transitoriamente neutrófilos. 2) Hiperplasia da micróglia.
É uma resposta inespecífica ao estímulo inflamatório.
3) Inclusões
virais. São corpúsculos homogêneos,
mais comumente eosinófilos, encontrados no núcleo ou no citoplasma
de neurônios, astrócitos ou oligodendrócitos. Representam
aglomerados de partículas virais ou componentes incompletos de vírus.
Sua presença numa encefalite sugere fortemente causa viral, mas
sua ausência não a afasta. O diagnóstico do tipo do
vírus não é possível pela morfologia da inclusão,
exigindo imunohistoquímica e microscopia eletrônica.
São infecções virais comuns do SNC, denominadas meningites assépticas (porque a cultura do líquor para bactérias é negativa) ou a líquor claro (em contraste com o aspecto turvo do líquor nas meningites bacterianas). A infecção se limita às leptomeninges, cura-se espontaneamente e não deixa seqüelas, ao contrário das meningites bacterianas. Os agentes etiológicos
mais comuns são os enterovirus (polio, Coxsackie e ECHO),
dos quais já foram identificados dezenas de sorotipos. O tipo predominante
varia de ano para ano. A doença pode ocorrer de forma epidêmica
ou endêmica, geralmente na infância.
O quadro clínico é semelhante ao das meningites bacterianas, com febre, cefaléia, vômitos e sinais da série meningo-radicular (ver meningites bacterianas). As manifestações clínicas podem ser exclusivamente meníngeas ou coexistir com sintomas respiratórios ou outros. O líquor mostra leucocitose da ordem de 1.000 linfomononucleares por mm3, mas no início do quadro o predomínio é de neutrófilos, que desaparecem nas primeiras 24 horas. Há discreta hiperproteinorraquia e a glicorraquia permanece normal. Anatomia patológica. Como a evolução das meningites assépticas virais é para a cura, só raros casos chegam à autópsia. Os achados limitam-se a infiltrado linfomonocitário na leptomeninge. Etiologia e epidemiologia. O termo arbovírus (arthropod-borne virus) designa vários agentes transmitidos por mosquitos ou carrapatos, que podem causar encefalite no homem e animais (sendo, portanto, antropozoonoses). Geralmente o vírus é mantido em ciclo silvestre entre um hospedeiro verdadeiro (um pequeno mamífero ou ave) e o vetor artrópodo. O homem entra acidentalmente no ciclo ao freqüentar a região. Por isto estas encefalites têm distribuição geográfica limitada, que é utilizada para denominar a doença. Atualmente, os arbovírus foram reagrupados entre os togavírus, que se assemelham aos picornavírus por serem pequenos e constituídos por RNA e proteína, mas têm envoltório lipídico. Há cerca de 400 arbovírus identificados, dos quais pelo menos 80 sorotipos são patogênicos para o homem. Os arbovírus antes classificados sorologicamente como grupo A são hoje denominados alfavírus, sendo seus principais representantes os causadores das encefalites equinas do leste e do oeste (na América do Norte), e da encefalite venezuelana. Os arbovírus do grupo B chamam-se agora flavivírus e, além da febre amarela e da dengue, incluem os agentes da encefalite de St. Louis, encefalite japonesa B e o vírus de Rocio, responsável por uma epidemia de encefalite no Vale do Ribeira, Estado de São Paulo, em 1975, durante a qual foram diagnosticados 465 casos. Patogênese e quadro clínico. Uma vez inoculados na derme pelo vetor, os vírus atingem por via sanguínea os órgãos linfóides, onde proliferam. Daí retornam ao sangue causando viremia que clinicamente corresponde a um primeiro período febril, gripe-símile e autolimitado. Durante a viremia os vírus ganham acesso aos órgãos para os quais apresentam tropismo. Desenvolve-se então um segundo período febril, acompanhado de sintomas relativos ao órgão acometido. A curva térmica nas arboviroses é, portanto, bifásica. A grande maioria das infecções é inaparente. Nos casos sintomáticos, a incubação leva 5-15 dias e a primeira fase da doença dura 24 a 36 horas, com febre, cefaléia, náuseas e vômitos. Pode haver cura na primeira fase. Em outros casos, após um período apirético de 6 a 14 dias, reaparece a síndrome infecciosa acompanhada de sinais de encefalite: cefaléia intensa, vômitos em jato, rigidez de nuca, alterações da personalidade, disartria, disfasias, alterações motoras, como sinais de liberação piramidal, paresias e ataxias, nistagmo, convulsões, estupor e coma. Os diferentes tipos de encefalites assemelham-se clinicamente. Após alguns dias pode ocorrer recuperação total; recuperação parcial com seqüelas, ou óbito. As seqüelas incluem alterações permanentes da personalidade e intelecto, deficiências motoras e movimentos involuntários. Anatomia Patológica. As alterações são as já referidas para as encefalites em geral. Há congestão das leptomeninges e do cérebro, edema difuso e hérnias. As alterações são simétricas, sem desvio da linha média. Microscopicamente, há infiltrado linfomonocitário nas leptomeninges e em torno de vasos do tecido nervoso. Pode haver vasculite, com necrose e trombose de pequenos vasos. Neurônios podem mostrar inclusões virais, necrose e neuronofagia. Há ativação da micróglia, com aparecimento de nódulos gliais. A localização das lesões é difusa, com predomínio em certas áreas (p.ex., no córtex cerebral, cerebelo ou tronco cerebral), dependendo do agente e da reatividade do indivíduo. Os vírus Herpes contém DNA de dupla cadeia. Todos têm morfologia semelhante, simetria icosaédrica e envoltório lipídico. Reproduzem-se no núcleo das células parasitadas, mas o processo é ineficiente. Grande parte do material viral não é incorporado em novos vírus e permanece como inclusões intranucleares e intracitoplasmáticas. Podem persistir em forma latente em células do hospedeiro, voltando a manifestar-se periodicamente, às vezes após um silêncio de muitos anos. ENCEFALITE HERPÉTICA Epidemiologia. O vírus do herpes simplex do tipo I é comum, causando lesões vesiculosas nos lábios, muito dolorosas, mas de regressão espontânea. A encefalite aguda por este vírus é considerada a forma mais comum de encefalite esporádica nos países temperados. A incidência atingiria cerca de 50 casos/ano na Grã-Bretanha. A encefalite herpética destaca-se das outras encefalites virais pelas lesões necrosantes, atingindo principalmente os lobos temporais e o sistema límbico. Tem elevada letalidade (cerca de 75%) e deixa graves seqüelas. Clinicamente, os primeiros sintomas são os de uma doença gripal, com febre, cefaléia, náuseas e vômitos. Seguem-se desorientação, alterações da personalidade, disfasias, alucinações, convulsões, estupor e coma. Pode haver sinais de localização, como hemiparesias. A maioria dos casos não tratados evoluem para rigidez de decerebração e óbito. Os sobreviventes apresentam seqüelas motoras e psíquicas importantes, até estado vegetativo. Macroscopicamente, há intensos hiperemia e edema de um ou ambos lobos temporais (geralmente o processo é assimétrico). Pode chegar a franca necrose liquefativa e hemorrágica do lobo, que pode ser até confundida com infarto. Ao corte, a necrose atinge córtex e substância branca. Há freqüente envolvimento da ínsula e do cíngulo (que margeia o corpo caloso e é parte do sistema límbico). O edema cerebral difuso pode causar hérnias.. Histologicamente, as lesões são as das encefalites virais em geral: necrose de neurônios corticais, neuronofagia e células grânulo-adiposas. Muitos neurônios e células da glia apresentam inclusões virais, intranucleares e intracitoplasmáticas. Em pacientes que ultrapassaram a fase aguda nota-se atrofia e gliose dos lobos temporais, podendo mostrar cistos. A patogênese
é mal compreendida. Pode-se tratar de primoinfecção
ou de reativação de uma infecção latente. É
possível que, a partir de uma lesão labial, o vírus
penetre em terminais sensitivos do nervo trigêmeo e se aloje nos
neurônios do gânglio de Gasser. Não se sabe que fatores
levam à reativação viral, nem como a partir do gânglio
o vírus chega ao SNC.
HERPES ZOSTER O herpes zoster é
uma doença de adultos, causada pelo vírus da
varicela
ou catapora.
O quadro clínico do herpes zoster caracteriza-se por erupção vesicular circunscrita à um dermátomo, ou seja, o território inervado por uma raíz. É quase sempre unilateral. A área atingida tem forma de faixa ou hemicinturão (daí o nome: zoster em grego significa cinto). No território do nervo trigêmeo geralmente é afetado só um dos segmentos (p.ex., nervo oftálmico). As lesões são acompanhadas de dor, prurido e grande desconforto local, que podem preceder as vesículas 3 ou 4 dias. A duração dos sintomas é de 1-4 semanas, mas em cerca de um quarto dos pacientes a regressão da dor é lenta. A neuralgia pós-herpética pode arrastar-se por anos e ser extremamente rebelde. Do ponto de vista anátomo-patológico observa-se no gânglio afetado intenso infiltrado linfocitário, necrose de neurônios e neuronofagia, proliferação reacional das células satélites, além de necrose e trombose de pequenos vasos intraganglionares. Como o vírus se estende à medula espinal via raíz posterior, o segmento correspondente ao gânglio acometido pode mostrar mielite aguda.
É uma encefalite lenta que geralmente atinge pacientes na meia idade e, na grande maioria, portadores de alguma forma de imunodeficiência, como AIDS, linfomas ou corticoterapia prolongada. O virus responsável, chamado JC, é uma forma de papovavirus. Clinicamente, há deterioração progressiva das funções mentais, alterações motoras, sensitivas e visuais, e ataxia. As lesões cerebrais podem ser detectadas por tomografia ou ressonância magnética como lesões multifocais hipodensas na substância branca do cerebro e cerebelo. O cérebro em cortes revela macroscopicamente pequenos focos confluentes de desmielinização, com cor acinzentada, difusamente esparsos pelos hemisférios. O exame microscópico mostra, nestes focos, perda das baínhas de mielina, contrastando com a preservação relativamente boa dos axônios. Nas lesões, observam-se células da oligodendróglia com inclusões intranucleares basófilas, que dão ao núcleo aspecto homogêneo e aumentado de volume. Em microscopia eletrônica podem-se demonstrar partículas de papovavirus, que também pode ser identificado por imunohistoquímica ou hibridização in situ. O parasitismo
dos oligodendrócitos pelo virus explica os focos de desmielinização.
Além disso, são afetados também astrócitos,
cujos núcleos tornam-se aumentados e pleomórficos, sugerindo
que o virus teria capacidade de gerar transformação neoplásica
nestas células.
ENCEFALITE POR CITOMEGALOVIRUS CMV pode produzir encefalite
grave em pacientes com AIDS e em fetos intra-utero.
Macroscopicamente, há focos de necrose, que pode ser extensa, levando a microcefalia, ou hidrocefalia. Calcificação da necrose é freqüentemente observada e as regiões periventiculares são particularmente afetadas. Microscopicamente
observa-se gliose, e podem ser encontradas as inclusões intranucleares
características do CMV em neurônios, glia e epêndima.
ENCEFALITE PELO HIV Pacientes com AIDS são vítimas de infecções oportunistas, muitas vezes afetando o SNC. As principais são a toxoplasmose, a criptococose e o citomegalovirus. Além disso, o próprio HIV tem sido implicado em uma forma de encefalite peculiar à AIDS, cuja principal manifestação clínica é demência progressiva. O virus penetraria no SNC através de monócitos do sangue infectados, e pode ser demonstrado por imunohistoquímica ou hibridização in situ em células microgliais e macrófagos perivasculares. As lesões da encefalite por HIV são encontradas principalmente na substância branca dos hemisférios cerebrais e nos núcleos da base. Caracterizam-se por palidez difusa da mielina e lesões focais onde esta encontra-se rarefeita e vacuolada. Nestas, notam-se células gigantes multinucleadas, com núcleos situados na periferia, que expressam antígenos macrofágicos. Em alguns aidéticos descreve-se uma forma de mielopatia caracterizada por espasticidade e distúrbios esfincterianos. O exame microscópico revela vacuolização dos funículos posterioes e laterais da medula espinal, especialmente nas regiões cervical e torácica. ENCEFALITES PÓS-INFECCIOSAS OU PERIVENOSAS Estas não são doenças infecciosas, mas sim reações alérgicas no SNC, que surgem raramente após doenças exantemáticas (sarampo, varicela, rubéola), ou vacinação antirábica. A extinção da varíola levou ao fim da vacinação antivariólica, que também causava este tipo de reação. Destas encefalites, a pós-sarampo é a melhor estudada. Ocorre em cerca de 1,2 por mil casos de sarampo. Inicia-se como febre, cefaléia, vômitos e convulsões, numa criança que está se recuperando da fase exantemática do sarampo comum. Pode progredir a coma, com morte de cerca de 10% dos pacientes. Nos sobreviventes, até 25% ficam com seqüelas. O uso de vacina contra o sarampo, que é um virus vivo atenuado, reduziu drasticamente a incidência da encefalite, mas esta é relatada em 1 caso para cada milhão de vacinados. As alterações macroscópicas no cérebro restringem-se a edema e hiperemia difusos. Microscopicamente nota-se textura frouxa do tecido nervoso em torno de vênulas, às vezes com acúmulo perivascular de plasma e escasso infiltrado linfomonocitário. Com colorações próprias demonstra-se rarefação da mielina perivascular. Não é possível isolar virus das lesões, nem demonstrá-los por imunohistoquímica ou microscopia eletrônica. No caso da vacinação antirábica, os antígenos sensibilizantes provêm da mielina contida no cérebro usado para cultivar o virus. Para evitar-se este tipo de encefalomielite alérgica, atualmente preferem-se vacinas desenvolvidas em embriões (em que a mielina ainda não se formou), ou em células humanas cultivadas. No caso das viroses exantemáticas, não se compreende bem o mecanismo pelo qual o virus causa sensibilização contra a mielina. |
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