Leiomioma  espinal  extradural. 
2. Imunohistoquímica
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Apesar do diagnóstico de leiomioma já estar firmado na HE e colorações especiais (tricrômico de Masson), complementamos o estudo do caso com reações imunohistoquímicas (nesta página) e microscopia eletrônica (página seguinte).  Em imunohistoquímica, foram testados antígenos musculares (1A4, HHF-35 e desmina), todos positivos. Vimentina, um filamento intermediário ubiquitário em células conjuntivas e de outras linhagens, também marcou bem as células neoplásicas. 
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Destaques  da  imunohistoquímica. 
1A4.  Positividade citoplasmática nas fibras musculares lisas do tumor HHF35. Idem Desmina.  Idem. Textos: desmina, filamentos intermediários
VIM.  Positivo universalmente no citoplasma das células neoplásicas e dos fibroblastos da cápsula do tumor. Texto CD34.  Positivo em vasos, negativo no tumor Ki-67. Negativo em 100% das células neoplásicas (controle em outro leiomioma na mesma lâmina positivo)
Clique para destaques da HE, colorações especiais e microscopia eletrônica.

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1A4. O anticorpo 1A4 (assim chamado segundo o clone de células que o produz) marca actina de músculo liso (smooth muscle actin ou SMA, em inglês). Aqui, como esperado, foi fortemente positivo no citoplasma das células neoplásicas. Para breve texto sobre o antígeno, clique.  A especificidade da reação é testemunhada pela cor azul dos núcleos das fibras musculares (ausência de marcação de fundo). 

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HHF-35.  O anticorpo monoclonal HHF-35 reconhece um epítopo presente em 4 tipos de actinas musculares de mamíferos, inclusive duas próprias de músculo liso. Assim, é positivo em leiomiomas e leiomiossarcomas, como no presente exemplo. Para breve texto sobre actinas musculares, clique

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Desmina. Desmina, um filamento intermediário próprio de fibras musculares, também foi fortemente positiva nos elementos neoplásicos, e ausente no tecido intersticial rico em colágeno (como esperado). Filamentos intermediários são proteínas do citoesqueleto que variam de acordo com a linhagem celular. Como tais, estão presentes no citoplasma. Para breves textos sobre desmina, e filamentos intermediários em geral, clique. 

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VIM. 

Vimentina, um filamento intermediário expresso por praticamente todos os tipos de células de linhagem mesenquimal, é fortemente positiva no citoplasma das células musculares lisas que compõem o leiomioma.  Células muito delgadas, em arranjo lamelar na cápsula do tumor, provavelmente correspondem a fibroblastos.  Para breves textos sobre filamentos intermediários e vimentina, clique. 

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Filamentos  intermediários. 

Todas células eucarióticas contêm actina e tubulina. Mas o terceiro principal tipo de proteína do citoesqueleto, os filamentos intermediários, estão presentes em só alguns metazoários, incluindo vertebrados, nematódios e moluscos. Mesmo nestes, nem todas células os produzem, por exemplo, oligodendrócitos. Filamentos intermediários são especialmente proeminentes no citoplasma de células sujeitas a stress tênsil ou mecânico. 

Os filamentos intermediários citoplasmáticos são intimamente relacionados a seus ancestrais, as laminas nucleares, que são muito mais prevalentes. Estas proteínas do núcleo formam um arcabouço que forra a face interna da membrana nuclear, provendo pontos de ancoragem para os cromossomos e poros nucleares. Desarticulam-se durante a mitose e reformam-se ao fim desta. 

Os polipeptídeos individuais (monômeros) dos filamentos intermediários são moléculas longas com extenso domínio central em alfa-hélice. Este é formado por cerca de 40 repetições de um motivo básico de 7 aminoácidos (héptade), cujas cadeias laterais são hidrofóbicas. Dois monômeros associam-se, enrolando mutuamente as alfa-hélices para formar um dímero, com as cadeias laterais hidrofóbicas de uma cadeia voltadas para as correspondentes da cadeia com que faz par. 

Dois dímeros se associam em forma antiparalela para formar um tetrâmero (isto é, os amino-terminais de um dímero ficam do mesmo lado que os carboxi-terminais do outro dímero). Oito destas subunidades tetraméricas solúveis associam-se lado a lado em feixes com espessura de cerca de 10 nm, que constituem os filamentos intermediários. Estes têm propriedades semelhantes às de uma corda – são altamente flexíveis, mas extremamente resistentes à tração e muito difíceis de romper-se.  A associação lado a lado dos filamentos é proporcionada por fortes ligações hidrofóbicas. 

Várias famílias de filamentos intermediários são expressadas em diferentes tipos de células.  As queratinas, próprias de células epiteliais, são as que apresentam a maior diversidade. Cerca de 20 queratinas são encontradas em diferentes tipos de células epiteliais humanas e há outras 10 específicas para cabelos e unhas. O estudo do genoma humano sugere a existência de mais de 50 queratinas. Cada filamento de queratina é composto de mistura em partes iguais de cadeias de queratinas do tipo I (ácidas) e tipo II (neutras ou básicas). Essas cadeias formam heterodímeros, que por sua vez se associam para constituir o tetrâmero típico dos filamentos intermediários. Redes de queratina, com ligações cruzadas do tipo disulfeto (S-S), são tão estáveis que sobrevivem à morte das células de origem, como na pele (camada córnea) e anexos. A diversidade das queratinas em diferentes epitélios é útil na determinação imunohistoquímica da origem dos tumores (carcinomas). 

Outras importantes subfamílias de filamentos intermediários incluem os neurofilamentos (presentes em axônios), a proteína glial ácida fibrilar (GFAP, presente em astrócitos), desmina (em fibras musculares) e a vimentina, ubiquitária, presente em virtualmente todos os tipos de células mesenquimais, e de outras linhagens, não raro em co-expressão. Sobre esta, ver abaixo.

  • Fonte : Alberts B et al. Molecular Biology of the Cell.  5th Ed. Garland Science, New York. 2008. pp. 983-7. 
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Vimentina. 

Vimentina é uma proteína de 58 kD que já foi purificada de várias fontes, e que forma filamentos com diâmetro médio de 10 nm. O nome deriva do latim vimentum, significando feixes de varetas flexíveis. Como outros filamentos intermediários, vimentina é formada pela associação de monômeros de moléculas fibrosas com uma cabeça amino-terminal, uma cauda carboxi-terminal e um domínio central em bastão (mais detalhes em filamentos intermediários, acima. A parte central consiste de uma longa alfa-hélice, com várias repetições lineares de uma seqüência de aminoácidos característica, chamada de ‘repetição héptade’. Esta região central tem homologia notável em filamentos intermediários de diferentes espécies, e homologia ainda maior, chegando a 30%, com outros filamentos intermediários de uma mesma espécie, como citoqueratinas, desmina, proteína glial ácida fibrilar (GFAP) e neurofilamento.  Com imunohistoquímica, demonstra-se vimentina como parte de uma rede ondulada de filamentos no citoplasma de fibroblastos, associados também com as membranas nuclear e citoplasmática. 

Vimentina é o filamento intermediário mais amplamente distribuído, sendo expressada em praticamente todas as células de linhagem mesenquimal.  Pode também ser co-expressada com citoqueratina em vários tipos de células epiteliais e seus tumores correspondentes, incluindo endométrio, tiróide, células epiteliais gonadais, túbulos renais, córtex adrenal, pulmão, glândula salivar, hepatócitos e ductos biliares.  Por isso, vimentina é usada como controle interno da qualidade de preservação antigênica em tecidos fixados e incluídos em parafina.

Há evidência de que vários tumores epiteliais de alto grau adquirem a propriedade de expressar vimentina. Expressão de vimentina foi descrita em carcinomas da pele, bexiga, mama, próstata, mucosa gástrica, colo uterino e ovário, e carcinomas fusocelulares.   Muitos tecidos em embriões e fetos, incluindo ectoderma de superfície, tubo neural e cérebro, mucosa intestinal, epitélio tubular renal e musculatura, mostram coexpressão de vimentina com outros filamentos intermediários na sua fase de desenvolvimento. Depois, fica só o filamento específico daquele tipo de tecido quando maduro. 

  • Fonte: Leong AS-Y, Cooper K, Leong FJW-M.  Manual of Diagnostic Antibodies for Immunohistology. 1999, Greenwich Medical Media Ltd, London. p. 327-9. 

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CD34. 

Marca o endotélio dos vasos, revelando a vascularização delicada e bem distribuída do tumor. Vasos são finos e pouco ramificados. Células musculares são negativas. 

Ki-67. Negativo em toda a amostra, sugerindo crescimento extremamente lento da massa neoplásica. 
Ki-67. Controle positivo.  Um leiomioma uterino, corrido como controle na mesma lâmina, mostrou marcação de poucos núcleos isolados, demonstrando a validade da reação. 
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Caso do Hospital da Santa Casa de Limeira, gentilmente contribuído pelos Drs. Antonio Augusto Roth Vargas, Marcelo Senna Xavier de Lima, Paulo Roland Kaleff e residentes, Limeira, SP. 
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Para mais imagens deste caso: RM HE, colorações ME
Textos : filamentos intermediáriosvimentina
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