Displasia cortical não-Taylor
Neuropatologia - resumo dos achados
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A RM e a macroscopia do espécime cirúrgico (abaixo) foram normais.  As alterações neste caso são apenas a nível histológico, no córtex cerebral na profundidade de alguns sulcos. Consistem de neurônios anormalmente grandes e dismórficos, com perda da orientação e acúmulo de lipofuscina. Não se observam as células balonizadas clássicas da displasia do tipo Taylor (clique, para exemplos), e as alterações displásicas dos astrócitos são também menos imponentes que naquela. 

Nesta página, os principais achados neuropatológicos. Para mais imagens, clique em RM, Macroscopia, HE, colorações;  imunohistoquímica para astrócitos e imunohistoquímica para neurônios


 
Espécime  cirúrgico.  Segmento do lobo frontal E (porção anterior), incluindo a borda súpero-medial do hemisfério, correspondendo na maior parte à convexidade, com uma área menor da face medial. 
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Detalhes dos cortes mostrando córtex e substância branca bem delimitados e de aspecto essencialmente normal quanto à espessura e coloração. O exame macroscópico do espécime, externamente ou aos cortes, não permite visualizar anormalidades sugestivas de displasia cortical. 

 
HE. As alterações principais consistem de neurônios piramidais anormalmente grandes, com perda da orientação, na profundidade de alguns sulcos e áreas limítrofes. Não foram observados nas cúpulas dos giros. No quadro abaixo,  áreas displásicas e normais no mesmo aumento (indicado pela objetiva).
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CÓRTEX DISPLÁSICO CÓRTEX NORMAL PARA COMPARAR 
X 10
X 20
X 40
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Acúmulo de lipofuscina.  Chama a atenção material amorfo levemente basófilo no citoplasma de várias células, que desloca o núcleo.  É encontrado somente nos neurônios displásicos maiores e tem feições sugestivas de lipofuscina.
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Camada molecular com gliose. Na HE, a gliose da camada molecular é vista na profundidade do sulco como maior quantidade de fibras gliais na região subpial e em torno dos vasos maiores.
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Transição córtico-subcortical. Não são observadas células balonizadas (balloon cells), características da displasia do tipo Taylor e mais freqüentes nesta região. Para casos daquela entidade, clique
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Neurônios ectópicos na substância branca. Numerosos, alguns com acúmulo de lipofuscina, são melhor demonstrados por NSE
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LFB/Nissl. Técnica para estudo do tecido nervoso que combina duas colorações: para mielina, através do Luxol Fast Blue (LFB) e para neurônios usando o cresil violeta (ou azul de toluidina ou tionina em variantes da técnica). O LFB cora a mielina em tom turquesa, e é capaz de evidenciar como finos tubos mesmo fibras bem delicadas, como as presentes no córtex cerebral.  Os neurônios são demonstrados em tom violeta, corando-se o núcleo, nucléolo e os corpúsculos de Nissl do citoplasma. O material granuloso azul escuro no citoplasma de alguns neurônios é lipofuscina, corada por LFB. Para mais imagens desta coloração, clique. Para procedimento técnico do LFB - Nissl, clique.  
Lâmina gentilmente preparada pela Ac. Rosa Aparecida Caraça, aluna de Biologia da UNICAMP e estagiária do Depto. de Anatomia Patológica.
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Fibras mielínicas espessas.  Na área displásica as fibras mielínicas são mais espessas e proeminentes que no córtex normal, devendo pertencer aos neurônios anômalos. 
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Neurônios ectópicos na substância branca. Na substância branca as fibras mielínicas são abundantes e próximas entre si. Normalmente, entre elas há só núcleos de células da glia. Neste caso há vários neurônios ectópicos, freqüentemente volumosos, que denotam falha de migração neuronal, um dos componentes do processo displásico. 
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PAS.O material granuloso acumulado no citoplasma dos neurônios displásicos é fortemente PAS positivo, devendo tratar-se de lipofuscina, um pigmento de desgaste que se acumula com o tempo no citoplasma de células que não se dividem como neurônios e miocardiócitos. No presente caso, a quantidade é maior do que o habitualmente observado em neurônios, mesmo de pessoas idosas (a paciente tem apenas 15 anos), o que sugere uma anormalidade metabólica destas células. Para mais imagens desta reação, clique.
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IMUNOHISTOQUÍMICA
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Lâminas escaneadas.  Os cortes marcados por GFAP e VIM mostram aspecto homogêneo, indicando distribuição relativamente uniforme dos astrócitos, sem acúmulos de células anômalas ricas nessas proteínas. Para comparação, ver casos de displasia cortical do tipo Taylor, onde a positividade para vimentina é chamativa já no exame macroscópico da lâmina (1) (2) (3). 
Dos cortes marcados para neurônios, neurofilamento (NF) mostra coloração mais intensa no córtex da metade mais profunda do sulco, correspondendo à posição dos neurônios anômalos demonstrados na microscopia. A marcação das células displásicas com NSE (enolase neurônio-específica) e CGR (cromogranina), embora nítida em aumentos mais fortes, não é expressiva neste nível mesoscópico. 
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GFAP. Observam-se no córtex displásico diversas anomalias astrocitárias, e da relação entre astrócitos e neurônios. Em córtex normal os astrócitos são do tipo protoplasmático. No córtex displásico os astrócitos são fibrosos e muitos são hipertróficos, sem porém constituir células grosseiramente anômalas como em casos de displasia cortical do tipo Taylor. 
São achados freqüentes, ausentes em material normal:
astrócitos com prolongamentos mais espessos, e/ou com citoplasma mais abundante que astrócitos fibrosos normais; 
astrócitos muito próximos dispostos em pares ("astrócitos casados")
astrócitos em 'relação íntima' com neurônios, com contato extenso entre os corpos celulares.
É de interesse que o material granuloso PAS-positivo (interpretado como lipofuscina) no citoplasma de neurônios displásicos marca-se como GFAP. 
Para mais imagens, clique
Astrócitos com hipertrofia do corpo celular e/ou dos prolongamentos. 
'Astrócitos casados'. Astrócitos em dupla, com corpos celulares em contato, sem ou com relação também com neurônios. 
'Relação íntima' entre astrócitos e neurônios. Justaposição entre os corpos celulares não é vista em tecido normal. Alguns neurônios acumulam lipofuscina no citoplasma, que se marca por GFAP. 
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GFAP.  Transição córtex-substância branca.  Os astrócitos são do tipo fibroso e têm aspecto normal, não se notando células gigantescas ou anômalas do tipo balloon cells, vistas na displasia do tipo Taylor (clique, para exemplos). 
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VIM. Anticorpo contra vimentina demonstra astrócitos. O número de células marcadas parece menor que com GFAP, e o fundo fica mais claro, porque há menor quantidade de prolongamentos astrocitários visíveis em relação à reação para GFAP.  Os astrócitos maiores e mais atípicos (displásicos) expressam mais VIM e destacam-se.  Por isso, VIM parece útil na pesquisa de displasias corticais: fundo limpo, menos células marcadas, células displásicas logo chamando a atenção, mesmo num exame rápido em aumento fraco. Neurônios são sistematicamente negativos.  VIM marca vasos, inclusive capilares, e facilita o estudo da rede vascular. 
Vimentina na área displásica marca poucos astrócitos.  Os astrócitos são fibrosos, com citoplasma mais abundante que na substância branca normal. Os feixes de vimentina freqüentemente destacam-se na periferia da célula como cabos de sustentação.   Para mais imagens, clique
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VIM.  Neurônios, displásicos ou não, são vimentina - negativos. 
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VIM.  Camada molecular com gliose. Astrócitos anômalos destacam-se, como nas outras camadas. 
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VIM. Transição córtex - substância branca. Ausência de balloon cells.   Habitualmente vistas na displasia cortical do tipo Taylor e fortemente positivas com vimentina, balloon cells ou células balonizadas não são observadas no presente caso. Os astrócitos apresentam alterações semelhantes às já notadas nas outras camadas. 
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VIM - Comparação entre astrócitos displásicos e normais.  Os astrócitos da área displásica são todos fibrosos, mesmo no córtex,  têm citoplasma amplo e prolongamentos espessos, retilíneos e às vezes grosseiros, claramente anômalos. Os astrócitos do córtex normal são protoplasmáticos, com pouco citoplasma e prolongamentos delicados, que desaparecem gradualmente no neurópilo. 
Córtex displásico Córtex normal
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NSE - Córtex displásico. Os neurônios displásicos são volumosos e reagem de forma variável para enolase neurônio-específica (NSE). Para mais imagens, clique
NSE - Córtex displásico, camada profunda.  Aqui os neurônios também são volumosos, mas tendem a ter seu eixo em orientação horizontal (paralela à leptomeninge). 
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NSE - Substância branca - neurônios ectópicos. São comuns neste caso, como em outros casos de displasia cortical. NSE é o método de escolha para sua evidenciação. 
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NF (Neurofilamento). Revela com elegância os neurônios dismórficos. Nem todas as células se coram. Os neurônios menores tendem a não reagir, o que destaca os aberrantes. Para mais imagens, clique
NF - Neurônios com 'polaridade invertida'.  Alguns neurônios parecem ter um dendrito principal dirigido para a substância branca.  Leptomeninge para cima em todas as fotos. 
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SNF. Corpos celulares dos neurônios dismórficos reagem pouco, o que os destaca contra o neurópilo, onde a reação é mais intensa, devido ao grande número de sinapses. Para mais imagens, clique
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CGR. Cromogranina marca os neurônios displásicos, aparentemente destacando os corpúsculos de Nissl. A área com lipofuscina fica negativa. Para mais imagens, clique
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Para mais imagens deste caso: 
RM (normal) Macro, HE, colorações IH para astrócitos  IH para neurônios
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