INCIDÊNCIA
E EPIDEMIOLOGIA
Os distúrbios
circulatórios cerebrais são também denominados acidentes
vasculares cerebrais (AVC), um termo clínico que
abrange as hemorragias, e os infartos devidos a trombose ou embolia. São
as doenças mais freqüentes do SNC. A incidência aumenta
rapidamente com a idade: 80% dos casos ocorrem acima de 65 anos.
Na Inglaterra: os AVC seriam responsáveis por 15% das mortes.
Nos Estados
Unidos: 500.000 casos novos / ano, dos quais:
-
50% vão
a óbito;
-
25% ficam permanentemente
incapacitados;
-
só 5%
retornam ao trabalho.
Em relação
ao sexo;
Hemorragias
(intracerebrais e subaracnóideas) = incidência semelhante.
Infartos
(causados na grande maioria por aterosclerose) = maior incidência
no sexo masculino, como os infartos do miocárdio.
..
FATORES
PREDISPONENTES
A) Aterosclerose
cerebral
B) Hipertensão
arterial, agindo por si ou como fator agravante da aterosclerose.
-
A incidência
de AVC é seis vezes maior em hipertensos que em normotensos da mesma
idade.
-
Cerca de metade
dos AVC ocorre em hipertensos, que constituem apenas 20% da população.
C) Diabetes mellitus,
outro importante fator agravante da aterosclerose.
-
Infartos cerebrais
são duas a quatro vezes mais comuns em diabéticos que em
não-diabéticos de mesma faixa etária e sexo.
D) Doenças cardíacas
-
Cerca de 75%
dos pacientes com AVC têm insuficiência cardíaca, dilatação
de câmaras ou fibrilação atrial.
-
Pacientes com
aterosclerose coronária têm risco duas a cinco vezes maior
de ter AVC.
ATEROSCLEROSE
CEREBRAL
A aterosclerose
das artérias cerebrais não difere da de outras artérias.
Tem alto grau de correlação com a retiniana. São
envolvidas as artérias mais calibrosas:
-
carótidas
internas,
-
cerebrais médias,
-
vertebrais,
-
basilar,
-
cerebrais posteriores.
Locais preferenciais
de acometimento:
-
pontos de bifurcação,
-
curvaturas,
pontos
de fixação a estruturas rígidas.
A aterosclerose
é muito agravada
-
pela hipertensão
arterial crônica
-
pelo diabetes mellitus.
|
-
Em hipertensos
é comum observar-se ateromas nos ramos arteriais delgados da convexidade
cerebral, o que não ocorre em normotensos.
-
Nas Aa. vertebrais
e basilar, a aterosclerose em hipertensos crônicos pode formar estrias
perpendiculares ao eixo da artéria e semelhantes a degraus de uma
escada (aterosclerose escalariforme).
-
A aterosclerose
da porção extracraniana das carótidas e vertebrais
tem grande importância na gênese dos infartos cerebrais. Em
cerca de metade dos casos de infarto não há doença
significativa nas artérias intracranianas, e a causa pode estar
em artérias ao nível do pescoço. Placas de aterosclerose
na bifurcação da A. carótida comum podem funcionar
como fontes de êmbolos.
-
Nas artérias
cerebrais calibrosas, a oclusão é geralmente por trombose
sobre ateromas, (mais que por embolia). Os locais de maior incidência
de trombose da carótida são o seio carotídeo
(logo após a bifurcação da A. carótida comum)
e o sifão carotídeo (a parte fortemente recurvada
da artéria no seio cavernoso).
-
Nas artérias
de calibre menor, p. ex., ramos da A cerebral média, a causa de
oclusão mais freqüente é embólica. Isto
porque a aterosclerose é menos grave nos ramos menores e, quanto
mais estreita uma artéria, maior sua chance de ser ocluída
por um êmbolo. Estes êmbolos podem originar-se em trombos na
bifurcação da carótida, ou no coração
esquerdo.
LESÕES
ISQUÊMICAS DE CAUSA GERAL
São causadas por
hipotensão, estado de choque, parada cardíaca,
anóxia em casos de sufocação ou afogamento, e hipoglicemia
p. ex., em diabéticos com doses excessivas de insulina.
As lesões
dos neurônios tendem a ocorrer em zonas mais vulneráveis à
anóxia (zonas de vulnerabilidade seletiva):
-
córtex
cerebral nas regiões limítrofes entre os territórios
das grandes artérias cerebrais;
-
determinadas
regiões do hipocampo;
-
células
de Purkinje, em especial na borda externa do cerebelo, que também
é zona limítrofe entre territórios arteriais.
Para compreender
as lesões em zonas limítrofes entre territórios arteriais,
é importante recordar que a pressão sangüínea
é tanto maior quanto mais perto do tronco (isto é, da origem)
de uma artéria. Distalmente, o fluxo vai ficando mais lento e a
pressão mais baixa, devido às ramificações,
sendo mínimo nas extremidades do território, que faz limite
com o da artéria vizinha.
Há duas faixas
limítrofes mais importantes, entre os territórios
das Aa. cerebrais anterior e média, e entre as Aa. cerebral média
e posterior. As duas faixas estão situadas na convexidade, sendo
que a primeira acompanha a borda súpero-medial do hemisfério
e a segunda a borda ínfero-lateral. Se há redução
global da pressão de perfusão (p. ex., por uma hipotensão
sistêmica), estas faixas sofrem primeiro e mais intensamente.
Os neurônios
piramidais do setor de Sommer do hipocampo (também
chamado setor CA1) e as células de Purkinje do cerebelo
são mais vulneráveis à anóxia que outros neurônios.
Portanto, a pesquisa de necrose de neurônios em um caso de anóxia
difusa deve ser feita no hipocampo e nas zonas limítrofes entre
os territórios arteriais do córtex cerebral e cerebelar.
Nos pacientes que sofreram
anóxia grave, como parada cardíaca superior
a 5 minutos, a necrose não se restringe às áreas de
vulnerabilidade seletiva, mas afeta extensamente o encéfalo, principalmente
o córtex cerebral e cerebelar. Certas camadas do córtex cerebral
são mais sensíveis, (p. ex. a terceira: necrose
laminar). No outro extremo, a medula espinal, tronco cerebral e núcleos
hipotalâmicos são mais resistentes. Os motoneurônios
espinais podem resistir a até 30 minutos de isquemia.
|