Glicogenose  hepática  tipo I  ou 
Doença  de  von  Gierke
Lam. A. 293, corte menor

 

 
 
            O propósito desta página é mostrar uma alteração morfológica (no caso, vacuolização dos hepatócitos) devida ao acúmulo de uma substância intracelular  (no caso, glicogênio) que, por sua vez, é condicionada por uma deficiência enzimática de origem genética

 
GLICOGENOSE  DE  VON  GIERKE
Lâm. A. 293, corte menor, do meio.  Glicogenose hepática tipo I ou doença de von Gierke.  Esta lâmina de fígado mostra acúmulo de glicogênio em hepatócitos, que ficam com citoplasma claro e vacuolado (aspecto em célula vegetal). O material foi obtido por biópsia em cunha, fixado em formol, incluído em parafina, e os cortes foram corados por hematoxilina e eosina. O glicogênio, sendo hidrossolúvel, dissolveu-se no fixador, que é aquoso. Temos, portanto, a imagem após a retirada do glicogênio. O aspecto vazio do citoplasma foi comparado ao de uma célula vegetal, onde a maior parte do volume celular é ocupado por um vacúolo aquoso.  Os filamentos róseos, que contrastam com o aspecto vazio do citoplasma, correspondem a organelas, como mitocôndrias e retículo endoplasmático. O núcleo tende a permanecer central. 

            Para demonstrar efetivamente o glicogênio seria necessário fixar o fragmento em um fixador não aquoso (p. ex., álcool absoluto). Neste caso, o glicogênio, sendo insolúvel em álcool, permaneceria no interior das células e poderia ser revelado por um corante como o carmim de Best, ou por uma reação histoquímica, como o ácido periódico + reativo de Schiff (PAS).  Para ver o resultado desta reação em uma glicogenose muscular, a doença de McArdle, clique aqui

            A causa destas alterações é uma deficiência genética da enzima glicose-6-fosfatase, a última enzima da via de degradação do glicogênio, antes de sua liberação como glicose no sangue. A enzima é codificada por um par de gens autossômicos. É necessária a falta de ambos para que a doença se manifeste (portanto, herança autossômica recessiva). 


 
HEPATÓCITOS   NORMAIS   PARA   COMPARAR
Lâm. A. 293, corte maior.  Hepatócitos normais no corte maior da mesma lâmina.  Estes hepatócitos têm citoplasma bem distribuído. O aspecto finamente granuloso é devido às várias organelas presentes no citoplasma. (Embora a lâmina seja de cirrose (que será estudada em outro capítulo), os hepatócitos têm estrutura normal).

 
Glicogenoses:  Doenças genéticas do metabolismo do glicogênio

 A falta das enzimas do metabolismo do glicogênio acarreta várias doenças autossômicas recessivas chamadas glicogenoses. Há pelo menos 12 já descritas. Exemplos: 

Doença de Von Gierke: glicogenose do tipo I, por deficiência de glicose-6-fosfatase em hepatócitos e células tubulares renais. 

• Notada geralmente em torno dos dois anos de idade. 
• Herança autossômica recessiva.
• Retardo de crescimento. Ausência de retardo mental. 
• Grande hepatomegalia e renomegalia.
• Ausência de esplenomegalia ou de ascite.
• Hipoglicemia que não responde a adrenalina ou glucagon. 
• Hipoglicemia pode causar crises convulsivas.
• Morte precoce por infecções intercorrentes. 
• Aspecto microscópico no fígado: acúmulo de glicogênio no citoplasma dos hepatócitos, dando aspecto de célula vegetal. 
Patogênese: A glicose 6-fosfatase é a última enzima da via de degradação do glicogênio no fígado para dar glicose.  A enzima retira o grupo fosfato da posição 6 da molécula da glicose 6-fosfato. A glicose pode atravessar a membrana do hepatócito, mas a glicose 6-fosfato não pode. Conseqüentemente, acumula-se dentro do hepatócito, retardando toda a via de degradação e retendo o glicogênio, que passa a ser abundante no hepatócito, dando o aspecto em célula vegetal quando retirado por fixadores aquosos como o formol.  O aumento do volume dos hepatócitos leva a aumento do fígado como um todo (hepatomegalia). A hipoglicemia é explicada pela falta de liberação da glicose no sangue. 
 

Doença de McArdle: glicogenose do tipo V, por deficiência de  fosforilase em fibras musculares esqueléticas.

• Notada geralmente na idade adulta.
• Curso benigno e restrito à musculatura esquelética. 
• Câimbras ao fazer exercício. Fadiga fácil. 
• Incapacidade de realizar trabalho muscular intenso ou prolongado. 
• Ausência de elevação de lactato ou piruvato no sangue após exercício, em contraste com aumento de 2 a 5 vezes no indivíduo normal. 
• Pode haver mionecrose e mioglobinúria em tentativa de exercício físico intenso. 
• Aspecto microscópico: acúmulos subsarcolemais de glicogênio nas fibras musculares, formando bolhas opticamente vazias.  Veja exemplo clicando aqui
Patogênese: A fosforilase é a primeira enzima da via de degradação do glicogênio. Na sua falta, a fibra muscular tem dificuldade em obter energia através de glicólise anaeróbica. Normalmente, a fibra usa ATP gerado no ciclo de Krebs, que é muito mais abundante, mas requer O2 como aceptor de hidrogênio na cadeia respiratória. Em casos de trabalho muscular intenso, a fibra lança mão da glicólise anaeróbica (cada glicose  resultando em 2 piruvatos + 2 ATP).  Na falta de fosforilase, a fibra pode ficar sem ATP para mover suas bombas iônicas e pode até sofrer necrose  (morte celular). Isto explica a incapacidade em realizar exercícios intensos e prolongados e ocorrência de dores e câimbras nos músculos exercitados. 

 
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