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Fem. 53 a. A pequena amostra (minúsculos fragmentos obtidos por estereotaxia) era, não obstante, informativa, afastando a hipótese de tumor e, em conjunto com os exames de imagem, confirmando uma lesão desmielinizante, que, pelas suas feições imagenológicas, corresponde à chamada mielinólise pontina central. Como só tínhamos uma lâmina de consulta, não foi realizada coloração para mielina nem imunohistoquímica. |
Aspecto geral da biópsia. Os fragmentos de tecido nervoso mostravam aspecto frouxo, com dissociação dos elementos celulares. Predominavam os macrófagos, de contorno arredondado e citoplasma espumoso, como se anteciparia numa lesão desmielizante. Outro importante elemento foram os neurônios viáveis, com morfologia compatível com os habitualmente vistos nos núcleos da base pontina. Não havia infiltrado inflamatório perivascular, já que a MPC é atribuída a um mecanismo osmótico, diferente do mecanismo autoimune visto na esclerose múltipla . | |
Neurônios.
A presença de neurônios de aspecto viável (não necrótico, com núcleo arredondado e basófilo, nucléolo evidente e corpúsculos de Nissl no citoplasma atestava o caráter desmielinizante da lesão. Se fosse um infarto de ponte, estes neurônios deveriam estar necróticos. |
Macrófagos.
Eram o principal elemento celular da lesão, abundantes, com citoplasma finamente vacuolado, contendo debris de mielina degenerada. |
Neurônios pigmentados. Raros na amostra, poderiam pertencer à substância negra ou ao locus coeruleus. | |
Substância branca. Pequena parcela da amostra era constituída por substância branca normal. | |
Mielinólise
pontina central.
É uma doença incomum, descrita originalmente por Adams et al. em 1959, em 3 pacientes alcoolistas e um com desnutrição. Victor et al (1971) encontraram uma incidência de 11,6 % em um estudo de 34 casos de síndrome de Wernicke-Korsakoff. A síndrome tem sido descrita também em doença hepática crônica, especialmente transplantados (descrita em 11 de 85 transplantados hepáticos por Estol et al., 1989), queimaduras graves, desnutrição, anorexia e distúrbios eletrolíticos graves. O fator patogenético mais importante parece ser a correção muito rápida de profunda hiponatremia. Com o advento dos exames de imagem, o diagnóstico de mielinólise pontina central tem sido feito com maior freqüência. No passado o prognóstico era considerado muito ruim, mas hoje são identificados casos nos estágios iniciais, e relata-se recuperação completa. Há inclusive relato de casos assintomáticos, descobertos casualmente com RM (Razvi e Leach , 2006). Patologicamente, as lesões são semelhantes nos vários casos. Situam-se simetricamente no centro da base da ponte e se estendem pelos dois terços superiores da ponte até o limite ponto-mesencefálico. O tegmento pontino geralmente é poupado, assim como uma borda periférica de substância branca. Microscopicamente, a lesão é reconhecida em colorações para mielina pela palidez desta. Em casos com história curta há desmielinização com preservação dos axônios (vistos em técnicas argênticas). Geralmente, não há reação inflamatória e há preservação dos neurônios dos núcleos da base da ponte, o que é o principal elemento para distinguir a mielinólise pontina central de um infarto da ponte. O número de oligodendrócitos pode estar diminuído. Com a evolução pode haver degeneração axonal secundária, afetando principalmente as fibras transversais ponto-cerebelares. Os tratos longitudinais (córtico-espinais) são envolvidos mais tardiamente. Em casos graves e avançados pode haver necrose completa do centro da ponte, mas isto é raro. Macrófagos aparecem após alguns dias e podem ser proeminentes, com citoplasma cheio de debris de mielina. Ultraestruturalmente, o mecanismo da desmielinização parece residir em aparecimento de fendas e vacúolos nas baínhas de mielina. Tais alterações são vistas em situações tóxicas e metabólicas, e diferem das observadas em outras doenças desmielinizantes, como na esclerose múltipla. A patogênese
da lesão desmielinizante continua mal compreendida. Admite-se
papel da ruptura da barreira hemoencefálica causada pelo rápido
aumento do sódio, durante correção intempestiva de
hiponatremia. Dexametasona exerce efeito protetor sobre a barreira e diminui
as lesões desmielinizantes (Murase et al, 2006).
Principal fonte –
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Caso contribuído pelo Dr. Amilcar Castro de Mattos, Faculdade de Ciências Médicas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCC), Campinas, SP. |
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