HISTIOCITOSES
Há
uma ampla gama de doenças histocíticas que podem manifestar-se
como massas tumorais. Como grupo, estas lesões são pouco
comuns. Podem apresentar-se como histiócitos do tipo macrófago,
ou do tipo células dendríticas ou de Langerhans, que são
macrófagos apresentadores de antígeno.
Células
dendríticas.
Há
dois tipos de células com morfologia dendrítica, mas funcionalmente
diferentes. Um tipo é chamado de células dendríticas
interdigitantes ou, simplesmente, células dendríticas.
O outro são as células dendríticas foliculares,
presentes em centros germinativos de linfonodos ou do baço.
As células
dendríticas interdigitantes são as mais importantes células
apresentadoras de antígeno para iniciar respostas imunes primárias
contra antígenos proteicos. Estão situadas no lugar
certo para capturar os antígenos que penetram no organismo, ou seja,
em epitélios, e no interstício de vários tecidos.
As células dendríticas imaturas na epiderme são chamadas
células
de Langerhans. As células dendríticas expressam muitos
receptores que as habilitam a capturar micróbios e outros antígenos.
Em resposta a estes antígenos, as células dendríticas
perdem sua adesividade ao meio e migram para linfáticos, ao mesmo
tempo que amadurecem e perdem sua extensa rede de prolongamentos. Uma vez
na zona T dos linfonodos, apresentam seus antígenos às células
T CD4+, iniciando a resposta imune.
As células
de Langerhans estão presentes na pele, em todas camadas, mas especialmente
na camada espinhosa, situadas entre os queratinócitos (como os melanócitos).
Com técnicas especiais, mostram contorno altamente ramificado do
citoplasma, daí o nome células dendríticas.
Não formam desmossomos nem contêm tonofilamentos. Com microscopia
eletrônica, mostram núcleo muito irregular, com dobras da
membrana nuclear. No citoplasma apresentam estruturas em bastonete,
com estriações transversais e terminações arredondadas,
às vezes bulbosas ou dilatadas (aspecto em raquete de tenis), chamadas
grânulos
de Birbeck. São células envolvidas na resposta
imune, cuja função é apresentar antígenos aos
linfócitos T, e participam de reações cutâneas
de hipersensibilidade, como a dermatite de contato. Dão reação
imunohistoquímica para o antígeno CD1A, que demonstra seus
prolongamentos dendríticos penetrando entre os queratinócitos.
As células de Langerhans estão presentes em número
modesto na pele normal, mas aumentam em quantidade e na complexidade de
seus prolongamentos em dermatites, principalmente na dermatite atópica
crônica.
Histiocitoses
O termo
histiocitose é uma denominação ampla que engloba várias
doenças proliferativas de células dendríticas ou de
macrófagos. Entre elas há um pequeno grupo de doenças
caracterizadas pela proliferação de um tipo especial de célula
dendrítica imatura, a célula de Langerhans. Na maioria dos
casos estas proliferações são monoclonais e, portanto,
provavelmente neoplásicas. No passado, usava-se a denominação
histiocitose
X, dividida em 3 categorias – a doença de Letterer-Siwe,
a doença de Hand-Schüller-Christian e o granuloma eosinófilo.
Hoje são consideradas expressões diferentes da mesma doença.
Nas três, a célula tumoral é derivada de células
dendríticas e expressa HLA-DR, S-100 e CD1a. Tem citoplasma abundante,
às vezes vacuolado, e núcleo vesicular de contorno irregular,
com dobras da membrana nuclear. Em microscopia eletrônica,
mostram no citoplasma os característicos grânulos de Birbeck
– uma estrutura pentalaminar, em forma de bastonete, com dilatações
bulbosas nas extremidades (aspecto em raquete de tenis). O principal
critério diagnóstico é a detecção de
S-100 e CD1a por imunohistoqúimica.
A doença de Letterer-Siwe
é uma histiocitose de
células de Langerhans que tem distribuição multifocal
e multissistemática. Ocorre mais freqüentemente antes dos 2
anos de idade, mas pode afetar adultos. Clinicamente, o aspecto dominante
são lesões cutâneas parecendo uma erupção
seborreica, causada por infiltrados de células de Langerhans na
pele do tronco e do couro cabeludo. Também há hepatoesplenomegalia,
linfonodomegalia, lesões pulmonares e lesões ósseas
destrutivas. Infiltração da medula óssea leva a anemia,
trombocitopenia e leucopenia. Sem tratamento é rapidamente fatal.
Com quimioterapia intensiva consegue-se sobrevida de 50% em 5 anos.
O granuloma eosinófilo
é uma histiocitose de células de Langerhans que tem distribuição
unifocal ou multifocal mas unissistemática. Caracteriza-se por crescimento
expansivo e erosivo de células de Langerhans, geralmente na medula
óssea. Há uma mistura das células de Langerhans com
eosinófilos, linfócitos, plasmócitos e neutrófilos.
O infiltrado de eosinófilos pode variar de proeminente a esparso.
Pode afetar qualquer osso, mas é mais comum na calota craniana,
costelas e fêmur. Estas histiocitoses multifocais unissistemáticas
geralmente afetam crianças, que apresentam múltiplas massas
ósseas erosivas que, às vezes, expandem-se aos tecidos moles.
Em cerca de 50% dos casos há envolvimento do hipotálamo e
hipófise levando a diabetes insipidus. A tríade de
defeitos ósseos na calota craniana, diabetes insipidus e exoftalmia
é referida como doença
de Hand-Schüller-Christian.
Pode haver regressão espontânea ou em resposta a tratamento
quimioterápico.
As histiocitoses
de células de Langerhans
geralmente ocorrem na população pediátrica. Podem
causar lesões osteolíticas no crânio, e estar associadas
a disfunção hipotalâmica, hipertensão intracraniana,
sinais de nervos cranianos e convulsões.
Já
as histiocitoses não Langerhans
são mais raras, mais comuns em localização intracraniana,
podem ser baseadas na dura, são freqüentemente multifocais,
e podem ocorrer em qualquer idade.
A incidência
de histiocitose de células de Langerhans é cerca de 0,2 a
0,5% por 100.000 na população abaixo dos 15 anos, sem predileção
por sexo. A sobrevida de 5 anos é da ordem de 88 % em pacientes
com doença unifocal. Pacientes com doença sistêmica
ou multifocal têm prognóstico pior.
Histologicamente,
a histiocitose de células de Langerhans é caracterizada por
um infiltrado inflamatório misto, e por uma proliferação
de histiócitos do tipo Langerhans, que têm núcleos
excêntricos e convolutos, nucléolos proeminentes e citoplasma
abundante. Marcam-se para S-100 e CD1a. Em microscopia eletrônica,
têm grânulos de Birbeck.
Já
as histiocitoses não Langerhans mostram proliferação
de macrófagos de aspecto convencional, freqüentemente com citoplasma
espumoso, são positivas para CD68 e negativas para CD1a. O diagnóstico
diferencial principal é com linfoma, e com reações
inflamatórias não neoplásicas, inclusive infecções
e doenças desmielinizantes.
Alguns tipos
especiais de histiocitoses não Langerhans:
Doença de Rosai
Dorfman. Nódulos de células
histiocíticas mostrando emperipolese – encontro de linfócitos
ou plasmócitos no citoplasma dos macrófagos. Histiócitos
são CD-68 e S-100 positivos, CD1a negativos. As lesões são
baseadas na dura-máter, impregnam-se por contraste e podem simular
meningiomas.
Doença
de Erdheim – Chester.
É uma histiocitose não Langerhans sistêmica rara, que
envolve múltiplos órgãos e sistemas e causa esclerose
simétrica das metáfises e diáfises de ossos longos.
É marcada por numerosos macrófagos de citoplasma xantomatoso
e núcleos pequenos, células gigantes do tipo Touton, e poucos
linfócitos e eosinófilos. Histiócitos são CD-68
positivos, S-100 e CD1a negativos.
Lachenal
et al. (2006) analizaram 6 casos próprios e 60 da literatura de
doença de Erdheim – Chester com envolvimento neurológico.
Os achados mais comuns foram síndrome cerebelar (41%) e piramidal
(45%), mas houve também convulsões, cefaléia, alterações
cognitivas ou psiquiátricas, distúrbios sensitivos, ou paralisias
de nervos cranianos. As manifestações neurológicas
estavam sempre associadas a envolvimento de outros órgãos,
especialmente ossos (86%), e diabetes insipidus (47%) e foram responsáveis
por óbito em 6/66 casos (9%). Os achados neuroradiológicos
podem ser classificados em 3 padrões: padrão infiltrativo
com lesões disseminadas, inclusive nódulos e massas intracerebrais
(44%); padrão meníngeo com espessamento da dura ou
tumores lembrando meningiomas (37%) e um padrão composto (19%).
.
Linfohistiocitose hemofagocítica
– linfócitos, macrófagos e hemofagocitose. Histiócitos
são variavelmente positivos para CD-68, S-100 e CD1a.
Fontes.
-
Robbins and
Cotran - Pathologic Basis of Disease. 7th Ed. Kumar V, Abbas
AK, Fausto N, Eds. Elsevier, Saunders, Philadelphia. 2005.
-
Prayson RA.
Neuropathology. Elsevier, Churchill-Livingstone, Philadelphia, 2005. pp.
516-9.
-
Lachenal F,
et al. Neurological manifestations and neuroradiological presentation
of Erdheim-Chester disease: report of 6 cases and systematic review of
the literature. J Neurol. 253: 1267-77, 2006
|