CISTOS
ARACNÓIDEOS CONGÊNITOS
São
anomalias do desenvolvimento que não se relacionam
a espessamentos cicatriciais das leptomeninges. Geralmente são fáceis
de distinguir das loculações císticas que aprisionam
LCR na aracnoidopatia adesiva.
Localização.
Cerca de 2/3 são supratentoriais, na região da fissura de
Sylvius, com maior incidência do lado E. Locais bem mais raros
são a convexidade parasagital de um dos hemisférios, a fissura
interhemisférica e região selar e supraselar. Na fossa
posterior estão entre os hemisférios cerebelares ou no ângulo
ponto-cerebelar. Na coluna podem estar em localização intra-
ou extradural. Os intradurais são mais comuns em adultos jovens
ou de meia idade, geralmente posteriores à medula, na região
torácica média ou baixa. Os extradurais são
tipicamente póstero-laterais à dura e também torácicos,
mas há casos lombares. São mais comuns na adolescência.
Estrutura.
Os cistos aracnóideos congênitos intracranianos não
estão no espaço subaracnóideo propriamente dito e
sim entre a face interna da dura (da qual são independentes) e a
aracnóide que recobre a área cerebral a eles adjacente (geralmente
o polo temporal). Os cistos não complicados (sem reação
inflamatória) podem ser facilmente separados da dura e das leptomeninges.
A superfície interna do cisto é revestida por células
aracnóideas em tudo semelhantes às da aracnóide normal,
mas o revestimento pode ser descontínuo. Já a superfície
externa é constituída por uma fina membrana de colágeno
sem as trabeculações características da aracnóide
normal. Quando há células inflamatórias crônicas,
colágeno em excesso ou macrófagos contendo hemossiderina,
isto aponta para etiologia inflamatória ou traumática.
A patogênese
é discutida. Admite-se que os cistos aracnóideos intracranianos
resultem de uma delaminação focal da aracnóide durante
a embriogênese. Na espinha, os cistos intradurais podem resultar
de anormalidades localizadas na distribuição das trabéculas
da aracnóide, ou de uma delaminação focal do septum
posticum, uma estrutura que normalmente divide o espaço subaracnóideo
espinal posterior nas regiões cervical e torácica. Já
os cistos extradurais seriam causados por protrusões da aracnóide
por pontos fracos na dura ao nível da emergência das raízes
espinais. São, na realidade, divertículos de aracnóide
com um colo transdural patente, mas que pode ter-se obliterado após
a formação do cisto. Estes cistos crescem por pulsação
da pressão do LCR a partir do espaço subaracnóideo.
Nos cistos intradurais não é claro se o aumento de volume
se deve a um mecanismo de válvula, ou a mecanismos osmóticos
propiciando passagem de líquor através da membrana intacta.
Clínica.
Os grandes cistos aracnóideos congênitos supratentoriais freqüentemente
se apresentam em crianças com aumento do perímetro cefálico,
disjunção de suturas ou deformidades localizadas do crânio.
Em adultos, grande parte dos pacientes com cistos da convexidade são
assintomáticos, apesar do considerável volume nas imagens
radiológicas. Quando há sintomas, podem consistir de cefaléia,
aumento da pressão intracraniana ou déficits neurológicos
focais. Na fossa posterior causam hidrocefalia obstrutiva, com história
que pode ser episódica ou relacionada à postura, podendo
haver sinais cerebelares ou de nervos cranianos.
Na espinha,
cistos aracnóideos intradurais têm história de dor
nas costas crônica, freqüentemente sem déficits neurológicos.
Na localização extradural, déficits neurológicos
focais são mais comuns, e pode haver associação com
anormalidades ósseas como cifoscoliose.
Macroscopia.
São estruturas arredondadas, saculares, cheias de líquido
claro parecendo líquor. As paredes são finas e transparentes
com superfície lisa. Podem chegar a mais de 10 cm e exercer efeito
de massa. Em crianças pode haver abaulamento dos ossos da convexidade.
Os cistos congênitos são quase sempre estruturas uniloculares
que podem ser facilmente separados das superfícies dural e pial
adjacentes. Não há espessamento ou aderências. Apesar
da derivação leptomeníngea, não estão
anatomicamente em continuidade com o espaço subdural ou com o subaracnóideo.
Já os cistos adquiridos estão associados a aracnoidite adesiva.
Os cistos espinais, tanto extra- como intradurais, são estruturas
em salsicha que se estendem por vários níveis.
Microscopia.
A parede consiste de uma membrana colágena fina e vascularizada,
forrada internamente por uma camada contínua de células achatadas
indistinguíveis das da aracnóide normal, ou por agrupamentos
das mesmas, às vezes formando redemoinhos e corpos psamomatosos.
A cavidade não é atravessada por trabéculas e o fato
da membrana aracnóide circundar totalmente o fluido apóia
a origem em anomalia do desenvolvimento. Nos cistos congênitos não
complicados não há infiltrado inflamatório nem hemorragias.
O cérebro adjacente é normal ou um pouco gliótico
devido à compressão. Nisto se distinguem dos cistos porencefálicos
onde há destruição do parênquima.
Os cistos
aracnóideos diferem dos higromas subdurais por ausência de
cicatrização, infiltrado inflamatório ou hemossiderose.
Os cistos de fossa posterior podem ser confundidos com a síndrome
de Dandy-Walker, mas não estão associados à agenesia
do vermis e a parede do cisto não tem componente neuroglial.
Tratamento.
Excisão cirúrgica da parede do cisto, pois simples punção
leva a reacúmulo do líquido. Nos grandes cistos supratentoriais
só a parte externa da parede do cisto pode ser ressecada com segurança.
Na maioria dos casos há completa cura ou grande melhora. Cistos
espinais extradurais são passíveis de remoção
cirúrgica completa, mas é importante reparar o defeito dural
que deu origem ao cisto.
Fontes:
-
Ironside JW
et al. Diagnostic Pathology of Nervous System Tumours. Chapter 17,
p. 534. Churchill Livingstone, London, 2002.
-
Lantos PL,
Vandenberg SR, Kleihues P. Tumours of the Nervous System. Chapter
9. in Graham DI, Lantos PL: Greenfield’s Neuropathology, 6th Ed,
Vol 2, p. 786-7. Arnold, London, 1997.
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