Comentário.
Este caso ilustra bem a importância da correlação com
exames de neuroimagem para o correto diagnóstico histopatológico.
Histologicamente,
trata-se de um astrocitoma de padrão histológico protoplasmático,
sem áreas pilocíticas e sem fibras de Rosenthal. O material
é escasso e não inclui as margens da lesão. Não
são vistas características agressivas (mitoses, necrose).
Poderia teoricamente tratar-se de um astrocitoma difuso de baixo grau ou
um astrocitoma pilocítico, ambos representados só por áreas
protoplasmáticas. A imunohistoquímica é inconclusiva,
compatível com ambas possibilidades diagnósticas.
Contudo,
pela imagem, trata-se de um tumor bem delimitado, que se impregna fortemente
por contraste. Estas feições são próprias dos
astrocitomas pilocíticos, em que não há barreira hemoencefálica.
Os astrocitomas difusos de baixo grau são mal delimitados e não
se impregnam, a menos que passem a apresentar focos de anaplasia (a partir
de quando não serão mais de baixo grau). O fato de não
se impregnarem indica formação de barreira hemoencefálica
nos vasos do tumor, que é induzida pelos astrócitos
fibrilares.
A distinção
é importante pelo prognóstico muito diferente destes
dois tipos de astrocitoma. Os astrocitomas difusos de baixo grau têm
tendência a aumentar de grau e adquirir características anaplásicas
no decorrer de meses ou anos. Já os astrocitomas pilocíticos
mantêm-se com grau baixo e não adquirem capacidade invasiva
(com raras exceções).
Em uma biópsia
pequena, p. ex. estereotáxica, pode ser difícil fechar o
diagnóstico de astrocitoma como difuso ou pilocítico. Mesmo
astrócitos protoplasmáticos, próprios dos astrocitomas
pilocíticos (nas áreas frouxas, com degeneração
microcística), podem ser ricos em GFAP e imitar astrócitos
do tipo fibrilar. Por outro lado, astrocitomas difusos podem ser
ricos em áreas protoplasmáticas, ao lado de regiões
fibrilares e/ou gemistocíticas. O patologista não deve emitir
seu diagnóstico sem antes consultar, ou, pelo menos, informar-se
sobre os exames de neuroimagem.
O
diagnóstico final deve levar em conta os achados patológicos
e
de imagem,
para evitar erros de tratamento e prognóstico.
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