Fratura e formação de calo ósseo
Lam. A. 384

 
 
            A lâmina  reune material de dois pacientes. Os três fragmentos maiores representam três planos de corte transversal pela mesma fratura, indicada pela linha pontilhada.  Na fratura ainda é possível observar uma pequena área fibrino- hemorrágica (resquício da fase inicial) e tecido de granulação, indicando reparo. De cada lado da fratura há calo provisório, constituído em parte por cartilagem e em parte por osso neoformado (do tipo imaturo ou woven bone).  O osso neoformado se forma tanto a partir da cartilagem (ossificação encondral) como diretamente a partir do tecido de granulação ou de osteoblastos provenientes do tecido ósseo maduro das bordas da fratura (ossificação membranosa). O tecido de granulação é composto por células mesenquimais imaturas, fibroblastos e células endoteliais. 

            O fragmento menor à D, proveniente de outro caso, mostra a evolução do calo cartilaginoso para ósseo, ou seja, demonstra basicamente ossificação encondral. Com o tempo, o calo cartilaginoso seria totalmente substituído por tecido ósseo neoformado, e este  por tecido ósseo maduro ou lamelar que caracterizaria o calo ósseo definitivo (esta última fase não é demonstrada aqui).


 
 
ÁREA  FIBRINO - HEMORRÁGICA

 
 
O calo provisório é uma lesão exuberante, exofítica, que envolve a área fraturada e faz saliência para os tecidos moles adjacentes (músculo esquelético). O calo cartilaginoso leva no mínimo 15 dias, e pode precisar até de 30  a 60 dias para formar-se. Nas figuras abaixo, notar o aspecto anárquico dos condrócitos, que não estão orientados em fileiras como na cartilagem epifisária normal. Vários condrócitos têm aspecto ativo, com núcleos maiores que o habitual. 

 

 
 
SEQÜESTROS  ÓSSEOS

 
 
Na fratura há geralmente necrose de fragmentos ósseos por ruptura de vasos. Esses fragmentos, chamados seqüestros, caracterizam-se pela falta de osteócitos, melhor notada pela falta de núcleos nas lacunas onde estas células estão alojadas. No fragmento ósseo observado acima há uma parte de osso viável, onde se notam os núcleos de osteócitos, e outra onde não há núcleos, constituindo portanto osso necrótico ou seqüestro. Os seqüestros são removidos a partir da periferia pela ação de osteoclastos, que são macrófagos especializados, freqüentemente multinucleados. 

 
 
 
TECIDO  DE  GRANULAÇÃO

 
Na linha da fratura, originalmente preenchida por sangue e fibrina, forma-se após poucas semanas o tecido de granulação, constituído por capilares neoformados, fibroblastos e células mesenquimais imaturas e multipotenciais. Estas têm capacidade para diferenciar-se em condroblastos, que, depositando matriz cartilaginosa, originarão o calo cartilaginoso, ou em osteoblastos, que depositam matriz óssea, originando diretamente osso neoformado (portanto, ossificação membranosa).  O conjunto dos dois tecidos forma o calo provisório da fratura. A parte cartilaginosa do calo origina também tecido ósseo por ossificação encondral. Abaixo, detalhes destes processos. 

 
 
NO PAR DE FOTOS ACIMA, O MESMO TECIDO  DE  GRANULAÇÃO  ORIGINA CARTILAGEM À ESQUERDA E  OSSO À DIREITA (OSSIFICAÇÃO  MEMBRANOSA).  O CAPILAR MARCADO COM ASTERISCO É O MESMO NAS DUAS FOTOS. ISTO ILUSTRA O CARÁTER PLURIPOTENCIAL DAS CÉLULAS MESENQUIMAIS IMATURAS QUE COMPÕEM O TECIDO DE GRANULAÇÃO. 

 
 
OSSIFICAÇÃO  MEMBRANOSA    (FORMAÇÃO  DE  TECIDO  ÓSSEO 
DIRETAMENTE  A  PARTIR  DO  TECIDO  DE  GRANULAÇÃO)

 
 
Na primeira fase da ossificação membranosa, as células imaturas do tecido de granulação se diferenciam em osteoblastos e passam a sintetizar matriz óssea, que consiste de fibras colágenas e proteoglicanas de constituição química adequada a receber sais de cálcio.  As fibras colágenas se dispõem em feixes orientados em várias direções. Com a mineralização, passam a formar o osso imaturo ou woven bone (pode traduzir-se por osso 'trançado', devido à distribuição irregular das fibras na matriz). 
 
Numa  segunda fase, o osso imaturo será aparado por osteoclastos, e novas etapas de ossificação vão se seguir através  de osteoblastos dispostos em uma camada na superfície da nova trabécula óssea. O limite entre a matriz óssea já existente e a recém depositada é nítida e chamada linha cementante. Após vários ciclos de deposição e remoção chega-se ao calo ósseo definitivo, que será constituído por  osso lamelar ou maduro (fase esta não atingida no presente material).

 
 
DEPOSIÇÃO  DE  MATRIZ  ÓSSEA  POR  OSTEOBLASTOS.   Os osteoblastos depositam matriz óssea na superfície da nova trabécula. Têm núcleo volumoso e nucléolo evidente, demonstrando ativa síntese proteica. O citoplasma tende a acidófilo devido à riqueza em filamentos intermediários (também estes material proteico). À medida que sintetizam matriz são envolvidos por ela e incorporados à trabécula, passando a chamar-se osteócitos. Os osteócitos são menores, têm núcleo mais compacto que o dos osteoblastos, e ficam alojados em pequenas cavidades no seio da matriz óssea.
 
AÇÃO  DE  OSTEOCLASTOS.  Os osteoclastos continuamente aparam e desbastam as trabéculas neoformadas. Sua ação faz contraponto com a dos osteoblastos, permitindo a moldagem das novas trabéculas segundo as linhas de força.  Os osteoclastos são atraídos por mediadores químicos sintetizados pelos próprios osteoblastos. Assim, quando aumenta a quantidade de osteoblastos aumentam também os osteoclastos. 



 
 
OSSIFICAÇÃO  ENCONDRAL  (FRAGMENTO MENOR)

 

 
 
ALTERAÇÕES  DEGENERATIVAS  NA  CARTILAGEM.  Na ossificação encondral observada em uma fratura, tecido cartilaginoso é substituído por tecido ósseo imaturo. O processo é semelhante ao observado na placa epifisária durante o crescimento de ossos longos. Porém, nesta última, as células cartilaginosas estão orientadas em colunas. No calo cartilaginoso de uma fratura as células estão desordenadas.  No início da ossificação encondral há deposição de cálcio na matriz cartilaginosa. Isto prejudica a nutrição dos condrócitos, que degeneram. Seus núcleos ficam picnóticos, e sofrem cariolise. 
 
AÇÃO  DE  OSTEOCLASTOS.   A matriz cartilaginosa parcialmente calcificada e restos necróticos de condrócitos são removidos por osteoclastos. 
 
SUBSTITUIÇÃO  DA  CARTILAGEM   POR  OSSO  NEOFORMADO. Simultaneamente à remoção da cartilagem degenerada, os osteoblastos depositam matriz óssea, como já visto na ossificação membranosa (acima). 

 
A. 384. Reparo de fratura e formação de calo ósseo. Dois pacientes do sexo masculino, idades 23 e 28 anos, envolveram-se em acidente automobilístico há 40 dias, no qual sofreram múltiplas fraturas de ossos longos dos membros inferiores. 
            A lâmina corresponde a material da zona de fratura de ambos pacientes. Observar tecido de granulação em vários pontos, composto por células mesenquimatosas, fibroblastos e capilares neoformados. A área fibrino-hemorrágica remanescente é encontrada só em pequeno foco. Chama a atenção a neoformação óssea regenerativa que surge a partir do tecido mesenquimatoso ou de granulação (ossificação membranosa) e a partir de tecido cartilaginoso (ossificação encondral). As traves ósseas são imaturas (woven bone), não lameladas e envoltas por rima de osteoblastos e osteoclastos. Notam-se osteócitos em lacunas no interior da matriz óssea. É possível verificar várias fases da aposição óssea, marcadas através de uma linha basófila denominada linha cementante. 

 
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