Osteomielite  crônica
Lam. A. 158

 
 
A lâmina consiste de fragmentos de osso esponjoso.  Alguns são de tecido ósseo normal. Em outros, nota-se exsudato purulento na medula, caracterizando uma osteomielite, que é um processo inflamatório supurativo, que causa destruição óssea e formação de fragmentos necróticos chamados seqüestros. Em ainda outros fragmentos, o processo dominante é de reparo, levando a neoformação óssea e hiperostose.  Há, portanto, componentes agudo e crônico simultaneamente. Isto é próprio da osteomielite bacteriana, que pode arrastar-se por anos, levando a considerável destruição e remodelação ósseas. 
Obs. : este material foi descalcificado por imersão em ácido nítrico antes da inclusão em parafina.  Para um fragmento de osso não descalcificado, ver a lâmina de mieloma múltiplo, A. 53

 
 
OSSO  ESPONJOSO E MEDULA ÓSSEA AMARELA  NORMAIS

 
O osso esponjoso normal consiste de trabéculas alongadas, arranjadas segundo linhas de tensão, e aqui seccionadas em vários planos. A medula óssea neste exemplo não contém tecido hemopoético, apenas adipócitos (medula óssea amarela).  Para medula óssea hemopoeticamente ativa (vermelha), ver lâmina A. 356

 
 
 
AS  TRABÉCULAS   ÓSSEAS  do osso esponjoso normal são constituídas por fibras colágenas (colágeno tipo I) e substância fundamental (proteoglicanas) depositadas por osteoblastos presentes no endósteo e posteriormente mineralizadas (deposição de hidroxiapatita). À medida que vão sintetizando as proteínas, os osteoblastos ficam envoltos por elas e terminam por ocupar pequenas cavidades no interior da trabécula. A partir deste ponto passam a chamar-se osteócitos. São notados por pequenos núcleos de cromatina muito condensada.  A deposição das fibras colágenas da matriz óssea se dá de forma lenta e ao longo de linhas de tensão, criando a estrutura lamelar do osso esponjoso (também presente no osso cortical ou compacto).  A presença de lamelas indica osso maduro.  As trabéculas mais finas são avasculares, recebendo nutrição pelos vasos da medula. 



 
OSTEOMIELITE   PURULENTA  AGUDA
SEQÜESTROS  ÓSSEOS
AÇÃO  DOS  OSTEOCLASTOS

 

 
 
EXSUDATO FIBRINO-PURULENTO. 
 
SEQÜESTROS. A formação de seqüestros é uma importante feição das osteomielites crônicas. Seqüestros são fragmentos de osso necrótico originados de trabéculas ósseas. A necrose decorre de vários fatores: 
a) lesão vascular extrínseca: compressão extrínseca de vasos por abscessos subperiosteais ou pressão do exsudato sobre os vasos na própria medula óssea, reduzindo o lumen (efeito de garroteamento); 
b) lesão vascular intrínseca: endarterite produtiva pelo processo inflamatório e obstrução por êmbolos bacterianos;
c) digestão da matriz óssea por enzimas proteolíticas dos neutrófilos e das bactérias, e d) ação de osteoclastos, que vão erodindo as trabéculas. 
O seqüestro fica solto em meio ao exsudato, não apresenta osteócitos viáveis (não se observam os núcleos nas cavidades onde deveriam estar) e a borda do seqüestro é indentada ou irregular, devido à fagocitose pelos osteoclastos.

 
 
OSTEOCLASTOS  VS  OSTEOBLASTOS.    Na osteomielite há contínua reabsorção de trabéculas e deposição de matriz óssea neoformada. O primeiro processo deve-se à ação de osteoclastos, e o segundo a  osteoblastos.   Os osteoclastos são macrófagos, freqüentemente multinucleados. A região reabsorvida aparece como uma indentação onde se aloja a célula.  Os osteoclastos reabsorvem o osso necrótico e ajudam a criar os seqüestros ao separar fragmentos a partir das trabéculas. Contudo, também atuam no tecido vivo, sendo essenciais no processo de remodelação óssea normal. Neste caso, após a reabsorção do tecido ósseo pelos osteoclastos, novas camadas de matriz são depositadas pelos osteoblastos, deixando entre a matriz neoformada e a antiga uma linha bem marcada e basófila denominada linha cementante (assim chamada por sua semelhança com o cemento dentário, componente da raíz dos dentes). A matriz neoformada tem cor fortemente eosinófila e não apresenta lamelas, sendo homogênea (conhecida em inglês como woven bone).  Os dois processos em seqüência são demonstrados na figura abaixo.
 

OSTEOCLASTOS



 
OSTEOMIELITE  CRÔNICA
NEOFORMAÇÃO  ÓSSEA,   HIPEROSTOSE
AÇÃO  DOS  OSTEOBLASTOS

 
 
ÁREA  DE  OSTEOMIELITE  CRÔNICA.   Se há cronificação da osteomielite, há substituição do infiltrado neutrofílico por reação inflamatória crônica inespecífica, com predomínio de plasmócitos. Estes se caracterizam pelo citoplasma fortemente basófilo e núcleo excêntrico. Posteriormente, ocorrerá fibrose dos espaços medulares

 

ÁREA  DE FIBROSE DA MEDULA  E DE NEOFORMAÇÃO ÓSSEA.


 
 
NEOFORMAÇÃO  ÓSSEA.  A reação inflamatória crônica acompanha-se de  deposição de osso novo.  Nestas regiões, há síntese de novas trabéculas pelos osteoblastos, constituindo uma forma de reparo.  As novas trabéculas são mais irregulares e mais celulares que as normais (contêm mais osteócitos). A matriz óssea neoformada não mostra as lamelações características do osso maduro, sendo as fibras colágenas orientadas mais ou menos ao acaso (daí o termo em inglês woven bone). 
 
Neste outro segmento, a deposição de matriz óssea estimulada pelo processo inflamatório crônico ocorreu por mais tempo, levando a grande espessamento das trabéculas e correspondente redução dos espaços medulares (hiperostose).  A interface entre a medula óssea e a trabécula freqüentemente mostra fileiras de osteoblastos, que estão sintetizando matriz nova.  A medula óssea neste fragmento não apresenta mais exsudato purulento. Há tecido de granulação evoluindo para fibrose, o que indica a cronificação do processo. 

 
 
AÇÃO  DOS  OSTEOBLASTOS.   Osteoblastos são as células conjuntivas que sintetizam e depositam matriz óssea. Esta é constituída de proteínas (principalmente colágeno tipo I) e proteoglicanas quimicamente adequadas à futura calcificação. Os osteoblastos são poligonais ou cúbicos e têm citoplasma acidófilo, devido à riqueza em filamentos intermediários do citoesqueleto. Nas células mais ativas, o núcleo mostra proeminente nucléolo (sugerindo intensa síntese proteica). Os osteoblastos dispõem-se em fileiras ao longo da trabécula óssea preexistente e adicionam matriz nova.  O limite entre a matriz antiga e a nova é marcada pela linha cementante, distinta por tonalidade basófila mais intensa. A medida que os osteoblastos produzem matriz, vão sendo envolvidos por ela e se transformam em osteócitos. O osso neoformado é mais celular que o pré-existente, pela maior quantidade de osteoblastos em relação à de matriz. 

 
 

OSSO  LAMELAR  OU MADURO 
VS. 
OSSO  NEOFORMADO

As linhas cementantes  (de cor arroxeada) marcam o limite entre a porção antiga da trabécula, constituída por osso lamelar, e o osso novo, recém-depositado pelos osteoblastos.  No osso antigo há lamelas porque as fibras colágenas estão orientadas segundo linhas de stress. Na matriz nova isto ainda não ocorreu, por isso o aspecto é amorfo.  O osso novo é também chamado osso não lamelar [em inglês, woven bone,  (tradução: osso trançado) em contraposição a lamellar bone]

 
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