Os casos clínicos contidos neste site são fruto das reuniões semanais da Prof. Dra. Liliana De Angelo Andrade com os residentes do Departamento de Anatomia Patológica. O objetivo do site é difundir o conhecimento sobre o assunto ajudando estudantes, residentes e profissionais a manterem-se constantemente atualizados.
Caso 175: 50 anos, com citologia cérvico-vaginal alterada, foi submetida à conização.
Descrição microscópica: no cone de colo uterino observam-se áreas de substituição abrupta do epitélio endocervical normal por epitélio atípico, com estratificação de núcleos, hipercromatismo nuclear, corpos apoptóticos e figuras de mitose, correspondendo ao adenocarcinoma in situ (Fig. 1 e 2). Em outras áreas, o adenocarcinoma in situ tem glândulas atípicas com maior complexidade e arranjo cribriforme (Fig. 3). Nas Fig. 4 e 5, notam-se brotamentos celulares invadindo o estroma, que reage com resposta desmoplásica ao redor. No detalhe (Fig. 6), observam-se atipias nucleares, corpos apoptóticos e figuras de mitose, aspectos morfológicos associados ao adenocarcinoma endocervical usual, associado ao HPV. A avaliação da profundidade máxima de invasão é mais difícil de ser medida no adenocarcinoma e está indicado medir a espessura máxima da lesão, que foi de 1 mm (Fig. 7). Não foram observados êmbolos carcinomatosos.
Diagnóstico: Adenocarcinoma endocervical do tipo usual (HPV associado), com invasão superficial do estroma, de cerca de 1 mm de profundidade máxima (Estádio Ia1, FIGO). Padrão arquitetural B de invasão de Silva. Áreas de adenocarcinoma in situ associadas. Margens de ressecção ecto e endocervical do cone: livres de lesão. Ausência de êmbolos carcinomatosos..
Comentário: Recentemente foi observado que mais importante do que a profundidade máxima de invasão, o padrão arquitetural da invasão tem relação com a presença de metástases em linfonodos. Assim, foi elaborado o sistema de classificação do Prof. Elvio Silva, patologista do MD Anderson, que classifica os adenocarcinomas endocervicais, associados ao HPV, em 3 grupos distintos: A, B, C. No grupo A, não existe invasão destrutiva e também não há metástases em linfonodos; no grupo B, a partir de um padrão A, ocorre invasão destrutiva de células isoladas ou de agrupamentos celulares, como neste caso. O risco de metástase linfonodal no grupo B é de 4,4%. O grupo C tem invasão destrutiva difusa e se associa a comprometimento de linfonodos em 24%. Esta classificação pretende evitar linfadenectomia em tumores com invasão inicial, diminuindo a morbidade pós-operatória.