Departamento de Anatomia Patológica

Patologia Ginecológica

         Os casos clínicos contidos neste site são fruto das reuniões semanais da Prof. Dra. Liliana De Angelo Andrade com os residentes do Departamento de Anatomia Patológica. O objetivo do site é difundir o conhecimento sobre o assunto ajudando estudantes, residentes e profissionais a manterem-se constantemente atualizados.



Caso 155: 49 anos, com sangramento irregular, foi feita curetagem uterina, com diagnóstico de adenocarcinoma do endométrio. Ao exame físico, ovário direito aumentado de volume. Foi submetida à histerectomia com salpingo-ooforectomia bilateral. O exame da peça cirúrgica mostrou colo uterino com área de ulceração, mucosa endometrial espessada, com 10mm de espessura e tumor de ovário direito com 18x10cm e superfície externa lisa.


Figura 1



Figura 2



Figura 3



Figura 4



Figura 5



Figura 6



Figura 7


Descrição microscópica: O material da curetagem mostrou neoplasia maligna com formação de glândulas bem diferenciadas e com aspecto papilífero (Fig. 1). Foram observados citoplasma finamente granular e frequentes mitoses altas nas células neoplásicas, sendo o aspecto morfológico suspeito de neoplasia primária do colo uterino (Fig.2). O estudo imuno-histoquímico mostrou positividade para p16, positividade focal para receptor de estrógeno e p53 negativo (Fig. 3). Este perfil favoreceu a origem endocervical da neoplasia. Na peça cirúrgica, o colo apresentou neoplasia glandular, francamente infiltrativa e ulcerada, com frequentes êmbolos carcinomatosos (Fig. 4). A região ístmica estava envolvida pelo tumor que também revestia superficialmente a cavidade endometrial, sem invadir o miométrio (Fig. 5). No ovário tumoral, o aspecto morfológico da neoplasia era o mesmo do observado no colo uterino (Fig. 6). Foi feito estudo imuno-histoquímico no tumor de ovário, que demonstrou CK7 e p16 positivo difuso (Fig 7) e negatividade para CK20 e para Cdx-2, comprovando a origem cervical do tumor do ovário.

Diagnóstico: Adenocarcinoma endocervical do tipo viloglandular do colo uterino, com múltiplos êmbolos carcinomatosos. Extensão da neoplasia para região ístmica e revestimento superficial da cavidade endometrial pela neoplasia, sem invasão do miométrio. Metástase do adenocarcinoma do colo uterino para o ovário direito.

Comentário: Este caso é mais complexo e demonstra como devemos ser cuidadosos na interpretação do diagnóstico de adenocarcinoma em curetagem. Em um primeiro momento, o material da curetagem foi considerado como adenocarcinoma de origem endometrial, entretanto, alguns aspectos morfológicos sugeriram origem endocervical, que foi comprovada na peça de histerectomia e pelas reações imuno-histoquímicas. Além disso, o tumor atapetava o epitélio da cavidade endometrial e produziu metástase para o ovário direito. Mais um ponto importante deste caso é o diagnóstico diferencial entre adenocarcinoma mucinoso primário do ovário e metástase ovariana, que é mais frequente que o adenocarcinoma mucinoso primário do ovário.